São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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RELIGIÃO

Visita polêmica começa amanhã

Ortodoxo russo ataca ida do papa à Ucrânia

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

"A visita do papa vai apenas perpetuar uma situação de injustiça, dor e sofrimento", diz o padre Vsevolod Chaplin, porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa. "Ela vai contribuir para a deterioração das relações entre as duas igrejas."
A virulência com que a hierarquia ortodoxa russa está criticando a visita de cinco dias do papa à Ucrânia, que começa amanhã, tem suas raízes no amargo conflito religioso entre as igrejas Ortodoxa e Católica Grega no oeste da Ucrânia desde o fim da URSS.
Em suas visitas a Kiev e Lviv, a previsão é que o papa pregue para 3 milhões de pessoas. Em Lviv, trabalhadores correm para terminar as reformas na catedral de são Jorge e na residência episcopal que vai hospedar João Paulo 2º.
Na era soviética, a Igreja Católica Grega, de presença forte no oeste da Ucrânia, era proscrita. Suas igrejas foram demolidas, usadas para outras finalidades ou entregues à Igreja Ortodoxa Russa. Desde 1991, os católicos gregos, dos quais há cerca de 5 milhões, vêm tomando suas igrejas de volta. Moscou diz que seus padres vêm sendo espancados e seus fiéis, expulsos de suas igrejas.
O papa já descobriu que mesmo sua observação mais inofensiva é capaz de suscitar reações iradas da Igreja Ortodoxa Russa. Esta semana ele disse a milhares de peregrinos em Roma que espera que sua visita ajude os ucranianos a reencontrarem sua fé. "O povo ucraniano está firme em sua fé tradicional e não precisa de intervenção externa para atuar como catalisador de seu renascimento espiritual", respondeu um porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa.
A visita de João Paulo 2º, primeiro papa a ir à Ucrânia, vai reforçar o senso de identidade da Igreja Católica Grega, que, até dez anos atrás, era obrigada a sobreviver clandestinamente. Além disso, ela tem atuado como espinha dorsal do nacionalismo ucraniano. A Igreja Católica Grega é ortodoxa em seus rituais e sua liturgia, mas, desde 1596, reconhece o papa como seu líder.
O papa deve beatificar 27 mártires mortos pelos soviéticos ou nazistas. Um deles é o padre Yakym Senkivsky, que teria sido morto pela polícia secreta soviética em 1941, fervido num caldeirão. Outro sacerdote que será beatificado é Emilian Kovch, que morreu no campo de concentração nazista de Majdanek, na Polônia, em 1944, depois de ser preso por ajudar judeus.
Os católicos gregos disseram esperar que o papa inicie o processo de canonização do arcebispo Theodor Romza, que teria sido envenenado num hospital em 1947 por ordem de Stálin.
A chegada do papa a Kiev vai fortalecer politicamente o presidente Leonid Kuchma, que está na defensiva desde o ano passado, quando seu nome foi envolvido como suspeito no assassinato do jornalista Georgy Gongadze.


Tradução de Clara Allain


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