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Líbano volta a adiar eleição presidencial e agrava crise
Divisão entre muçulmanos impede nome de consenso entre oposição e governo
Marcado para o dia 24, após quatro adiamentos, pleito indireto reflete o jogo de forças internacionais em vigor no Oriente Médio
DA REDAÇÃO
Marcadas para hoje, as eleições presidenciais do Líbano
foram mais uma vez adiadas,
desta feita para o próximo sábado, dia 24. É o mesmo dia em
que o mandato do presidente
Emile Lahoud, um político pró-Síria e que tem entravado as
ações do atual governo no país
parlamentarista, acaba.
O quarto adiamento do pleito
indireto deve-se a divergências
entre a oposição e a situação libanesas, as quais reproduzem
parcialmente na política do
país o amplo jogo de interesses
no Oriente Médio.
Embora o presidente do Líbano tenha de ser, conforme
definido pelo acordo de divisão
político-religiosa de poder, um
cristão maronita, são os dois
principais grupos muçulmanos
que disputam a escolha do sucessor de Lahoud, sendo que
até agora não se chegou a um
nome de consenso entre governo e oposição.
Pouco menos de 40% dos 3,9
milhões de libaneses é de cristãos de diversas igrejas, e os
muçulmanos são quase 60% da
população.
O governo, que tem entre
seus principais líderes o atual
premiê, Fuad Siniora, e o deputado Saad Hariri, filho do premiê Rafik Hariri, fervoroso adversário da Síria que foi morto
em um atentado em 2005, vê
nesta eleição a oportunidade de
colocar na Presidência um aliado seu.
A coalizão governista 14 de
Março é composta por, entre
outros grupos, muçulmanos
sunitas -os quais, no Líbano,
são aliados dos EUA e da Europa, além da Arábia Saudita,
combatendo a influência síria.
Seu candidato à Presidência é o
parlamentar Robert Ghanem.
Já a oposição, que recusa
Ghanem, é composta majoritariamente por muçulmanos xiitas e está reunida na coalizão 8
de Março, que tem nas suas fileiras os parlamentares do grupo radical islâmico Hizbollah e
defende uma aproximação com
a Síria e o Irã, em oposição a um
alinhamento aos EUA e à Europa. Seu nome é o ex-ministro
Michel Edde.
Um acordo entre oposição e
situação é necessário porque o
novo presidente tem de ser
eleito com dois terços dos votos
do Parlamento. E a perspectiva
de que, ao não sair esse acordo,
radicalize-se a fragmentação
do país -que poderia reviver a
guerra civil de 1975-1990-
atraiu esforços diplomáticos do
Ocidente e do Oriente Médio.
Interesse comum
Segundo o jornal britânico
"Financial Times", apesar das
divergências entre Washington
e Teerã quanto ao programa
nuclear deste e os vetores de
conflito no Iraque, não interessa a nenhuma das partes um Líbano turbulento.
Para os EUA, o colapso do Líbano seria o fracasso da última
experiência de democracia patrocinada pelo país na região.
Além disso, impedindo o agravamento da desestabilização
no Líbano, Washington combate a influência da Síria no
Oriente Médio.
Para o Irã, a estabilidade no
país ao norte de Israel é interessante não só porque Teerã já
está em atrito com os EUA em
outras questões como também
porque o Hizbollah, que tem
seu apoio, é um trunfo enquanto defensor dos muçulmanos
contra os israelenses -como se
projetou após os combates contra Israel no ano passado. Mas
deixa de sê-lo se o grupo islâmico voltar suas armas contra o
povo libanês, principalmente
contra outros muçulmanos,
mesmo que sunitas.
Nesse intricado jogo de xadrez -em que o chanceler da
França, Bernard Kouchner,
tem tentado em Beirute fazer
vingar um consenso- não se
descarta a possibilidade de que
o Líbano venha a ter dois presidentes, um de cada lado do espectro político-religioso.
A situação, que conta com
maioria simples no Parlamento, cogita fazer a eleição mesmo
sem a participação da oposição,
o que esta qualifica de inconstitucional. "[Sem um acordo], a
vida constitucional iria para o
espaço", disse ontem na TV
Mohammed Raad, líder do bloco parlamentar do Hizbollah.
Kouchner disse ontem estar
esperançoso em um acordo.
Com agências internacionais
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