São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

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Oposição nos EUA apóia Forças Armadas maiores

Na última entrevista do ano, Bush reconhece o "sucesso da insurgência" no Iraque

Líderes democratas dizem que presidente se rendeu a seus argumentos sobre necessidade de aumentar os efetivos militares

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Mesmo em recesso parlamentar, a maioria democrata do Congresso apoiou ontem a proposta de George W. Bush de aumentar permanentemente os efetivos das Forças Armadas dos EUA. Na última entrevista coletiva de 2006, o presidente confirmou a intenção de promover o aumento, revelada ao jornal "The Washington Post" no dia anterior, e mudou a retórica sobre a situação no Iraque.
Bush reconheceu o "sucesso da insurgência islâmica" no país árabe neste ano. Antes, ele afirmava que os EUA estavam vencendo a guerra contra os opositores da ocupação americana do Iraque.
"Eles [os insurgentes] consideram ser uma questão de tempo até que ganhem [a guerra]. Os inimigos da liberdade levaram a cabo uma estratégia deliberada para fomentar a violência sectária entre sunitas e xiitas, e, no decorrer deste ano, tiveram êxito", avaliou.
A proposta de Bush de aumentar os efetivos das Forças Armadas dos Estados Unidos, que vêm sendo reduzidos nos últimos 50 anos (veja quadro abaixo), surgiu em conseqüência da discussão sobre o envio de mais entre 15 mil e 30 mil soldados para o Iraque, onde já há cerca de 150 mil tropas americanas. Especialistas acreditam que não haveria tropas disponíveis para isso.
"Estou satisfeita que o presidente tenha mudado sua posição e finalmente atenda ao pedido do Partido Democrata de aumentar o tamanho dos militares. Mas Bush não deu nenhuma indicação de que queira fazer as mudanças necessárias para reverter a situação desastrosa no Iraque", disse a líder da bancada democrata na Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, que presidirá o Congresso a partir de janeiro.
O senador democrata Jack Reed disse "aplaudir" a iniciativa, que reivindicou para si.
"Finalmente Bush reconheceu a necessidade de aumentar as Forças Armadas, pedido que tenho feito há anos", afirmou. "Agora, o presidente precisa levar o projeto adiante e colocar dinheiro no Orçamento para pagar esses soldados."
Nesta semana, Colin Powell, ex-chefe do Estado Maior dos EUA e secretário de Estado no primeiro mandato de Bush, disse que as Forças Armadas estão "quebradas" pela sobrecarga dos conflitos no Afeganistão e Iraque. Hoje, só o Exército tem 500 mil soldados. O custo para cada 10 mil a mais é calculado em US$ 1,2 bilhão.

Serviço militar
Especialistas ouvidos pela Folha avaliam que um possível aumento das tropas não implicaria a volta do serviço militar obrigatório, revogado depois da derrota no Vietnã, no início dos anos 1970, mas disseram que a medida levaria anos e bilhões de dólares para ser concluída.
Gordon Adams, que foi assessor de Orçamento para Segurança Nacional no governo Bill Clinton [1993-2000], disse à Folha que é contra o aumento das Forças Armadas. "Mais tropas significam mais gastos com equipamentos, treinamento e soldos no longo prazo", avalia.
"Um aumento do número de militares não é um paliativo para o Iraque. É a militarização permanente da nossa política de segurança nacional", completou Adams, hoje conselheiro do Centro Internacional Woodrow Wilson.
Na entrevista de ontem, apesar de ter reconhecido o avanço da insurgência iraquiana, Bush disse que os EUA não sairão da região. "Eles não podem nos expulsar do Oriente Médio. Não podem intimidar a América." Ele disse que, apesar de perturbados com a violência no Iraque, os americanos apóiam sua visão de que uma retirada imediata não é a saída.


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