São Paulo, terça, 22 de abril de 1997.

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PERSONALIDADE
General derrubou o sogro de sua filha, Alfredo Stroessner, em 1989 e restaurou a democracia no país
Morre o paraguaio Andrés Rodríguez, 73

das agências internacionais

O general Andrés Rodríguez, que derrubou o seu contraparente Alfredo Stroessner e ocupou o seu lugar na Presidência do Paraguai entre 1989 e 1993, morreu às 6h05 de ontem (9h05 em Brasília) em Nova York, de câncer, aos 73 anos.
Rodríguez foi o responsável pela transição do Paraguai à democracia, após 34 anos da ditadura de Stroessner.
O sucessor do presidente morto, Juan Carlos Wasmosy, está no interior do país e prometeu uma mensagem pública sobre ele ainda para ontem -o que não havia ocorrido até as 17h.
O Congresso decretou luto em sua sede e ofereceu o Senado para o velório. Após deixar o governo, Andrés Rodríguez se tornou senador vitalício. Vários parlamentares elogiaram a atuação de Rodríguez no golpe de 1989, mas disseram que vão manter as investigações de uma comissão parlamentar sobre sua fortuna.
"Ele se tornou um multimilionário à custa da pobreza do país. Durante 30 anos apoiou a ditadura de Stroessner e durante esse tempo enriqueceu", disse o senador Basilio Nikiporov, do Partido Encontro Nacional e presidente da comissão,
Avalia-se que a família de Rodríguez possui US$ 1,5 bilhão em bens, que incluem prédios de apartamentos em Assunção, Rio, Punta del Este (Uruguai), Buenos Aires e Miami, além de uma réplica do castelo de Fontainebleau (França) na capital. Ele era suspeito de envolvimento com o narcotráfico e acusado de nepotismo.
O corpo de Andrés Rodríguez deveria embarcar para Assunção ainda ontem, em um vôo da American Airlines. Ele havia sofrido uma cirurgia de câncer colo-retal em 23 de janeiro passado.
Um mês depois, a doença passou para o fígado e ele voltou a ser operado. Na última semana, ele apresentou outras complicações, inclusive deficiência renal.
"Eu preferia que Stroessner tivesse morrido antes do que Rodríguez", disse o presidente da Câmara, Atilio Martínez.
Stroessner, 84, vive em Brasília. Há uma ordem de prisão contra ele no Paraguai, mas o governo brasileiro renova periodicamente seu asilo, sob o argumento de que ele é um perseguido político.
Rodríguez foi seu principal auxiliar durante mais de 30 anos, a partir da década de 50. A filha de Rodríguez foi casada com o filho mais novo de Stroessner, também chamado Alfredo, que morreu em 1994 por ingestão excessiva de barbitúricos.
Segundo analistas políticos e militares, Rodríguez era o único que tinha condições de derrubar Stroessner, pois comandava o Primeiro Corpo do Exército, nos arredores de Assunção.
Um vez no governo, o general convocou eleições para quatro anos depois -manter o calendário e a palavra de deixar o governo foi seu gesto mais elogiado por políticos ontem, após a notícia de sua morte.
Seu governo restaurou a liberdade de imprensa, as liberdades pessoais, reformou a Constituição e permitiu a reorganização dos partidos no Paraguai.
O presidente da Argentina, Carlos Menem, lembrou que Rodríguez foi o responsável pela adesão de seu país ao Mercosul. "Foi um dos que levantaram a bandeira da integração regional", disse.

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