São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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VISÃO ISRAELENSE

Historiador aponta a separação como solução

DA REDAÇÃO

Israelenses e palestinos devem ser separados por uma barreira para que exista a menor fricção possível entre as duas populações. É o que diz o historiador israelense Benny Morris, 55, que no final dos anos 80 foi preso por se recusar a servir como soldado nos territórios ocupados.
Morris é autor de um livro que causou furor em Israel, "The Birth of Palestinian Refugee Problem" (o nascimento do problema dos refugiados palestinos), de 1987, no qual comprova que o país expulsou grande número de palestinos de seu recém-criado Estado em 1948.
De um intelectual mais próximo ao campo dos que buscavam a paz, Morris transformou-se num cético. "O que os israelenses aprenderam é que não podem confiar nos palestinos. A maioria dos israelenses quer uma separação completa", disse, em entrevista por telefone à Folha de Tel Aviv. (OD)
 

Folha - O que acha da barreira?
Benny Morris -
É necessária. Quando estiver completa, será muito difícil atingir alvos israelenses. Mas deve ser construída mais ou menos ao longo da fronteira anterior à guerra de 1967. A direita israelense, inclusive o premiê Ariel Sharon, tentou usar a cerca para tomar terras palestinas, mas a pressão externa e interna fará com que ela se situe próxima à antiga fronteira.

Folha - É difícil imaginar uma cerca separando duas populações que vivem tão perto, quase juntas.
Morris -
Infelizmente, essa terra é muito pequena e há dois povos vivendo nela. A melhor solução para ambos são dois Estados. Em um deles, existe uma sociedade que quer enviar seus filhos para se explodirem nas cidades do vizinho. Não temos outra saída a não ser impedir isso. Se terroristas cruzassem a fronteira do Paraguai com o Brasil para se explodir em São Paulo, vocês também ergueriam uma cerca de segurança.

Folha - A partir dos acordos de Oslo (1993), houve um certo grau de cooperação entre israelenses e palestinos. Isso não mostra ser possível uma solução menos radical?
Morris -
O que os israelenses aprenderam é que não podem confiar nos palestinos, nem nos líderes nem nas pessoas. A maioria dos israelenses quer uma separação completa. Os palestinos nos forçaram a isso. Os dois povos devem ser separados de forma a haver a menor fricção possível.

Folha - Então não é mais possível apostar num processo de paz?
Morris -
Sou pessimista quanto à paz com os palestinos. A maior parte deles quer destruir Israel. Sou a favor de um acordo final, no qual seja criado um Estado palestino em quase toda a faixa de Gaza e a Cisjordânia. Eles que fiquem do lado deles, que cuidem da vida deles. E nós faremos o mesmo.

Folha - E as colônias judaicas nos territórios palestinos?
Morris -
Devem ser removidas da Cisjordânia e de Gaza. As que ficam muito perto da fronteira devem ser anexadas em troca de concessões de terras aos palestinos em outras áreas.

Folha - Em entrevista ao jornal "Haaretz", o sr. disse que, em 1948, os líderes israelenses deveriam ter expulsado todos os palestinos do recém-criado Estado de Israel. Pode explicar sua opinião?
Morris -
É simples. Se a guerra de 1948 tivesse acabado de forma mais clara, com a população judaica a oeste do rio Jordão e os palestinos do lado leste, os palestinos teriam um Estado na Jordânia ou a Jordânia teria se tornado o Estado deles. E o Oriente Médio viveria uma situação mais calma.

Folha - Mas, para um historiador, a solução parece muito simplista.
Morris -
Nada é simples. Mas dou um exemplo: nos anos 20, havia uma grande minoria de gregos na Turquia e uma grande minoria de turcos na Grécia. Houve uma guerra. Os turcos expulsaram os gregos, e os gregos expulsaram os turcos. E os dois países têm vivido em relativa paz desde então. É um exemplo de transferência de população que foi benéfica.

Folha - É possível falar em bom exemplo quando se fala em limpeza étnica?
Morris -
Não estou dizendo que isso deveria ocorrer ao redor do mundo, mas, em certos momentos da história, esse tipo de transferência pode ter sido benéfica. Mas não estou sugerindo que isso seja feito agora por Israel, seria imoral, impraticável. Estou apenas dizendo que, se tivesse ocorrido em 1948, a vida de ambos os povos teria sido melhor.

Folha - Uma solução como essa poderia ser aceita pelos israelenses, que teriam o melhor quinhão. Mas acho que os palestinos não estariam contentes se tivessem sido empurrados para a Jordânia.
Morris -
Os palestinos nunca estão felizes. Só atingirão a felicidade quando destruírem Israel. Mas, como historiador, vejo que os dois povos sofreram imensamente porque os resultados da guerra de 1948 não foram claros.

Folha - Quando falamos de limpeza étnica, transferência de populações, cerca de separação, tocamos em símbolos muito perigosos.
Morris -
Entendo o que você está dizendo, mas quero ficar o mais longe possível de terroristas suicidas. É mais importante para mim do que símbolos.


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