São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

"O povo precisa delas desesperadamente", diz conselheiro de segurança; não há notícias sobre refém iraquiana

Iraque pede que ONGs permaneçam no país

DA REDAÇÃO

Um dia após o seqüestro da diretora da organização humanitária Care International, uma autoridade do governo interino pediu que as agências de ajuda não deixem o Iraque.
"Se elas saírem, será exatamente o que os terroristas e esses criminosos querem. O povo iraquiano precisa delas desesperadamente", disse Muffawaq al Rubaiye, conselheiro de segurança nacional do Iraque, à rádio BBC 5.
Margaret Hassan, diretora das operações da Care International no Iraque, foi seqüestrada anteontem em Bagdá. A agência, uma das maiores do mundo, com projetos humanitários em 72 países, já anunciou que está paralisando temporariamente suas atividades no Iraque.
Muitas organizações não-governamentais já se retiraram do país desde o início da onda de seqüestros de estrangeiros, em abril. Após a captura das italianas Simona Torretta e Simona Pari em setembro, as ONGs chegaram a cogitar uma saída total.
Em comunicado, o governo iraquiano condenou a ação dos terroristas: "Margaret Hassan é uma cidadã iraquiana e passou os últimos 30 anos trabalhando sem descanso para melhorar os serviços básicos dos iraquianos. Seu seqüestro é uma prova clara das más intenções dos terroristas que se chamam "mujahidin" [guerreiros santos] e um insulto ao islã e ao Iraque, especialmente durante o mês sagrado do Ramadã."
No início de 2003, dois meses antes da invasão americana no Iraque, Hassan esteve na ONU e alertou o Conselho de Segurança sobre a "catástrofe humanitária" que se abateria sobre o país caso houvesse a guerra.
Até o momento, o grupo de seqüestradores não se identificou nem apresentou exigências para libertá-la. Margaret Fitzsimons nasceu na Irlanda e também tem as nacionalidades britânica e iraquiana -ela adotou o nome Hassan após se casar com um economista iraquiano que conheceu em um campo de refugiados palestinos no Líbano. Ela mora no Iraque há mais de 30 anos.
Em entrevista à rede de TV Al Arabiya, Tahseen Ali Hassan disse que sua mulher não havia recebido ameaças. "Em nome da humanidade, do islã e da fraternidade, apelo aos seqüestradores para libertá-la, porque ela nada tem a ver com política", afirmou.
O premiê irlandês, Bertie Ahern, prometeu "remover montanhas", e seu par britânico, Tony Blair, disse estar fazendo "todo o possível" para conseguir a libertação da refém, uma das mais proeminentes agentes humanitárias que trabalham no Oriente Médio. O irlandês Niall Andrews, membro do Parlamento Europeu, disse que trabalhou com Hassan em várias viagens ao Iraque nos anos 90 e que a considera "a coisa mais próxima de Madre Teresa".
Em um hospital de Bagdá, pacientes fizeram um protesto contra o seqüestro de Hassan. "Ela reconstruiu este hospital em cooperação com a equipe médica. Sem a sua ajuda, não podemos fazer nada", afirmou Mehdi Jaffa, um dos pacientes.
Dois engenheiros egípcios de uma companhia de telefonia celular foram soltos ontem após passarem quase um mês em cativeiro. Segundo um funcionário da empresa, os dois foram libertados graças à intervenção do grupo extremista Tawhid e Jihad, liderado pelo terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi. O funcionário não disse se houve o pagamento de resgate. Neste ano, mais de 150 estrangeiros já foram seqüestrados no Iraque.


Com agências internacionais


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