São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Polarização e tamanho de crise freiam avanço de Obama

Inexperiência também pesa para que crescimento de opositor em meio ao colapso financeiro sob o atual governo ainda seja tímido

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Embora a história americana mostre que a oposição se beneficia de crises econômicas ocorridas em meio a eleições, o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, ainda não parece computar lucros com a turbulência financeira que derruba gigantes de Wall Street.
Ao final de uma semana de catástrofe no mercado, Obama, apesar de avanço recente, voltou à posição que já ocupava no começo de agosto, antes das convenções partidárias, com média de vantagem de dois pontos sobre o republicano John McCain (47,3% a 45,4%, segundo o Real Clear Politics).
Apesar de ser cedo para sentir todo o efeito da crise econômica nas pesquisas eleitorais, para o especialista em política Robert Shapiro, da Universidade Columbia, o democrata tem culpa na timidez da alta. "McCain foi inconstante, mas não está claro se Obama se mostrou mais preparado. Ele não tem um plano pronto e adequado para responder aos problemas financeiros", diz.
Anteontem, Obama declarou que iria esperar o detalhamento da proposta da Casa Branca para resgatar Wall Street antes de divulgar seu plano.
Mas, para Michael Cohen, analista político da New American Foundation, é preciso considerar a divisão acirrada do eleitorado americano entre republicanos e democratas na análise das pesquisas. Assim, a atual vantagem de Obama é boa notícia para sua campanha.
"Quem achou que Obama venceria por dez pontos estava se enganando. Nas duas últimas eleições, não houve diferença de mais de dois pontos percentuais entre o ganhador e o perdedor. O país está profundamente dividido, e, se um candidato tiver vantagem de quatro ou cinco pontos, já será uma vitória arrasadora", disse.
Cohen acredita que a alta de Obama se deva mais ao desgaste de McCain após a Convenção Republicana do que à crise.
"O maior problema de Obama é a idéia de que ele não é experiente o suficiente para ser presidente", diz Cohen. "Mas, se ele for bem nos debates que começam nesta semana, poderá superar isso." O primeiro debate entre os candidatos está marcado para esta sexta-feira.

Decisão tomada
Na última quarta-feira, um levantamento "USA Today"/ Gallup perguntou aos americanos como a crise estava afetando sua escolha de candidato.
Para 43% dos entrevistados, o colapso do mercado não teria efeito em sua decisão. Outros 29% disseram que a crise os deixou mais propensos a votar em Obama, e 23%, em McCain.
Para os analistas, o resultado mostra que Obama terá mais dificuldades em lucrar com a crise do que outros candidatos de oposição em épocas de recessão. Um exemplo é o ex-presidente Bill Clinton, em 1992.
"Naquela época, o país vivia uma recessão relativamente comum", diz Shapiro. "A crise agora é tão mais complicada que é muito mais difícil oferecer um plano eficiente" -o sistema de crédito, que ruiu, é um pilar da economia dos EUA.

Falha republicana
Enquanto isso, McCain enfrenta seus próprios problemas. Seus discursos foram incoerentes: na última semana, depois de dizer que "os fundamentos da economia americana continuam fortes", ele contradisse todo um histórico de desregulamentador, passando a pregar maior supervisão dos mercados, além de não se decidir quanto ao apoio ao plano de resgate do governo para instituições financeiras.
Para Cohen, o republicano "apostou sua campanha na idéia de integridade pessoal. Não se planejou para oferecer respostas econômicas e agora está pagando o preço".
Mas a dificuldade, para ele, vai muito além do candidato: "O Partido Republicano está tão ligado a um tipo de ortodoxia econômica -que rejeita intervenções- que não têm uma boa mensagem a oferecer quando a economia desanda".
McCain, para o analista, evita abordar as intervenções por medo de iriam irritar a base do partido, conservadora na área fiscal. "Mas isso o deixa com um repertório limitado."


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