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Ex-presa faz campanha por solturas no Irã
Roxana Saberi afirma que a relação do Brasil com o país persa não deve excluir proteção aos direitos humanos
Acusada de espionagem pró-EUA, a jornalista foi condenada, mas teve a pena comutada depois de cem dias na prisão
Letícia Moreira/Folhapress
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Roxana Saberi, iraniano-americana, diz se sentir responsável por outros presos iranianos
CLAUDIA ANTUNES
EM SÃO PAULO
Filha de pai iraniano e mãe
japonesa, nascida nos EUA
há 33 anos, Roxana Saberi teve uma trajetória de reviravoltas.
Em busca de uma bolsa
acadêmica, foi miss Dakota
do Norte em 1997. Fez mestrado em jornalismo e em relações internacionais, e mudou-se para o Irã como repórter em 2003, na Presidência
do reformista Mohammad
Khatami. Ficou no país para
escrever um livro depois que
sua credencial foi cassada no
governo do conservador
Mahmoud Ahmadinejad.
Presa em janeiro de 2009,
Saberi foi acusada de espionar. No pavilhão 209 da prisão de Evin, sofreu tortura
psicológica e assinou confissão -ato do qual se arrependeu ao ver a resiliência das
presas de consciência iranianas, e que negou no tribunal.
Teve a pena de oito anos
comutada após cem dias, depois de forte pressão internacional.
Ela conta sua história em
"Entre Dois Mundos" (editora Larousse), livro que veio
lançar no Brasil, trazendo
sua campanha para a libertação dos cerca de 500 presos
políticos iranianos, incluindo duas antigas companheiras de cela, Mahvash Sabet
and Fariba Kamalabadi, da
religião Baha'i.
"Sinto que tenho uma responsabilidade [com os que ficaram]", diz Saberi, que cita
também o blogueiro Hossein
Derakhshan, condenado a
nove anos, e a jornalista Jile
Yagoob, condenada a um
ano de prisão.
Abaixo, trechos da entrevista de Saberi à Folha feita
em São Paulo, na sexta, após
conversa com a Redação.
FOLHA - Você se definiria hoje
como jornalista ou ativista?
Roxana Saberi - É difícil
dizer porque ainda escrevo para
jornais, normalmente artigos de
opinião. De certo modo, sou
agora uma defensora dos direitos humanos no Irã porque seria
difícil sair daquela situação e
não dizer nada sobre as pessoas
que ficaram para trás. Sinto que
tenho uma responsabilidade.
O governo brasileiro argumenta que prefere agir nos
bastidores do que denunciar
violações. Qual sua opinião?
O governo brasileiro se
absteve na resolução de um
comitê da ONU que condenou violações no Irã. Por
quê? Como tem boas relações
com o Irã, suas palavras têm
peso. Direitos humanos são
universais, e todos os governos devem não apenas observá-los como defendê-los
internacionalmente.
A melhor política é isolar o Irã
ou manter relações?
Acho que os governos devem atuar multilateralmente; usar fóruns como o Conselho de Direitos Humanos da
ONU para aprovar resoluções
contra as violações e a ida de
um relator especial ao Irã. A
porta para negociações deve
estar aberta, mas os direitos
humanos sempre devem estar no topo.
Reportagens nos EUA indicam que o governo têm operações secretas no Irã. Isso
ajuda a causa da democracia?
Sei que as autoridades iranianas, quando ouvem essas
informações, gostam de usá-las para seu argumento de
que o regime está sob ameaça de espiões. Em nome da
proteção à segurança nacional, aumentam a repressão
contra os críticos.
Do outro lado, tenho certeza de que o Irã tem espiões
por todo o mundo, meus próprios captores falaram isso.
Ainda acredita na possibilidade de reforma pacífica no
Irã?
Depende de muitos fatores
e do que o povo iraniano decidir. É imprevisível. Mas
acho inevitável que o país caminhe para um sistema mais
democrático.
Dois terços da população
têm menos de 30 anos. Parte
apoia o sistema, mas muitos
não estão satisfeitos. As mulheres estão cada vez instruídas, respondem por 65% das
matrículas na universidade.
Como o programa nuclear e
as sanções são vistas pela população iraniana em geral?
Vi muito apoio de iranianos comuns ao programa nuclear, mas as condições variam. Alguns diziam que o
país deveria manter o programa apesar das sanções, pois
é seu direito. Uma minoria
defendia a construção de armas. Muitos defendiam o direito à energia nuclear.
Acho que as sanções estão
começando a apertar. Temos
que ver qual será a reação.
Folha.com
Leia íntegra da entrevista
com Roxana Saberi
folha.com.br/ mu833599
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