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Chávez pede a Lula "clube de amigos"
DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
O presidente Hugo Chávez solicitou a Marco Aurélio Garcia,
emissário especial do presidente
eleito Luiz Inácio Lula da Silva,
que o governo brasileiro tente organizar uma espécie de "clube de
amigos da Venezuela", para ajudar a romper o impasse em que o
país está mergulhado.
O pedido foi feito durante o jantar no Palácio de Miraflores, a sede governamental, anteontem, o
segundo encontro no mesmo dia
entre Marco Aurélio (mais o embaixador Ruy Nogueira) e o presidente venezuelano.
Não está claro ainda o formato
que o clube poderá adotar, embora dois nomes de governantes já
tenham saltado como convidados
naturais a participar da iniciativa:
o chileno Ricardo Lagos e o francês Jacques Chirac, ambos tidos
como simpáticos a uma solução
aceitável para Chávez.
Os EUA, decisivos em crises, em
especial na América Latina, têm
adotado posições erráticas na crise venezuelana, mas, assim mesmo, Chávez foi aconselhado a não
provocar Washington.
Correlação de forças
A análise feita pelo emissário de
Lula é a de que está surgindo uma
nova correlação de forças na região, com a ascensão de Lula e do
equatoriano Lucio Gutiérrez, com
a eventual manutenção do próprio Chávez e mais, talvez, o novo
presidente argentino.
Não é uma configuração antiamericana, mas também não é de
alinhamento automático e cego.
Os EUA chegaram a defender
de público eleições antecipadas,
como quer a oposição venezuelana, mas recuaram depois. No entanto a agência de notícias Reuters atribuiu ontem a uma fonte
não-identificada de Washington a
informação de que, nos bastidores, os EUA continuam trabalhando por uma eleição antecipada.
A proposta do clube de amigos
será agora levada por Marco Aurélio a Lula, que deverá se reunir
com Chávez no dia 2, em Brasília,
já que o venezuelano confirmou
que irá à posse do brasileiro.
Antes, no entanto, tanto o atual
como o futuro governo brasileiro
estão se empenhando para atender os pedidos materiais de Chávez ao Brasil, especialmente e com
urgência, um navio-tanque carregado de gasolina, para garantir o
cada vez mais escasso abastecimento de combustível.
Com a oposição
Marco Aurélio fechou ontem o
circuito de conversações com os
governistas ao se reunir com Willian Lara, presidente da Assembléia Nacional (o Congresso unicameral criado pela nova Constituição aprovada após a ascensão
de Chávez ao poder).
Lara mostrou-se bastante conciliador, dando ao emissário brasileiro "a impressão de que quer
construir um espaço para a negociação institucional" entre governo e oposição.
Mas o deputado disse também
que, dos dois lados, há setores radicalizados que, a qualquer momento, podem cometer uma violência capaz de incendiar de vez
uma situação já volátil.
Hoje, o emissário de Lula inicia
as conversas com a oposição. Toma café da manhã com Teodoro
Petkoff, que foi guerrilheiro nos
anos 60, depois criou o MAS (Movimento ao Socialismo, uma
agrupação com alguma semelhança com o PT brasileiro), para,
por fim, passar ao liberalismo (foi
ministro de Planejamento no governo Rafael Caldera, antecessor
de Chávez).
Petkoff faz oposição a Chávez,
mas de uma maneira tida como
não-golpista.
Marco Aurélio vai se reunir
também com dois deputados da
Ação Democrática, tradicional
partido social-democrata que forneceu a maior parte dos presidentes da Venezuela na segunda metade do século passado.
Hoje, a AD está muito enfraquecida, varrida como todos os partidos tradicionais pela ascensão do
"chavismo".
(CR)
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