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AMÉRICA LATINA
Violência na região que já foi governada por Uribe pode pôr em xeque seus métodos; 8 morrem em choques na cidade
Medellín é teste para favorito na Colômbia
ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN
Com o tema da violência praticamente monopolizando o debate para a eleição presidencial do
próximo domingo na Colômbia,
a polêmica experiência do candidato favorito, o direitista Alvaro
Uribe Vélez, como governador de
Antioquia, Departamento (Estado) que concentra cerca de 35%
de todo o conflito do país, deverá
ser posta à prova nas urnas.
Em Antioquia estão presentes
todos os atores do conflito colombiano: guerrilheiros das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN
(Exército de Libertação Nacional), paramilitares das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) e
narcotraficantes, além de dezenas
de grupos organizados remanescentes da época em que a capital
do Departamento, Medellín, era
mundialmente conhecida por
abrigar o cartel do narcotráfico
chefiado por Pablo Escobar (morto em 1992).
"Imagine os morros do Rio de
Janeiro tomados pelo tráfico.
Acrescente aí guerrilha e paramilitares e você terá uma dimensão
do conflito em Antioquia", diz
Manoel Alberto Alonso, diretor
do Centro de Estudos Políticos da
Universidade de Antioquia.
A violência faz parte do dia-a-dia da região. Ontem, oito pessoas
morreram, entre eles duas crianças, durante confrontos de tropas
do Exército com as Farc e o ELN
em plena rua em um bairro central de Medellín. Outras 35 pessoas ficaram feridas.
O atual governador do Departamento, Guillermo Gaviria, foi sequestrado há um mês pelas Farc quando participava de uma marcha pacifista pelo interior.
Autoridade
Em sua campanha, baseada
principalmente na idéia da autoridade contra os grupos armados
ilegais, Uribe, que aparece nas últimas pesquisas com 49,3% das
intenções de voto, tem defendido
sua gestão como governador, entre 1995 e 1997, como exitosa em
conseguir a "pacificação" do Departamento.
Os adversários, como o candidato liberal Horacio Serpa (centro, 23% das intenções de voto),
porém, o acusam de ter facilitado
a proliferação dos paramilitares
na região, por meio do estabelecimento de cooperativas privadas
de segurança, chamadas Convivir. Uribe nega.
A ativista Gloria Cuartas, prefeita de Apartadó, cidade de 100 mil
habitantes de Antioquia, no mesmo período de Uribe como governador, diz que a ação das Convivir, ao contrário do que o candidato alega, agudizou o conflito na
região.
"Cerca de 140 mil pessoas deixaram a região por causa da violência durante seu governo. Na minha cidade, 1.200 pessoas foram
assassinadas por paramilitares
nesse período, entre eles muitos
professores, ativistas de direitos
humanos e sindicalistas", afirma
ela.
Para Freddy Escobar, professor
da Universidade de Antioquia, a
aparente calma em algumas regiões do Departamento é consequência da proliferação dos paramilitares. "Quando as Farc são
desalojadas pelos paramilitares,
em algumas zonas, a violência cai.
Mas isso é porque não é a mesma
coisa você ter dois grupos disputando territórios que um só grupo
controlando totalmente a região."
A população, dividida, vê com
desconfiança as mensagens recebidas durante a campanha. "Ainda não decidi meu voto. Dizem
que Alvaro Uribe está na frente,
mas, se é verdade que ele apóia os
paramilitares, como é que vai haver paz?", questiona a aposentada
Irene Gaviria, 74, moradora de favela na zona norte de Medellín.
Já sua vizinha Yomar Astrid
Sánchez, 29, dona-de-casa, declara seu voto no ex-governador,
que, segundo ela, "pode melhorar
a situação". "Nunca votei na minha vida, mas quero votar no domingo por Alvaro Uribe", diz.
Relatório da ONU
Uma missão da ONU que investigou a matança de 119 civis na cidade de Bojayá (Departamento de Chocó, vizinho a Antioquia),
há três semanas, divulgou ontem
um relatório no qual responsabiliza as Farc pelas mortes, mas adverte sobre a suposta conivência
do Exército com a ação dos paramilitares na região.
Os civis foram mortos após a
explosão de uma bomba na igreja
do povoado, na qual buscavam
refúgio para o confronto entre paramilitares e guerrilheiros pelo
controle territorial. O massacre
foi o pior em quase quatro décadas de guerra civil.
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