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Reuniões sem fim marcam entrevista
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Entrevistar o presidente da
Rússia, Vladimir Putin, um dos
líderes políticos mais importantes e, portanto, ocupados do
mundo, não é tarefa fácil. Isso
dito, a reportagem da Folha
sentiu, na prática, que as dificuldades são ainda mais concretas do que imaginava.
Após meses de reuniões com
diplomatas russos no Brasil,
nas quais o escopo e o tom das
perguntas tiveram de ser adaptados ao nível do entrevistado,
o que, entre outras, abrandou
questões mais fortes sobre a
Tchetchênia e os direitos humanos sobretudo por conta do
ainda forte trauma provocado
nos russos pela recente tragédia numa escola de Beslan, a reportagem chegou a Moscou.
A epopéia recomeçou no aeroporto da capital russa. Dezenas de "motoristas de táxi",
poucos reconhecidos oficialmente, se dispuseram a conduzir o repórter ao hotel, situado
a cerca de 20 km do Kremlin. O
preço da corrida variava de
50 a 100 (R$ 363), dependendo da boa vontade do condutor
com o estrangeiro, que não fala
mais do que algumas palavras
na língua de Dostoiévski.
Os táxis, aliás, são um capítulo à parte em Moscou. Todos os
motoristas são bastante gentis,
mas, como no Brasil, poucos
falam inglês, francês ou alemão. Numa das custosas corridas, entretanto, uma experiência bastante agradável para um
brasileiro. Apesar da dificuldade em comunicar-se, um condutor balbuciou os nomes de
Ronaldo ("Fenômeno") e de
Édson Arantes do Nascimento
(Pelé, que, como maior jogador
de todos os tempo, teve direito
a nome e sobrenome).
No Kremlin, as intermináveis
reuniões tiveram continuidade, desta feita com assessores
de imprensa do presidente.
Este, terrivelmente ocupado,
teve, inicialmente, de retardar
seu encontro com a imprensa
brasileira em uma hora, das
18h para as 19h. Depois de nova
sabatina sobre as perguntas, a
reportagem da Folha ficou sabendo que Putin não poderia
chegar ao imponente Salão
Verde do Kremlin antes das
19h30. Os adiamentos foram se
sucedendo, e a entrevista só começou realmente às 21h. Neste
momento, um presidente já visivelmente cansado após longo
dia de trabalho chegou ao local
e mostrou-se de uma gentileza
sincera. Começada a conversa,
todas as inquietações se esvaíram, e Putin, diferentemente
do que pensavam seus assessores, não deixou de responder a
nenhuma pergunta, por mais
sensível que fosse.
Após uma hora e alguns minutos, retorno ao hotel, sob um
frio de cinco graus negativos na
belíssima praça Vermelha, ao
lado da basílica de São Basílio.
Mais um táxi a 70, e a honrosa missão estava cumprida.
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