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ANÁLISE LIVRO
Jornalista analisa operações militares secretas de Clinton
Ex-presidente americano usou operações para se aproximar dos militares
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE SÃO PAULO
Bill Clinton foi um presidente a quem os militares
americanos tiveram dificuldade para respeitar como seu
comandante-em-chefe.
Ao contrário da maioria de
seus predecessores, ele não
só jamais havia servido às
Forças Armadas como fez
oposição cerrada à sua ação
num conflito extremamente
sensível, o do Vietnã.
Havia suspeitas fortes de
que Clinton havia usado de
estratagemas para escapar
da convocação quando estava em idade de fazer o serviço
militar, então obrigatório, na
década de 1960.
Além disso, no início de
sua gestão, mexeu numa casa de marimbondos ao tentar
mudar a proibição a homossexuais na carreira militar.
Ao longo dos seus oito
anos na Casa Branca, Clinton
e os militares acharam um
jeito de conviver em paz.
Ele até conseguiu o respeito entre muitos deles, embora as primeiras ações de seu
mandato, como a missão na
Somália, tenham terminado
de modo humilhante.
Esse relacionamento merece um estudo mais aprofundado. É mais ou menos
esta a proposta do jornalista
Richard Sale em "As Guerras
Secretas de Clinton", que ganhou uma edição brasileira.
Uma de suas teses centrais
é que o presidente ganhou o
respeito de seus subordinados em uniforme pela maneira como se engajou em operações não públicas, que tinham como objetivo máxima
eficiência com mínimo custo.
O resultado de seu esforço
não é animador. O autor toma partido a favor de Clinton
e de fórmulas ilegais de intervenção dos EUA em assuntos
de outros países.
LEITURA
Como os temas de que trata são sensíveis, a maioria
absoluta de suas fontes falou
com ele sob a condição de
não ter identidade revelada.
Sale é um jornalista respeitável, mas não incluído no time dos melhores do país.
Não há razão para desconfiar
de suas apurações. Mas é esquisito ler relatos detalhados
de reuniões secretas sem que
o leitor saiba quem foi que
deu as informações.
A linguagem, engajada,
ufanista e gongórica, amplia
mais as dúvidas do leitor sobre a fidelidade das afirmações. Por exemplo, o ex-vice-presidente Al Gore é classificado como "sólido, imponente, ágil como um falcão".
A tradução para o português, muitas vezes claudicante ("chefe do Estado-Maior das Forças Armadas"
vira presidente da Junta de
Chefes das Forças Armadas"), atrapalha a fluidez e a
compreensão do texto.
A falta de notas que contextualizem referências a locais, pessoas e incidentes
que o leitor americano certamente conhece bem atravanca o brasileiro médio.
O livro é detalhista. Explora a maneira como Clinton
atuou nas crises nos Bálcãs e
em ações contra o Iraque e os
terroristas da Al Qaeda.
Traz informações (caso se
resolva crer nelas) interessantes para entender melhor
a política externa e militar da
gestão Clinton. Mas só para
quem realmente se especializa nos assuntos americanos.
AS GUERRAS DE CLINTON
AUTOR Richard Sale
EDITORA Nossa Cultura
QUANTO R$ 48,50
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