São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004

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Reuniões sem fim marcam entrevista

DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Entrevistar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, um dos líderes políticos mais importantes e, portanto, ocupados do mundo, não é tarefa fácil. Isso dito, a reportagem da Folha sentiu, na prática, que as dificuldades são ainda mais concretas do que imaginava.
Após meses de reuniões com diplomatas russos no Brasil, nas quais o escopo e o tom das perguntas tiveram de ser adaptados ao nível do entrevistado, o que, entre outras, abrandou questões mais fortes sobre a Tchetchênia e os direitos humanos sobretudo por conta do ainda forte trauma provocado nos russos pela recente tragédia numa escola de Beslan, a reportagem chegou a Moscou.
A epopéia recomeçou no aeroporto da capital russa. Dezenas de "motoristas de táxi", poucos reconhecidos oficialmente, se dispuseram a conduzir o repórter ao hotel, situado a cerca de 20 km do Kremlin. O preço da corrida variava de 50 a 100 (R$ 363), dependendo da boa vontade do condutor com o estrangeiro, que não fala mais do que algumas palavras na língua de Dostoiévski.
Os táxis, aliás, são um capítulo à parte em Moscou. Todos os motoristas são bastante gentis, mas, como no Brasil, poucos falam inglês, francês ou alemão. Numa das custosas corridas, entretanto, uma experiência bastante agradável para um brasileiro. Apesar da dificuldade em comunicar-se, um condutor balbuciou os nomes de Ronaldo ("Fenômeno") e de Édson Arantes do Nascimento (Pelé, que, como maior jogador de todos os tempo, teve direito a nome e sobrenome).
No Kremlin, as intermináveis reuniões tiveram continuidade, desta feita com assessores de imprensa do presidente.
Este, terrivelmente ocupado, teve, inicialmente, de retardar seu encontro com a imprensa brasileira em uma hora, das 18h para as 19h. Depois de nova sabatina sobre as perguntas, a reportagem da Folha ficou sabendo que Putin não poderia chegar ao imponente Salão Verde do Kremlin antes das 19h30. Os adiamentos foram se sucedendo, e a entrevista só começou realmente às 21h. Neste momento, um presidente já visivelmente cansado após longo dia de trabalho chegou ao local e mostrou-se de uma gentileza sincera. Começada a conversa, todas as inquietações se esvaíram, e Putin, diferentemente do que pensavam seus assessores, não deixou de responder a nenhuma pergunta, por mais sensível que fosse.
Após uma hora e alguns minutos, retorno ao hotel, sob um frio de cinco graus negativos na belíssima praça Vermelha, ao lado da basílica de São Basílio. Mais um táxi a 70, e a honrosa missão estava cumprida.


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