São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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ISRAEL

Premiê rompe com partidos religiosos, mas ainda pode haver acordo; "racha" poderia precipitar eleição

Sharon tenta contornar crise no governo

DA REDAÇÃO

Integrantes da coalizão do premiê de Israel, Ariel Sharon, tentavam ontem contornar uma grave crise no governo, que poderia obrigá-lo a ter de governar com frágil maioria no Parlamento ou enfrentar eleições antecipadas.
Na segunda-feira, Sharon rompeu com dois partidos ultra-ortodoxos que ajudavam a sustentá-lo, o Shas e o Judaísmo Unido da Torá (JUT). Sharon disse ontem que não voltaria a negociar com eles até nova votação, hoje, de um pacote econômico emergencial para redução de gastos públicos -tema que deu origem à crise.
O premiê demitiu ministros e vice-ministros do Shas e do JUT após terem se negado a apoiar o governo em votação anteontem, quando o pacote foi rejeitado.
Com isso, se as partes não entrarem em acordo, Sharon, que contava com maioria no Parlamento de 82 dos 120 deputados, passaria a contar com apenas 60. Bastaria assim que um parlamentar governista apoiasse moção de desconfiança da oposição para derrubar o governo.
Analistas políticos disseram ontem que ainda há a possibilidade de uma volta atrás. A demissão dos ministros só passa a vigorar à meia-noite de hoje. Tanto o premiê quanto os partidos ainda teriam interesse em cooperar.
A economia israelense tem sido duramente afetada pelo conflito com os palestinos. O déficit público vem aumentando em razão de gastos com equipamento militar e segurança. O governo tenta equilibrar suas contas cortando isenções e incentivos fiscais. Isso deve ser sentido nos bolsos dos mais pobres e mais religiosos -justamente o eleitorado do Shas, partido que é hoje a terceira maior força política, com 17 deputados.
O líder do Shas, Eli Yishai, deixou as portas abertas para negociações. "Se o premiê estiver aberto para negociar, vamos negociar." Horas depois, endureceu o discurso e disse que "se o premiê quer eleições, iremos às eleições".
Zeev Boim, secretário da coalizão e integrante do Likud (direita, partido de Sharon), adotou tom conciliatório: "Não vejo eleições no horizonte". Ele confirmou estar tentando convencer outros partidos como o Shinui (centro) e a lista União Nacional (direita nacionalista) a aderir ao governo.
Sem o apoio do Shas, o premiê passaria a depender do Partido Trabalhista (centro-esquerda), que, apesar de estar no governo, desaprova a política de Sharon com relação aos palestinos.
Os trabalhistas, por sinal, foram parcialmente responsáveis pela derrota governista na votação do pacote econômico -só 14 de seus 24 deputados apareceram para votar. Parte cada vez maior do partido exige que ele retire o apoio a Sharon.
A popularidade de Sharon está em alta após a ofensiva militar do Exército para "destruir a infra-estrutura do terror" palestino na Cisjordânia. Há quem diga no país que ele estaria planejando precipitar as eleições em razão do momento político favorável.

Morte em Gaza
Disparos de soldados israelenses mataram um palestino de 17 anos em Rafah, ao sul da faixa de Gaza. O Exército disse que abriu fogo ao ser atacado com pedras e explosivos. Os militares fizeram novas incursões ontem em Belém e Jenin, na Cisjordânia, em busca de suspeitos por atos terroristas.


Com agências internacionais

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