|
Texto Anterior | Índice
MEMÓRIA
Tribunal que julgou os criminosos nazistas antecipou Corte de Haia
Nuremberg completa 60 anos
TONY PATERSON
DO "INDEPENDENT", EM BERLIM
Antigos promotores das forças aliadas e testemunhas retornaram ao tribunal de Nuremberg, onde os líderes do regime
nazista, de Adolf Hitler, foram
submetidos a julgamento, para
marcar o 60º aniversário dos
julgamentos históricos que estabeleceram o precedente mundial de submeter criminosos de
guerra à Justiça.
Whitney Harris, um dos principais promotores americanos
nos julgamentos de Nuremberg,
em que 19 líderes nazistas foram
condenados por crimes contra a
humanidade, juntou-se a ex-advogados aliados e repórteres
alemães do tribunal que participaram dos procedimentos históricos, que começaram em 20/
11/45.
Harris, hoje na casa dos 80
anos, admitiu que, antes dos julgamentos começarem, ele e seus
colegas tinham pouca idéia da
enormidade dos crimes. "Não
tinha a menor idéia da escala do
genocídio que ocorrera na Alemanha. Quando iniciamos nossas investigações, não dispúnhamos de muitas evidências
sólidas", explicou.
Várias evidências-chave sobre
o Holocausto foram obtidas no
tribunal por meio do interrogatório -conduzido por Harris- do comandante do campo
de Auschwitz, Rudolf Hess, que
admitiu ter transformado o
campo de concentração em um
centro de extermínio de judeus
e ciganos.
Fenômeno transcendente
Durante os julgamentos, o tribunal ouviu testemunhos nauseantes de vítimas do Holocausto e assistiu a uma série de documentários dilacerantes que
mostraram pilhas de cadáveres
emaciados e os sobreviventes
cadavéricos encontrados nos
campos quando as forças aliadas os libertaram, em 1945.
Harris disse ontem que levou
20 anos para superar suas memórias. "Mesmo hoje, esse
acontecimento ainda me afeta
profundamente. Mas todos esses crimes medonhos não constituem fenômeno exclusivamente alemão", acrescentou.
O primeiro dia do julgamento
foi ocupado pela leitura do documento de 24 mil palavras de
indiciamento de vários líderes
nazistas, incluindo o ex-chefe da
Força Aérea alemã Hermann
Goering, o vice de Hitler, Rudolf
Hess, e o ministro do Exterior,
Joachim von Ribbentrop.
Goering, que cometeu suicídio em sua cela pouco antes de
sua execução programada, foi
um dos 12 líderes nazistas condenados à morte. Três líderes
nazistas foram absolvidos. Os
restantes, entre eles Rudolf Hess
e Albert Speer, o arquiteto de
Hitler, foram sentenciados a
longas penas de prisão. Hess cometeu suicídio em 1986 na prisão de Spandau, em Berlim.
Apesar do papel exercido pelos julgamentos de Nuremberg
na criação de um precedente internacional para a abertura de
processos legais contra criminosos de guerra, evidências recentes indicam que, na Alemanha, décadas após a guerra, suas
conclusões foram vistas em
grande medida como exemplos
de "justiça dos vencedores".
Uma sondagem secreta conduzida pelo Departamento de
Estado dos EUA e divulgada há
três anos constatou que, até a
década de 70, a maioria dos alemães não via como justos os julgamentos de Nuremberg.
Ontem a mídia alemã foi unânime em elogiar os julgamentos. "Sem Nuremberg, a Corte
Internacional de Justiça em
Haia e os julgamentos de pessoas como Slobodan Milosevic e
Saddam Hussein teriam sido
impensáveis", escreveu o jornal
berlinense "Der Tagesspiegel".
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Reino Unido: Morte de policial britânica acirra debate sobre uso de armas de fogo Índice
|