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RELIGIÃO
Visita polêmica começa amanhã
Ortodoxo russo ataca ida do papa à Ucrânia
PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU
"A visita do papa vai apenas
perpetuar uma situação de injustiça, dor e sofrimento", diz o padre Vsevolod Chaplin, porta-voz
da Igreja Ortodoxa Russa. "Ela vai
contribuir para a deterioração das
relações entre as duas igrejas."
A virulência com que a hierarquia ortodoxa russa está criticando a visita de cinco dias do papa à
Ucrânia, que começa amanhã,
tem suas raízes no amargo conflito religioso entre as igrejas Ortodoxa e Católica Grega no oeste da
Ucrânia desde o fim da URSS.
Em suas visitas a Kiev e Lviv, a
previsão é que o papa pregue para
3 milhões de pessoas. Em Lviv,
trabalhadores correm para terminar as reformas na catedral de são
Jorge e na residência episcopal
que vai hospedar João Paulo 2º.
Na era soviética, a Igreja Católica Grega, de presença forte no
oeste da Ucrânia, era proscrita.
Suas igrejas foram demolidas,
usadas para outras finalidades ou
entregues à Igreja Ortodoxa Russa. Desde 1991, os católicos gregos, dos quais há cerca de 5 milhões, vêm tomando suas igrejas
de volta. Moscou diz que seus padres vêm sendo espancados e seus
fiéis, expulsos de suas igrejas.
O papa já descobriu que mesmo
sua observação mais inofensiva é
capaz de suscitar reações iradas
da Igreja Ortodoxa Russa. Esta semana ele disse a milhares de peregrinos em Roma que espera que
sua visita ajude os ucranianos a
reencontrarem sua fé. "O povo
ucraniano está firme em sua fé
tradicional e não precisa de intervenção externa para atuar como
catalisador de seu renascimento
espiritual", respondeu um porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa.
A visita de João Paulo 2º, primeiro papa a ir à Ucrânia, vai reforçar o senso de identidade da
Igreja Católica Grega, que, até dez
anos atrás, era obrigada a sobreviver clandestinamente. Além disso, ela tem atuado como espinha
dorsal do nacionalismo ucraniano. A Igreja Católica Grega é ortodoxa em seus rituais e sua liturgia,
mas, desde 1596, reconhece o papa como seu líder.
O papa deve beatificar 27 mártires mortos pelos soviéticos ou nazistas. Um deles é o padre Yakym
Senkivsky, que teria sido morto
pela polícia secreta soviética em
1941, fervido num caldeirão. Outro sacerdote que será beatificado
é Emilian Kovch, que morreu no
campo de concentração nazista
de Majdanek, na Polônia, em
1944, depois de ser preso por ajudar judeus.
Os católicos gregos disseram esperar que o papa inicie o processo
de canonização do arcebispo
Theodor Romza, que teria sido
envenenado num hospital em
1947 por ordem de Stálin.
A chegada do papa a Kiev vai
fortalecer politicamente o presidente Leonid Kuchma, que está
na defensiva desde o ano passado,
quando seu nome foi envolvido
como suspeito no assassinato do
jornalista Georgy Gongadze.
Tradução de Clara Allain
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