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SOB NOVA DIREÇÃO / VIZINHANÇA
Encarregado da América Latina é mantido no cargo
Thomas Shannon, subsecretário para o Hemisfério Ocidental, é benquisto por Brasília
Diplomata responderá a Hillary Clinton, que teve sua indicação a secretária de Estado confirmada ontem pelo Senado americano
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
O número um da Chancelaria norte-americana para a
América Latina sob George W.
Bush, Thomas Shannon, será
mantido no cargo pelo presidente Barack Obama, ao menos
nos primeiros meses de governo. A informação foi confirmada à Folha ontem por uma porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, que disse que
não há especificação de prazo
para o acerto.
Shannon responderá a Hillary Clinton, que teve sua indicação a secretária de Estado
aprovada pelo Senado ontem
por 94 votos a 2. Inicialmente,
foi sugerida uma aprovação por
aclamação, apoiada pelo ex-candidato presidencial republicano John McCain.
Mas a votação foi exigida devido à rejeição de outro republicano, John Cornyn, que relembrou preocupações com o
fato de a fundação do marido
de Hillary, o ex-presidente Bill
Clinton (1993-2001), ter recebido doações de líderes de países estrangeiros.
A permanência de Shannon
agrada ao Brasil, que credita as
boas relações com os EUA nos
últimos anos do governo Bush
a seu trabalho como subsecretário de Estado para Assuntos
Hemisféricos. O Itamaraty
chegou a fazer campanha para
que ele seguisse sob Obama.
"Shannon foi um fator fundamental [para o relacionamento dos dois países], manteve um diálogo muito bom e nos
pedia opinião sobre os temas
mais variados da agenda latino-americana", disse em entrevista recente Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência brasileira para assuntos
internacionais.
Ele também era cotado para
assumir a Embaixada dos EUA
no Brasil, país que diz "adorar",
ou no México. Mas, para Garcia, o melhor seria se ele mantivesse a posição no Departamento de Estado, que ocupa
desde outubro de 2005, quando substituiu o ultraconservador Roger Noriega.
Sua confirmação é mais um
sinal de que a política dos EUA
para a região mudará pouco
sob Obama, que tem outras
prioridades mais urgentes. Há
duas semanas, em Madri,
Shannon disse que o governo
Bush e o governo Obama "compartilham a mesma visão estratégica" para a América Latina.
Na ocasião, ele citou como
desafios daqui para a frente a
luta contra o crime organizado
e o tráfico de drogas, em especial no México e na América
Central, um problema que ultrapassa fronteiras e afeta pesadamente a sociedade civil
americana. E mencionou também a Venezuela, que poderá
ter nova "oportunidade" de
reaproximação com os EUA
sob Obama.
Shannon diz que a Casa
Branca já deixou claro que quer
melhorar as relações com Hugo Chávez. Em entrevista em
São Paulo em agosto, o subsecretário acenou ao presidente
venezuelano: "Ele disse a nosso
embaixador na Venezuela que
sente falta dos cafés da manhã
que tinham juntos. Isso para
nós é muito bem-vindo".
Cúpula
O primeiro desafio de Shannon no cargo poderá ser a 5ª
Cúpula das Américas, que ocorre em abril em Trinidad e Tobago. Analistas conservadores já
alertam nos EUA contra o perigo de a reunião ser "sequestrada" por líderes antiamericanos,
como teria ocorrido na cúpula
de 2005 na Argentina.
Em depoimento ao Senado
neste mês, Hillary afirmou que
a cúpula será fórum ideal para
"uma nova parceria energética,
construída ao redor de tecnologia compartilhada e investimentos em energia renovável".
Ainda ontem, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, enviou nota de congratulações a
Obama, na qual afirmou compartilhar das "preocupações
em encontrar soluções urgentes e profundas para enfrentar
a grave crise financeira e econômica que, originada no mundo desenvolvido, ameaça os
países em desenvolvimento".
"O Brasil e os demais países
da América Latina souberam
reconstruir nos últimos anos
suas economias com inegáveis
ganhos sociais e políticos. Esse
esforço de dezenas de milhões
de homens e mulheres não pode ser frustrado", continuou
Lula. O temor é que a crise financeira gere políticas protecionistas nos EUA.
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