São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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Acordo encerra 18 meses de crise política no Líbano

Facções prometem renunciar à luta armada e concordam sobre formação de novo governo; Hizbollah terá minoria de bloqueio

DA REDAÇÃO

Representantes do governo libanês pró-Ocidente e da oposição liderada pelo Hizbollah, que tem apoio do Irã e da Síria, assinaram na madrugada de ontem (noite de terça-feira no Brasil) um acordo para pôr fim ao impasse político que deixou o Líbano sem presidente por 18 meses e levou o país à beira de uma nova guerra civil.
O acordo foi selado após cinco dias de negociações em Doha, Qatar, mediadas por chanceleres de oito países árabes.
Apesar de não solucionar de vez os problemas de repartição de poder no Líbano, o acordo abre caminho para que as facções político-confessionais tratem suas divergências na esfera política. Governo e oposição se comprometem a "não voltar a utilizar as armas, sob qualquer circunstância, para conseguir seus objetivos políticos".
Para evitar novos confrontos, o acordo estipula uma ampla reformulação do Executivo libanês, que voltará a ser formado por todos os partidos com representação parlamentar, como ocorria até novembro de 2006. Naquele mês, o Hizbollah e a Amal, os dois partidos de base xiita, deixaram o governo, no qual detinham cinco ministérios. Fortalecidos pela atuação na guerra contra Israel, em julho e agosto de 2006, eles exigiam mais poder.
Agora, segundo o acordo, o Hizbollah terá 11 de 30 pastas. Na prática, isso significa que o grupo xiita teve atendida a sua principal exigência, que era obter uma minoria de bloqueio. O primeiro-ministro continuará sendo um sunita, como prevê a Constituição do país.
As partes também concordaram em realizar no domingo uma sessão parlamentar para eleger o chefe das Forças Armadas, general Michel Suleiman, presidente do país -cargo vago desde a saída de Émile Lahoud, político pró-Síria, em novembro passado.

Imagem do Hizbollah
Em outra ponto considerado uma vitória do Hizbollah, o acordo prevê uma mudança na lei eleitoral, com a divisão da capital, Beirute, em três circunscrições, e a repartição de suas 19 cadeiras no Parlamento entre cristãos, sunitas e xiitas. A medida beneficiará os aliados cristãos do Hizbollah.
Mas o Hizbollah também cedeu. O grupo xiita, além de se comprometer a não recorrer às armas, deu garantias de que respeitará a unidade nacional.
Analistas avaliam que o Hizbollah precisava restaurar a sua imagem, comprometida pela virulência dos combates do início do mês, quando o grupo tomou o controle de áreas sunitas a oeste de Beirute. Os confrontos deixaram 60 mortos e ressuscitaram o trauma da guerra civil de 1975 a 1990.
Foi a retomada da violência que levou Qatar a convocar as facções libanesas à negociação. Para evitar bate-bocas, houve poucos encontros diretos entre as delegações. Os mediadores atuaram como mensageiros.
A assinatura do acordo é considerada uma vitória de Qatar, um dos menores países do golfo, mas cuja liderança relativamente progressista vem buscando visibilidade diplomática.
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, avaliou que "nenhuma das duas partes é vencedora ou vencida". Até inimigos do grupo xiita, como os governos de França e EUA, elogiaram o documento.
Até a guerra civil, o Líbano foi controlado pelos cristãos maronitas. Os sunitas tinham algum poder, e os xiitas eram marginalizados. Durante a guerra, os sunitas cresceram em importância, mas os xiitas continuaram à margem. Hoje, fazem parte da coalizão pró-Ocidente sunitas, drusos e parte dos cristãos. Os xiitas, pró-Síria e pró-Irã, têm apoio do ex-comandante militar Michel Aoun, cuja agremiação tem maioria de cristãos maronistas.


Com agências internacionais


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