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Golpista recebe bênção do rei na Tailândia
General consolida poder, determina redação de nova Constituição e diz que eleição deverá ocorrer em outubro de 2007
Apesar dos tanques nas ruas, clima no país é de calma; reação internacional é tímida, com pedidos para restauração da democracia
DA REDAÇÃO
Sob tímidos protestos internacionais, o general que tomou
o poder na segunda-feira sugeriu ontem que a democracia só
deverá ser totalmente restabelecida na Tailândia dentro de
um ano. Sondhi Boonyaratkalin, chefe das Forças Armadas,
anunciou que em duas semanas
será nomeado um primeiro-ministro interino para ocupar o
cargo que ele assumiu por meio
de um golpe.
O sucesso do golpe foi selado
pelo apoio dado pelo popular
rei Bhumibol Adulyadej ao general como o líder da junta militar que passou a controlar o
país. "Para criar paz no país, o
rei aponta o general Sondhi
Boonyaratkalin como o chefe
do Conselho de Reforma Administrativa", explicou um comunicado do palácio real lido ontem na TV estatal. "Todas as
pessoas devem permanecer pacíficas e os servidores públicos
de agora em diante devem obedecer às ordens do general."
A reação à tomada do poder,
que teve o envio de tropas às
ruas, mas não envolveu violência, foi de calma interna e protestos moderados da comunidade internacional. O governo
americano criticou o golpe e
sugeriu que as relações de cooperação comercial e militar entre os EUA e a Tailândia poderiam sofrer danos. "É um retrocesso para a democracia", lamentou Tom Casey, do Departamento de Estado.
A Europa reagiu de forma um
pouco mais firme, com um chamado à volta dos tanques aos
quartéis para "abrir caminho
ao governo democraticamente
eleito". Em comunicado divulgado por sua Presidência,
atualmente ocupada pela Finlândia, a União Européia condenou "a tomada do poder" por
forças militares.
Alívio
Nas ruas da capital, tomadas
pelos tanques, a atmosfera era
de calma, quase de alívio, conforme relato dos enviados das
agências internacionais. Para
muitos, o golpe foi a melhor solução para resolver um impasse
político que se arrastava há meses, com manifestações nas
ruas para que o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra renunciasse. Acusado de corrupção e favorecimento político,
Thanksin estava em Nova York
para participar da abertura da
Assembléia Geral da ONU
quando ocorreu o golpe. Ontem
ele desembarcou em Londres
para "uma visita pessoal".
Falando à imprensa pela primeira vez desde que tanques e
tropas sob seu comando tomaram as ruas da capital, o general
Sondhi apresentou um calendário para a restauração da democracia no país, que inclui a
nomeação de um premiê interino dentro de duas semanas e a
elaboração, pelos golpistas, de
uma nova Constituição.
"A redação de uma nova
Constituição não deve levar
mais de um ano", disse Sondhi.
Novas eleições deverão ser realizadas em outubro de 2007. A
junta chefiada por Sondhi tomou algumas medidas para
consolidar seu poder, proibindo encontros públicos, ameaçando bloquear as telecomunicações e exortando "camponeses e operários" -muitos deles
simpatizantes do governo deposto- a ficar fora da política.
"Fizemos o que era preciso,
antes que a situação saísse do
controle", disse o general, segundo o qual o primeiro golpe
em 15 anos na Tailândia foi necessário para " reduzir as divisões na sociedade, pôr fim à
corrupção no governo e os insultos ao rei", e para evitar o
que chamou de "destruição da
democracia tailandesa".
A presença do Exército nas
ruas foi recebida com naturalidade, num clima de feriado que
se instalou no país devido ao fechamento de escolas, do mercado de ações e de órgãos do governo, que serão reabertos hoje. Com a Bolsa de Bancoc fechada pelo segundo dia consecutivo, ainda era difícil avaliar
ontem o impacto econômico
interno do golpe. A moeda nacional (baht) teve leve queda.
De modo geral, porém, a região
pouco foi afetada.
"A economia da Tailândia
tem fundamentos fortes", disse
o espanhol Rodrigo de Rato,
chefe do FMI. Desde 1999, o
país cresce a taxas de 5%
anuais.
Com agências internacionais
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