São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / VIZINHANÇA

Encarregado da América Latina é mantido no cargo

Thomas Shannon, subsecretário para o Hemisfério Ocidental, é benquisto por Brasília

Diplomata responderá a Hillary Clinton, que teve sua indicação a secretária de Estado confirmada ontem pelo Senado americano

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

O número um da Chancelaria norte-americana para a América Latina sob George W. Bush, Thomas Shannon, será mantido no cargo pelo presidente Barack Obama, ao menos nos primeiros meses de governo. A informação foi confirmada à Folha ontem por uma porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, que disse que não há especificação de prazo para o acerto.
Shannon responderá a Hillary Clinton, que teve sua indicação a secretária de Estado aprovada pelo Senado ontem por 94 votos a 2. Inicialmente, foi sugerida uma aprovação por aclamação, apoiada pelo ex-candidato presidencial republicano John McCain.
Mas a votação foi exigida devido à rejeição de outro republicano, John Cornyn, que relembrou preocupações com o fato de a fundação do marido de Hillary, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001), ter recebido doações de líderes de países estrangeiros.
A permanência de Shannon agrada ao Brasil, que credita as boas relações com os EUA nos últimos anos do governo Bush a seu trabalho como subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos. O Itamaraty chegou a fazer campanha para que ele seguisse sob Obama.
"Shannon foi um fator fundamental [para o relacionamento dos dois países], manteve um diálogo muito bom e nos pedia opinião sobre os temas mais variados da agenda latino-americana", disse em entrevista recente Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência brasileira para assuntos internacionais.
Ele também era cotado para assumir a Embaixada dos EUA no Brasil, país que diz "adorar", ou no México. Mas, para Garcia, o melhor seria se ele mantivesse a posição no Departamento de Estado, que ocupa desde outubro de 2005, quando substituiu o ultraconservador Roger Noriega.
Sua confirmação é mais um sinal de que a política dos EUA para a região mudará pouco sob Obama, que tem outras prioridades mais urgentes. Há duas semanas, em Madri, Shannon disse que o governo Bush e o governo Obama "compartilham a mesma visão estratégica" para a América Latina.
Na ocasião, ele citou como desafios daqui para a frente a luta contra o crime organizado e o tráfico de drogas, em especial no México e na América Central, um problema que ultrapassa fronteiras e afeta pesadamente a sociedade civil americana. E mencionou também a Venezuela, que poderá ter nova "oportunidade" de reaproximação com os EUA sob Obama.
Shannon diz que a Casa Branca já deixou claro que quer melhorar as relações com Hugo Chávez. Em entrevista em São Paulo em agosto, o subsecretário acenou ao presidente venezuelano: "Ele disse a nosso embaixador na Venezuela que sente falta dos cafés da manhã que tinham juntos. Isso para nós é muito bem-vindo".

Cúpula
O primeiro desafio de Shannon no cargo poderá ser a 5ª Cúpula das Américas, que ocorre em abril em Trinidad e Tobago. Analistas conservadores já alertam nos EUA contra o perigo de a reunião ser "sequestrada" por líderes antiamericanos, como teria ocorrido na cúpula de 2005 na Argentina.
Em depoimento ao Senado neste mês, Hillary afirmou que a cúpula será fórum ideal para "uma nova parceria energética, construída ao redor de tecnologia compartilhada e investimentos em energia renovável".
Ainda ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enviou nota de congratulações a Obama, na qual afirmou compartilhar das "preocupações em encontrar soluções urgentes e profundas para enfrentar a grave crise financeira e econômica que, originada no mundo desenvolvido, ameaça os países em desenvolvimento".
"O Brasil e os demais países da América Latina souberam reconstruir nos últimos anos suas economias com inegáveis ganhos sociais e políticos. Esse esforço de dezenas de milhões de homens e mulheres não pode ser frustrado", continuou Lula. O temor é que a crise financeira gere políticas protecionistas nos EUA.


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