São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

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Cuba reflete sobre derrota de Chávez

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Teria havido um fator Chávez na decisão de Fidel Castro de declarar desapego ao poder? Um dos que levantaram essa hipótese, de forma muito discreta, foi "El País", de Madri, um dos jornais europeus que dão mais espaço à América Latina.
A suposição parte da constatação de que se instala na ilha amplo debate sobre o futuro com presença inclusive de "forças centrífugas", referência à derrota de Hugo Chávez no referendo sobre a reforma constitucional que lhe permitiria concorrer de novo à Presidência quando terminar seu atual mandato, em 2013.
Cuba não deve depender de condições externas, já experimentou más experiências nesse terreno e pode sofrer vazamentos o manto de proteção de um presidente enfraquecido politicamente. Ainda não se desfizeram de todo as amarguras do "período especial" imposto pela desintegração da União Soviética. Cuba perdeu subsídios vitais. As relações com Moscou não foram isentas de problemas, mas era preciso sustentá-las em função de necessidades domésticas, além dos riscos de ter os Estados Unidos às portas.
A tentativa de invasão, embora frustrada, mostrou o que isso significava. A cobertura soviética tornou-se imperativa, mas, já na Crise dos Mísseis, em 1962, Fidel pôde constatar quais eram os termos de Moscou. Kruschov acertou-se com Kennedy sem dar satisfações a Cuba, cuja liderança não escondeu o mau humor.
Outro momento de tensões aconteceu em 1966, quando se reuniram em Havana delegados de movimentos de libertação nacional de cerca de 70 países. A Moscou, no entanto, interessava ter uma cunha no "quintal" dos EUA. Cuba dependia de subsídios e as relações de dependência se sustentaram até o trágico desfecho. O ano de 1962 foi também o de expulsão de Cuba da OEA, em operação comandada pelos EUA.
Excluído dos ambientes diplomáticos formais, o regime cubano decidiu apostar na guerrilha. Ainda em 1962, o PC da Venezuela constituiu-se em grupo guerrilheiro, como ponta-de-lança de ações que deveriam espraiar-se e afinal se esgotaram com saldo zero oito anos depois.

Direitos humanos
A decisão agora seria fortalecer-se internamente e ter condições de sobreviver por conta própria, mas isso exige mudanças. Cuba anunciou que assinará o pacto de direitos humanos da ONU. Por meio da Espanha é negociada a adesão cubana a uma resolução da ONU, promovida pela União Européia, banindo a pena de morte. Alguns ex-presos políticos receberam autorização para tratamento médico na Espanha.
Subitamente se intensificaram atividades políticas de dissidentes. Foram criadas duas coalizões com selos de liberais, fato atribuído à redução da repressão sob Raúl Castro. Oswaldo Payá, um dos mais conhecidos internacionalmente, criou o Comitê Cidadão de Reconciliação e Diálogo, que continua de portas abertas.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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