São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / ESPIONAGEM

Passaporte de candidatos é invadido

Funcionários do Departamento de Estado pesquisaram informações sobre documento sem necessidade

Chancelaria anuncia duas demissões; secretária se desculpa com Obama, que pede que o Congresso e o governo investiguem o caso

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Sob o campo de alta tensão em torno de tudo o que se relaciona aos atuais presidenciáveis dos EUA -no qual poucas palavras já derrubaram altos assessores de campanha-, caíram desta vez dois funcionários do Departamento de Estado americano.
A dupla foi demitida na quinta-feira por ter pesquisado, sem necessidade, o histórico de documentos relacionados ao passaporte do candidato democrata Barack Obama. Um terceiro funcionário foi advertido por participar do vasculhamento.
Ontem, o departamento divulgou que a democrata Hillary Clinton e o republicano John McCain também já tiveram seus documentos pesquisados irregularmente.
Espionar esse dados da privacidade dos cidadãos sem finalidade objetiva é proibido pelo departamento. Os arquivos contêm dados como telefone residencial, fotos, certidões de nascimento e de casamento, seguridade social (CPF).
Vez ou outra, há alguma informação mais picante. Em 1992, uma peneira irregular no histórico do então candidato Bill Clinton revelou que ele quis trocar sua cidadania para não ser convocado para a Guerra do Vietnã, o que lhe rendeu fama de antipatriótico.
No caso de Obama, o Departamento de Estado diz que tudo indica que se trata apenas de curiosidade dos funcionários, sem indícios de envolvimento de rivais políticos ou de jornalistas em busca de "cadávares no armário". Pesa contra essa versão o fato de que a ficha de Obama foi vasculhada três vezes: 9 de janeiro, 21 de fevereiro e 14 de março.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, telefonou para Obama para comentar o ocorrido em seu departamento. "Eu pedi desculpas e contei que eu mesma ficaria muito brava se soubesse que alguém olhou os meus arquivos de passaporte."
O caso de Hillary Clinton relatado pelas fontes do governo é mais curioso. No ano passado, foi sugerido a uma funcionária em treinamento que pesquisasse o nome de algum parente no banco de dados do governo, para ver como funcionava o sistema de busca. Em vez disso, ela pesquisou o nome de Hillary. Recebeu uma advertência.
McCain disse que deveria haver uma investigação completa -além de um pedido de desculpas. Obama sugeriu que membros do Congresso trabalhem com os investigadores do governo. O secretário da Justiça, Michael Mukasey, disse que haverá uma investigação se forem encontrados motivos.
O caso levantou polêmica: não é difícil levantar os documentos de qualquer cidadão americano. Funcionários de órgãos como o Departamento de Justiça, a Interpol e mesmo de governos estrangeiros têm essa possibilidade de acesso.


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