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Acordo encerra 18 meses de crise política no Líbano
Facções prometem renunciar à luta armada e concordam sobre formação de novo governo; Hizbollah terá minoria de bloqueio
DA REDAÇÃO
Representantes do governo
libanês pró-Ocidente e da oposição liderada pelo Hizbollah,
que tem apoio do Irã e da Síria,
assinaram na madrugada de
ontem (noite de terça-feira no
Brasil) um acordo para pôr fim
ao impasse político que deixou
o Líbano sem presidente por 18
meses e levou o país à beira de
uma nova guerra civil.
O acordo foi selado após cinco dias de negociações em Doha, Qatar, mediadas por chanceleres de oito países árabes.
Apesar de não solucionar de
vez os problemas de repartição
de poder no Líbano, o acordo
abre caminho para que as facções político-confessionais tratem suas divergências na esfera
política. Governo e oposição se
comprometem a "não voltar a
utilizar as armas, sob qualquer
circunstância, para conseguir
seus objetivos políticos".
Para evitar novos confrontos,
o acordo estipula uma ampla
reformulação do Executivo libanês, que voltará a ser formado por todos os partidos com
representação parlamentar,
como ocorria até novembro de
2006. Naquele mês, o Hizbollah e a Amal, os dois partidos
de base xiita, deixaram o governo, no qual detinham cinco ministérios. Fortalecidos pela
atuação na guerra contra Israel,
em julho e agosto de 2006, eles
exigiam mais poder.
Agora, segundo o acordo, o
Hizbollah terá 11 de 30 pastas.
Na prática, isso significa que o
grupo xiita teve atendida a sua
principal exigência, que era obter uma minoria de bloqueio. O
primeiro-ministro continuará
sendo um sunita, como prevê a
Constituição do país.
As partes também concordaram em realizar no domingo
uma sessão parlamentar para
eleger o chefe das Forças Armadas, general Michel Suleiman, presidente do país -cargo
vago desde a saída de Émile Lahoud, político pró-Síria, em novembro passado.
Imagem do Hizbollah
Em outra ponto considerado
uma vitória do Hizbollah, o
acordo prevê uma mudança na
lei eleitoral, com a divisão da
capital, Beirute, em três circunscrições, e a repartição de
suas 19 cadeiras no Parlamento
entre cristãos, sunitas e xiitas.
A medida beneficiará os aliados
cristãos do Hizbollah.
Mas o Hizbollah também cedeu. O grupo xiita, além de se
comprometer a não recorrer às
armas, deu garantias de que
respeitará a unidade nacional.
Analistas avaliam que o Hizbollah precisava restaurar a sua
imagem, comprometida pela
virulência dos combates do início do mês, quando o grupo tomou o controle de áreas sunitas
a oeste de Beirute. Os confrontos deixaram 60 mortos e ressuscitaram o trauma da guerra
civil de 1975 a 1990.
Foi a retomada da violência
que levou Qatar a convocar as
facções libanesas à negociação.
Para evitar bate-bocas, houve
poucos encontros diretos entre
as delegações. Os mediadores
atuaram como mensageiros.
A assinatura do acordo é considerada uma vitória de Qatar,
um dos menores países do golfo, mas cuja liderança relativamente progressista vem buscando visibilidade diplomática.
O secretário-geral da Liga
Árabe, Amr Moussa, avaliou
que "nenhuma das duas partes
é vencedora ou vencida". Até
inimigos do grupo xiita, como
os governos de França e EUA,
elogiaram o documento.
Até a guerra civil, o Líbano foi
controlado pelos cristãos maronitas. Os sunitas tinham algum poder, e os xiitas eram
marginalizados. Durante a
guerra, os sunitas cresceram
em importância, mas os xiitas
continuaram à margem. Hoje,
fazem parte da coalizão pró-Ocidente sunitas, drusos e parte dos cristãos. Os xiitas, pró-Síria e pró-Irã, têm apoio do ex-comandante militar Michel
Aoun, cuja agremiação tem
maioria de cristãos maronistas.
Com agências internacionais
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