São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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Obama pode subsidiar 'papéis tóxicos'

Plano do governo dos EUA pretende se livrar de ativos podres que contaminam balanço dos bancos e geram insegurança

Pacote em três frentes, que pode ser lançado amanhã, é recebido com ceticismo; na AIG, bônus a executivos pode ter sido ainda maior

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Detalhes do novo plano do governo dos EUA para resgatar o sistema bancário do país começaram a emergir ontem, permitindo vislumbrar como será feita a compra de até US$ 1 trilhão em papéis "tóxicos" (sem valor de mercado), a partir de subsídios federais.
O plano poderá ser anunciado Amanhã mesmo -o governo tem pressa em amenizar a chuva de críticas que vem sofrendo pela demora em atacar o centro nervoso da crise econômica.
A ideia é agir em três frentes para convencer investidores privados a participar da compra dos ativos "podres". A primeira é a criação de uma entidade bancada pelo FDIC( órgão garantidor dos depósitos bancários nos EUA) para comprar e manter empréstimos. A partir de parcerias de investimentos, o órgão contribuiria com cerca de 85% do dinheiro necessário para adquirir ativos tóxicos.
A segunda é o estabelecimento de parcerias com quatro ou cinco firmas que gerenciam investimentos.
O Tesouro acompanharia cada US$1privadoinvestido na compra dos ativos com US$ 1 de verba federal.
A terceira é a expansão de empréstimos através de uma linha de crédito batizada de Talf, parceria entre o Tesouro e o Fed (Banco Central americano), que deve entrar em funcionamento na próxima quarta.
O novo plano é uma evolução de um esboço divulgado pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, há cerca de um mês. Na ocasião, o programa foi considerado superficial.
Mas, mesmo antes de oficializada, a nova estratégia governamental já sofre com certo ceticismo.
Há dificuldades em determinar o preço dos ativos tóxicos, que há muito deixaram de ser comercializados.
A esperança do Tesouro é que a entrada de investidores privados na equação crie valor de mercado para os papéis.
Mas, no clima de desconfiança de Wall Street em relação ao governo, acreditar em parcerias com investidores privados é arriscado. A atmosfera ficou mais carregada coma tentativa do Congresso de impor impostos sobre o pagamento de bônus de empresas que recebem ajuda federal, na esteira do escândalo da seguradora AIG.
A AIG pagou US$ 165 milhões em bônus depois de receber US$ 170 bilhões em resgates. Mas o valor pode chegar a US$ 218 milhões, segundo novos dados em investigação.
Um dos mais afetados pelo escândalo é o próprio Geithner, que sofre pressão por não ter impedido o pagamento dos bônus.
Mas o governo ainda banca o secretário. Depois de manifestar "confiança total" em Geithner em diversas ocasiões, o presidente Barack Obama afirmou em trechos de entrevista divulgados ontem que não aceitaria um pedido de renúncia.
"Eu diria a ele: 'Sinto muito, amigo, o emprego ainda é seu'", afirmou Obama ao programa "60 Minutes", da rede CBS.


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