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SAÚDE
Agência americana contradiz relatório científico de 1999 e é acusada de servir a interesses políticos conservadores
FDA condena maconha para fins médicos
GARDINER HARRIS
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
A Food and Drug Administration, agência que regula medicamentos e alimentos nos EUA, informou anteontem que não existem estudos científicos sólidos
que confirmem a utilidade médica da maconha. Com isso, contradisse uma revisão do assunto feita
em 1999 por um comitê de cientistas altamente conceituados.
O anúncio mergulha a agência
de saúde em mais uma batalha
política acirrada.
Susan Bro, uma porta-voz da
FDA, disse que a declaração é fruto de uma revisão feita por organismos federais de combate às
drogas, regulatórios e de pesquisa, que concluiu que "a maconha
fumada não possui emprego médico comprovado ou atualmente
aceito nos EUA e não constitui
tratamento médico aprovado".
Bro afirmou que a agência divulgou o comunicado em resposta a diversas indagações feitas pelo Congresso, mas que provavelmente não fará nada para implementá-lo. "Qualquer ação de implementação baseada nesta conclusão teria de ser feita pela DEA
[agência de combate às drogas], já
que isso não se enquadra na autoridade regulatória da FDA."
Onze Estados americanos já legalizaram o uso médico da maconha, mas a DEA e o diretor da política nacional de controle das
drogas, John Walters, se opõem a
essas leis.
Uma decisão de 2005 da Suprema Corte autorizou o governo federal a prender qualquer pessoa
que esteja consumindo maconha,
mesmo para finalidades médicas
e mesmo nos Estados que legalizaram seu uso.
Tanto os parlamentares adversários do uso da maconha para
fins medicinais quanto os partidários dela já tentaram conseguir
o apoio da FDA para seus pontos
de vista. O deputado republicano
Mark Souder, de Indiana, um adversário ferrenho das iniciativas
relacionadas ao uso medicinal da
maconha, propôs há dois anos a
adoção de uma lei pela qual a FDA
teria de emitir um parecer sobre
as propriedades medicinais da erva. Um porta-voz do deputado
disse que Souder acredita que os
esforços para legalizar os usos
medicinais da maconha constituem uma fachada para os esforços para legalizar o consumo de
maconha para qualquer fim.
Um porta-voz de John Walters,
Tom Riley, saudou a declaração
da FDA, dizendo que ela acabará
com o que ele qualificou como "a
bizarra discussão pública" que levou à legalização parcial da maconha para fins medicinais.
A declaração da FDA contradiz
diretamente uma revisão apresentada em 1999 pelo Instituto de
Medicina, que integra a Academia
Nacional de Ciências, a mais respeitada agência nacional de assessoria científica. Essa revisão considerou a maconha "moderadamente apropriada para condições
particulares, tais como a náusea e
os vômitos induzidos por quimioterapia e o desgaste ao organismo provocado pela Aids".
John Benson, co-presidente do
comitê do Instituto de Medicina,
que examinou as pesquisas sobre
os efeitos da maconha, disse em
entrevista que a declaração feita
anteontem e a revisão combinada
realizada pelas outras agências estão erradas. Benson, que é professor de medicina interna no Centro Médico da Universidade de
Nebraska, disse que o governo federal "adora ignorar" o relatório
de 1999. "Ele preferiria que ele
nunca tivesse sido feito."
Na opinião de alguns cientistas
e legisladores, a declaração da
FDA sobre a maconha demonstra
que a política ganhou prioridade
sobre a ciência. "Infelizmente, esse é mais um exemplo de um caso
em que a FDA faz pronunciamentos mais movidos pela ideologia
do que pela ciência", disse Jerry
Avorn, professor de medicina na
Escola de Medicina de Harvard.
O deputado democrata Maurice
Hinchey, que patrocinou uma lei
que autoriza o emprego médico
da maconha, disse que a declaração reflete a influência da DEA,
que, segundo ele, pressiona a FDA
há muito tempo para que esta lhe
ajude no combate à maconha.
A declaração da FDA disse que
as iniciativas estaduais que legalizam o uso da maconha "se chocam com os esforços para assegurar que os medicamentos sejam
submetidos ao rigoroso escrutínio científico do processo de
aprovação pela FDA".
Mas cientistas que estudam o
uso medicinal da maconha disseram, em entrevistas, que o governo federal desencorajou ativamente tais pesquisas.
Tradução de Clara Allain
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