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MÍDIA
Em entrevista a semanário, jornalista diz que problemas pessoais e pressão por ser negro e jovem o levou a inventar informações
Repórter que fraudou "NYT" culpa pressão
DE NOVA YORK
O ex-repórter do jornal "The
New York Times" Jayson Blair
disse que inventou informação
em reportagens que escreveu por
causa de problemas pessoais e da
pressão por ser jovem e negro.
Sua primeira longa explicação
sobre o episódio foi publicada ontem pelo jornal semanal "The
New York Observer".
"Eu era novo, sob muita pressão. Eu era negro no "Times", o
que é algo que prejudica você tanto quanto te ajuda. Certamente tenho problemas de saúde, o que provavelmente me levaram a ter
que "matar" o jornalista Jayson
Blair. Eu iria matar a mim mesmo
ou iria "matar" o jornalista. Para
que o ser humano pudesse viver,
o jornalista tinha que morrer."
Blair, 27, reconheceu ter problemas com álcool e cocaína. "Drogas e álcool sem dúvida fizeram parte da minha automedicação",
afirmou. Essa seria a causa, segundo ele, de uma das maiores
correções que o jornal publicou em uma reportagem sua, no relato de um show de rock após os atentados de 11 de setembro de
2001. "Eu estava bêbado no trabalho", disse ele.
Mesmo admitindo os erros, o
jornalista contesta parte da versão
do "Times". Afirma que seus erros se concentram neste ano. Diz,
por exemplo, que, ao contrário do
que publicou o "Times", não inventou uma de suas reportagens
de maior repercussão, sobre o atirador que apavorou Washington
no ano passado.
O "Times" disse que não comentará a entrevista.
Erros anteriores que motivaram
correções, diz, não foram intencionais. Mas reconheceu que teve
mau comportamento no jornal
em alguns momentos, quando foi
obrigado a trabalhar com editores
que classificou como "idiotas".
Ainda assim, disse achar que mereceu ser promovido.
Thomas Blair, pai do jornalista,
confirmou algumas das histórias
que o filho contara ao jornal e que
agora vinham sendo apontadas
como invenções -afirmou ter
trabalhado sim na Nasa nos anos
80 e que eles tiveram um parente
no corredor da morte de uma prisão americana.
Blair disse se irritar com comparações com outro caso semelhante, o do jornalista Stephen Glass.
Ex-repórter da revista "The New
Republic", ele foi descoberto inventando histórias anos atrás e,
coincidentemente, acaba de lançar um livro sobre suas reportagens -vendido nas prateleiras de
ficção.
"Não entendo porque eu sou a
contratação de ação afirmativa
enquanto Glass é o garoto brilhante, já que, na minha perspectiva, e eu sei que não deveria estar dizendo isso, eu enganei algumas
das pessoas mais brilhantes do jornalismo. Eles são todos tão espertos, mas eu estava sentado bem debaixo do nariz deles enganando-os. Se eu sou uma contratação da ação afirmativa, como eles não me pegaram?", disse.
Ainda assim, aponta que o fato de ser negro influenciou seu destino. "Qualquer um que diga que minha cor não teve papel na minha carreira no "Times" estará
mentindo. Tanto preferências raciais quanto racismo existiram. E
eu diria que eles não se contrabalançaram. O racismo teve impacto muito maior", afirmou.
Blair criticou o jornal pela forma que publicou sua história (um
dossiê de quatro páginas numa
edição de domingo). "Fico triste
por minha participação nos problemas que eles estão tendo agora
e pelo que aconteceu com meus antigos colegas -mas sinto que
eles fizeram isso a eles mesmos. O "Times" fez isso a ele mesmo ao escrever uma história que tentava pôr a culpa nos ombros de um homem sem examinar como a instituição permitiu que aquilo acontecesse. Uma história assim não é
crível", disse.
Agora, dedica-se a escrever um livro. Sua trajetória também deverá virar filme. Blair lembrou, porém, que há gente no "Times" irritada com o fato de que ele quer escrever um livro e que acha que ele deveria se tratar. "A única maneira de eu fazer isso é se eles começarem a pagar minhas contas."
(ROBERTO DIAS)
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