São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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EUA

Killen, 80, pode pegar até 60 anos pela morte de três ativistas de direitos dos negros, caso que inspirou "Mississippi em Chamas"

Ex-KKK é condenado por crime de 1964

DA REDAÇÃO

O ex-líder da Ku Klux Klan (grupo supremacista branco dos EUA) Edgar Ray Killen, 80, foi condenado ontem por homicídio culposo num processo sobre o assassinado de três ativistas de direitos civis, em 1964, no Mississippi. O caso é um marco na história americana, porque a mobilização em torno dele levou à aprovação, ainda em 1964, do Civil Rights Act, a lei de direitos civis. O drama inspirou o filme "Mississippi em Chamas" (1988), dirigido por Alan Parker e estrelado por Gene Hackman e William Dafoe.
O veredicto, anunciado no 41º aniversário das mortes e após dois dias de deliberação pelo júri, foi menos severo do que queriam os promotores do Estado, que acusavam Killen de dolo.
Sentado em uma cadeira de rodas e com uma máscara de oxigênio, o ex-KKK assistiu impassível à leitura do veredicto, sendo amparado por sua mulher.
Detido imediatamente após o anúncio, Killen pode ser sentenciado a até 60 anos de prisão (20 por morte). A sentença deve ser fixada amanhã.

O crime
Os ativistas James Chaney, 21, Andrew Goodman, 20, e Michael Schwerner, 24, que faziam campanha pelo registro de eleitores negros, foram vítimas de uma emboscada em 21 de junho de 1964 por policiais e membros da KKK, na Filadélfia. Seus corpos foram encontrados 44 dias depois numa represa. Eles haviam sido espancados e mortos a tiros.
O advogado de Killen, James McIntyre, disse que irá apelar. Ele afirmou à corte que seu cliente, um pastor batista, "pode ter-se associado" com a KKK, mas não teve envolvimento com os crimes nem estava presente quando ocorreram. Os procuradores alegam, porém, que há evidência da participação de Killen na organização dos ataques.
Segundo o jurado Warren Paprocki, o júri estava inicialmente dividido sobre o caso. "Por um lado, o cara precisava ser condenado. Por outro, o Estado precisava apresentar evidências mais fortes", afirmou.
Parentes das vítimas afirmaram que o julgamento foi um passo importante, mas que outras pessoas também deveriam ser responsabilizadas pelas mortes.
"O fato de alguns dos jurados terem vivido naqueles anos e ainda assim não terem reconhecido que aqueles atos foram assassinatos indica que ainda há pessoas entre nós que escolhem olhar para outro lado, escolher não ver a verdade", disse Rita Bender, viúva de Schwerner. "Killen não agiu num vácuo. O Estado do Mississippi foi cúmplice nesses crimes."
Killen foi a única pessoa julgada por assassinato pelas três mortes. Um julgamento em 1967 condenou sete membros da KKK por períodos de três a dez anos, por violação dos direitos civis. Killen foi poupado na ocasião, quando um jurado se disse incapacitado de condenar um pregador. O caso foi reaberto em 2004.
Na última década, uma nova geração de procuradores impulsionados por reportagens, pelas famílias das vítimas e mesmo por suas lembranças da juventude reabriu alguns dos casos mais notórios da época.
Em 1994, Byron de la Beckwick foi condenado pelo assassinato, em 1963, do ativista de direitos civis Medgar Ever. Mais recentemente, o corpo de Emmett Till, um menino negro de 14 anos que foi seqüestrado e morto no Mississippi em 1955, foi exumado a pedido de procuradores que estão reinvestigando o caso.


Com agências internacionais e "The New York Times"

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