|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
artigo
Cuba reflete sobre derrota de Chávez
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Teria havido um fator
Chávez na decisão de Fidel
Castro de declarar desapego ao poder? Um dos que
levantaram essa hipótese,
de forma muito discreta,
foi "El País", de Madri, um
dos jornais europeus que
dão mais espaço à América
Latina.
A suposição parte da
constatação de que se instala na ilha amplo debate
sobre o futuro com presença inclusive de "forças
centrífugas", referência à
derrota de Hugo Chávez
no referendo sobre a reforma constitucional que
lhe permitiria concorrer
de novo à Presidência
quando terminar seu atual
mandato, em 2013.
Cuba não deve depender de condições externas,
já experimentou más experiências nesse terreno e
pode sofrer vazamentos o
manto de proteção de um
presidente enfraquecido
politicamente.
Ainda não se desfizeram
de todo as amarguras do
"período especial" imposto pela desintegração da
União Soviética. Cuba perdeu subsídios vitais. As relações com Moscou não
foram isentas de problemas, mas era preciso sustentá-las em função de necessidades domésticas,
além dos riscos de ter os
Estados Unidos às portas.
A tentativa de invasão,
embora frustrada, mostrou o que isso significava.
A cobertura soviética tornou-se imperativa, mas, já
na Crise dos Mísseis, em
1962, Fidel pôde constatar
quais eram os termos de
Moscou. Kruschov acertou-se com Kennedy sem
dar satisfações a Cuba, cuja liderança não escondeu
o mau humor.
Outro momento de tensões aconteceu em 1966,
quando se reuniram em
Havana delegados de movimentos de libertação nacional de cerca de 70 países. A Moscou, no entanto,
interessava ter uma cunha
no "quintal" dos EUA. Cuba dependia de subsídios e
as relações de dependência se sustentaram até o
trágico desfecho.
O ano de 1962 foi também o de expulsão de Cuba da OEA, em operação
comandada pelos EUA.
Excluído dos ambientes
diplomáticos formais, o
regime cubano decidiu
apostar na guerrilha.
Ainda em 1962, o PC da
Venezuela constituiu-se
em grupo guerrilheiro, como ponta-de-lança de
ações que deveriam espraiar-se e afinal se esgotaram com saldo zero oito
anos depois.
Direitos humanos
A decisão agora seria
fortalecer-se internamente e ter condições de sobreviver por conta própria, mas isso exige mudanças. Cuba anunciou
que assinará o pacto de direitos humanos da ONU.
Por meio da Espanha é negociada a adesão cubana a
uma resolução da ONU,
promovida pela União Européia, banindo a pena de
morte. Alguns ex-presos
políticos receberam autorização para tratamento
médico na Espanha.
Subitamente se intensificaram atividades políticas de dissidentes. Foram
criadas duas coalizões
com selos de liberais, fato
atribuído à redução da repressão sob Raúl Castro.
Oswaldo Payá, um dos
mais conhecidos internacionalmente, criou o Comitê Cidadão de Reconciliação e Diálogo, que continua de portas abertas.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais
Texto Anterior: Igreja católica: Sarkozy trata do caso das Farc com o papa Próximo Texto: Cresce zona européia de passe livre em viagens Índice
|