São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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Militar se diz culpado por Abu Ghraib

DA REDAÇÃO

O sargento americano Ivan Frederick, militar de mais alto grau envolvido no escândalo da prisão iraquiana de Abu Ghraib, declarou-se ontem, perante a corte marcial, culpado de oito acusações de maus-tratos de prisioneiros, em depoimento.
As acusações incluem conspiração, abandono de dever, maus-tratos e cometimento de ato indecente em três incidentes em outubro e novembro do ano passado.
Em acordo com os advogados, o sargento de Buckingham (Virgínia) negou outras acusações. Frederick pode pegar até 11 anos de prisão em sentença que sai hoje.
Num dos incidentes, Frederick, 38, disse ter observado um grupo de presos com sacos na cabeça ser forçado a se masturbar, enquanto outros soldados tiravam fotos.
O sargento também admitiu ter pulado sobre uma pilha de detentos nus, pisado sobre pés e mãos dos presos e socado um detento no peito tão fortemente que este precisou de atendimento médico.
Um dos detentos, forçado a simular posições sexuais humilhantes e a se masturbar, depôs contra o sargento. "Estava chorando, queria me matar. Senti-me humilhado, mas não tinha nada com que tirar a vida", disse.
"Estava errado no que fiz e não deveria ter feito", disse Frederick em seu depoimento, segundo a agência Associated Press. "Sabia que era uma forma de abuso."
O sargento também culpou seu comando. Afirmou não ter recebido treinamento nem apoio na supervisão dos detentos e só ter tido instruções sobre maus-tratos após os abusos terem ocorrido, entre outubro de dezembro do ano passado. "Não tive apoio quando levei o assunto a meu comando. Disseram para eu fazer o que a MI [inteligência militar] havia dito para fazer", afirmou. Segundo o sargento, as instruções incluíam despir os detentos e privá-los de sono ou de cigarros.
"A nudez era para humilhá-los e degradá-los para fins de inteligência militar. Era muito embaraçoso para um árabe ser visto nu por um outro", disse Frederick.
"Acho que ninguém se importava com o que acontecia aos detentos contanto que eles não morressem", afirmou.
Dentre os sete militares americanos acusados de envolvimento no caso, Frederick é o terceiro a ser levado a corte marcial pelo escândalo de Abu Ghraib, que veio à tona em abril. Os dois primeiros, Jeremy Sivits e Armin Cruz, também se declararam culpados e receberam sentenças de oito meses a um ano de prisão.
Em agosto, relatório independente responsabilizou toda a cadeia de comando militar dos EUA, até o Pentágono, pelos abusos na prisão iraquiana.


Com agências internacionais

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