São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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Líbano volta a adiar eleição presidencial e agrava crise

Divisão entre muçulmanos impede nome de consenso entre oposição e governo

Marcado para o dia 24, após quatro adiamentos, pleito indireto reflete o jogo de forças internacionais em vigor no Oriente Médio

DA REDAÇÃO

Marcadas para hoje, as eleições presidenciais do Líbano foram mais uma vez adiadas, desta feita para o próximo sábado, dia 24. É o mesmo dia em que o mandato do presidente Emile Lahoud, um político pró-Síria e que tem entravado as ações do atual governo no país parlamentarista, acaba.
O quarto adiamento do pleito indireto deve-se a divergências entre a oposição e a situação libanesas, as quais reproduzem parcialmente na política do país o amplo jogo de interesses no Oriente Médio.
Embora o presidente do Líbano tenha de ser, conforme definido pelo acordo de divisão político-religiosa de poder, um cristão maronita, são os dois principais grupos muçulmanos que disputam a escolha do sucessor de Lahoud, sendo que até agora não se chegou a um nome de consenso entre governo e oposição.
Pouco menos de 40% dos 3,9 milhões de libaneses é de cristãos de diversas igrejas, e os muçulmanos são quase 60% da população.
O governo, que tem entre seus principais líderes o atual premiê, Fuad Siniora, e o deputado Saad Hariri, filho do premiê Rafik Hariri, fervoroso adversário da Síria que foi morto em um atentado em 2005, vê nesta eleição a oportunidade de colocar na Presidência um aliado seu.
A coalizão governista 14 de Março é composta por, entre outros grupos, muçulmanos sunitas -os quais, no Líbano, são aliados dos EUA e da Europa, além da Arábia Saudita, combatendo a influência síria. Seu candidato à Presidência é o parlamentar Robert Ghanem.
Já a oposição, que recusa Ghanem, é composta majoritariamente por muçulmanos xiitas e está reunida na coalizão 8 de Março, que tem nas suas fileiras os parlamentares do grupo radical islâmico Hizbollah e defende uma aproximação com a Síria e o Irã, em oposição a um alinhamento aos EUA e à Europa. Seu nome é o ex-ministro Michel Edde.
Um acordo entre oposição e situação é necessário porque o novo presidente tem de ser eleito com dois terços dos votos do Parlamento. E a perspectiva de que, ao não sair esse acordo, radicalize-se a fragmentação do país -que poderia reviver a guerra civil de 1975-1990- atraiu esforços diplomáticos do Ocidente e do Oriente Médio.

Interesse comum
Segundo o jornal britânico "Financial Times", apesar das divergências entre Washington e Teerã quanto ao programa nuclear deste e os vetores de conflito no Iraque, não interessa a nenhuma das partes um Líbano turbulento.
Para os EUA, o colapso do Líbano seria o fracasso da última experiência de democracia patrocinada pelo país na região. Além disso, impedindo o agravamento da desestabilização no Líbano, Washington combate a influência da Síria no Oriente Médio.
Para o Irã, a estabilidade no país ao norte de Israel é interessante não só porque Teerã já está em atrito com os EUA em outras questões como também porque o Hizbollah, que tem seu apoio, é um trunfo enquanto defensor dos muçulmanos contra os israelenses -como se projetou após os combates contra Israel no ano passado. Mas deixa de sê-lo se o grupo islâmico voltar suas armas contra o povo libanês, principalmente contra outros muçulmanos, mesmo que sunitas.
Nesse intricado jogo de xadrez -em que o chanceler da França, Bernard Kouchner, tem tentado em Beirute fazer vingar um consenso- não se descarta a possibilidade de que o Líbano venha a ter dois presidentes, um de cada lado do espectro político-religioso.
A situação, que conta com maioria simples no Parlamento, cogita fazer a eleição mesmo sem a participação da oposição, o que esta qualifica de inconstitucional. "[Sem um acordo], a vida constitucional iria para o espaço", disse ontem na TV Mohammed Raad, líder do bloco parlamentar do Hizbollah.
Kouchner disse ontem estar esperançoso em um acordo.


Com agências internacionais


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