São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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Golpista recebe bênção do rei na Tailândia

General consolida poder, determina redação de nova Constituição e diz que eleição deverá ocorrer em outubro de 2007

Apesar dos tanques nas ruas, clima no país é de calma; reação internacional é tímida, com pedidos para restauração da democracia

DA REDAÇÃO

Sob tímidos protestos internacionais, o general que tomou o poder na segunda-feira sugeriu ontem que a democracia só deverá ser totalmente restabelecida na Tailândia dentro de um ano. Sondhi Boonyaratkalin, chefe das Forças Armadas, anunciou que em duas semanas será nomeado um primeiro-ministro interino para ocupar o cargo que ele assumiu por meio de um golpe.
O sucesso do golpe foi selado pelo apoio dado pelo popular rei Bhumibol Adulyadej ao general como o líder da junta militar que passou a controlar o país. "Para criar paz no país, o rei aponta o general Sondhi Boonyaratkalin como o chefe do Conselho de Reforma Administrativa", explicou um comunicado do palácio real lido ontem na TV estatal. "Todas as pessoas devem permanecer pacíficas e os servidores públicos de agora em diante devem obedecer às ordens do general."
A reação à tomada do poder, que teve o envio de tropas às ruas, mas não envolveu violência, foi de calma interna e protestos moderados da comunidade internacional. O governo americano criticou o golpe e sugeriu que as relações de cooperação comercial e militar entre os EUA e a Tailândia poderiam sofrer danos. "É um retrocesso para a democracia", lamentou Tom Casey, do Departamento de Estado.
A Europa reagiu de forma um pouco mais firme, com um chamado à volta dos tanques aos quartéis para "abrir caminho ao governo democraticamente eleito". Em comunicado divulgado por sua Presidência, atualmente ocupada pela Finlândia, a União Européia condenou "a tomada do poder" por forças militares.

Alívio
Nas ruas da capital, tomadas pelos tanques, a atmosfera era de calma, quase de alívio, conforme relato dos enviados das agências internacionais. Para muitos, o golpe foi a melhor solução para resolver um impasse político que se arrastava há meses, com manifestações nas ruas para que o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra renunciasse. Acusado de corrupção e favorecimento político, Thanksin estava em Nova York para participar da abertura da Assembléia Geral da ONU quando ocorreu o golpe. Ontem ele desembarcou em Londres para "uma visita pessoal".
Falando à imprensa pela primeira vez desde que tanques e tropas sob seu comando tomaram as ruas da capital, o general Sondhi apresentou um calendário para a restauração da democracia no país, que inclui a nomeação de um premiê interino dentro de duas semanas e a elaboração, pelos golpistas, de uma nova Constituição.
"A redação de uma nova Constituição não deve levar mais de um ano", disse Sondhi. Novas eleições deverão ser realizadas em outubro de 2007. A junta chefiada por Sondhi tomou algumas medidas para consolidar seu poder, proibindo encontros públicos, ameaçando bloquear as telecomunicações e exortando "camponeses e operários" -muitos deles simpatizantes do governo deposto- a ficar fora da política.
"Fizemos o que era preciso, antes que a situação saísse do controle", disse o general, segundo o qual o primeiro golpe em 15 anos na Tailândia foi necessário para " reduzir as divisões na sociedade, pôr fim à corrupção no governo e os insultos ao rei", e para evitar o que chamou de "destruição da democracia tailandesa".
A presença do Exército nas ruas foi recebida com naturalidade, num clima de feriado que se instalou no país devido ao fechamento de escolas, do mercado de ações e de órgãos do governo, que serão reabertos hoje. Com a Bolsa de Bancoc fechada pelo segundo dia consecutivo, ainda era difícil avaliar ontem o impacto econômico interno do golpe. A moeda nacional (baht) teve leve queda. De modo geral, porém, a região pouco foi afetada.
"A economia da Tailândia tem fundamentos fortes", disse o espanhol Rodrigo de Rato, chefe do FMI. Desde 1999, o país cresce a taxas de 5% anuais.


Com agências internacionais


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