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Com 900 mil afegãos, Irã concentra 6% do PIB do país vizinho
Maioria fugiu da ocupação soviética, nos anos 80, e hoje exporta renda para casa; instabilidade atual os faz criar raiz no país anfitrião
Urbanos e assimilados, refugiados são mão-de-obra barata para iranianos, mas também drenam assistência do regime dos aiatolás
Reuters
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Refugiado afegão em Zahedan, Irã
MARINA MESEGUER TORRES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEERÃ
A fronteira que separa o Irã
do Afeganistão é uma fonte
constante de problemas para a
república islâmica há 30 anos.
Por ela passam diariamente
milhares de refugiados e imigrantes ilegais -uma multidão
confusa de homens e mulheres
que fogem do conflito e da pressão do Taleban, misturados a
contrabandistas e traficantes.
São invisíveis, mas estão por
toda parte. Homens de pele escurecida e roupa suja que passam longas jornadas arrastando carrinhos de mercadorias
pelas vielas do bazar ou nos andaimes dos muitos edifícios em
construção em Teerã. Sentam-se a seu lado nos ônibus, olhando fotos em seus celulares, pequenos símbolos de seu progresso pessoal.
Essa turba é parte dos mais
de 900 mil afegãos e 50 mil iraquianos que fizeram do Irã o
segundo país que acolhe mais
refugiados. Só o supera, e por
muito pouco, o Paquistão.
Do outro lado, o enorme fluxo de afegãos para o exterior
não é só consequência do conflito armado entre milícias pós-Taleban e tropas da Otan, a
aliança militar ocidental.
A maioria dos exilados é formada por hóspedes antigos que
vivem no Irã desde a ocupação
soviética (1979-1989), quando o
Afeganistão se tornou um dos
mais convulsos e violentos países do mundo. A guerra civil
que sucedeu a retirada russa, a
repressão dos fundamentalistas do Taleban desde sua ascensão em 1996 até sua queda em
2001, a ofensiva americana e a
instabilidade atual, tudo isso
fez dos afegãos um povo de apátridas, que no Irã já chegaram a
ser mais de 3 milhões.
Mão-de-obra
Os refugiados afegãos são a
mão-de-obra barata e flexível
de que o regime dos aiatolás
precisava para acelerar a economia iraniana.
Eles vivem majoritariamente
nos núcleos urbanos (a maioria
abandonou os campos de refugiados da fronteira). Destes,
60% chegaram há mais de 15
anos, e seus vínculos com o país
de origem já começam a se perder. Não querem voltar a um
país ainda inseguro e cuja economia está devastada. No Irã,
ganham quatro vezes o que ganhariam em Cabul ou Candahar. Calcula-se que os refugiados enviem a suas famílias cerca de US$ 500 milhões por ano,
6% do PIB afegão.
Muitos já não pensam em
voltar: no Irã encontraram estabilidade e fonte de renda.
Mas há também os que simplesmente não podem, como os
hazaras, afegãos descendentes
dos mongóis que há séculos vivem no centro do Afeganistão e
seguem a vertente xiita do islã.
Eles sempre foram um povo
marginalizado, por motivos
tanto religiosos quanto étnicos:
sua escravidão foi permitida
até 1923. Os membros do Taleban, defensores radicais da fé
sunita, tentaram exterminá-los, acusando-os de heresia. Os
hazaras veem o Irã, o maior
país xiita do mundo islâmico,
como refúgio perfeito. O Afeganistão deixou de ser sua pátria.
Mas se os exilados afegãos
beneficiaram a muitos empresários iranianos, também é verdade que causam dor de cabeça
aos governantes do país.
O Estado tem que se encarregar das crianças abandonadas
pelas famílias exiladas pobres e
acaba destinando muitos recursos para combater o aumento das atividades ilegais, especialmente o tráfico de drogas,
de armas e de pessoas.
Por isso, apesar das rivalidades com Israel e os EUA, a linha
de frente do Exército iraniano
está na fronteira porosa de
mais de 1.600 quilômetros de
extensão que separa o Irã do
Afeganistão e do Paquistão.
Tradução de CLARA ALLAIN
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