São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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Advogado de defesa de Saddam é morto a tiros em Bagdá

Khamis al Obaidi é o 3º membro da defesa a ser assassinado desde o início do julgamento; ex-ditador inicia greve de fome

Grupo armado seqüestra ao menos 80 operários em Taiji (norte); sete marines são indiciados pela morte de um civil iraquiano em abril


DA REDAÇÃO

Um dos principais advogados da equipe que defende Saddam Hussein foi assassinado ontem depois de ter sido seqüestrado em sua casa por homens vestidos com uniformes de policiais. É o terceiro advogado da defesa do ex-ditador a ser morto desde que seu julgamento teve início, em outubro do ano passado.
O assassinato de Khamis al Obaidi, um árabe sunita, reacende questionamentos de que a violência sectária, em parte impulsionada por milícias xiitas que operam dentro da polícia contra a minoria sunita que dominava o país durante a era de Saddam, possa impedir um julgamento justo.
O corpo de Obaidi, que representava também Barzan Ibrahim, meio-irmão do ex-ditador, foi encontrado em uma rua próxima à área xiita de Sadr City, de acordo com a polícia.
Segundo a mulher de Obaidi, cerca de 20 homens armados chegaram à casa onde o casal morava, às 7h, e disseram ao advogado: "Somos da segurança interna e precisamos interrogá-lo".
O corpo foi achado duas horas depois. A polícia disse que ele recebeu oito tiros e apresentava sinais de tortura. Os dois braços foram quebrados.

Greve
Em protesto, Saddam e os outros sete réus iniciaram uma greve de fome por tempo indeterminado, de acordo com o líder da equipe de defesa, Khalil al Dulaimi. Eles estão sendo julgados pelo massacre de mais de 140 moradores do vilarejo xiita de Dujail em 1982.
"[Os réus] vão continuar a greve até que a equipe de defesa receba proteção internacional", disse Dulaimi.
O advogado-chefe pediu a suspensão do processo e que os réus sejam levados ao exterior por medida de segurança.
"Consideramos os governos americano e iraquiano, e especialmente as milícias, responsáveis pelo assassinato de Obaidi", afirmou.
Mas o promotor-chefe, Jaafar al Moussawi, disse que o assassinato "não irá afetar ou atrasar o julgamento". A próxima audiência está marcada para 10 de julho.
A Promotoria iraquiana pediu anteontem que o ex-ditador e dois de seus homens de confiança sejam condenados à morte e enforcados.
Ontem, o cardeal Paul Poupard, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, do Vaticano, fez uma apelo para que Saddam não seja condenado à morte, afirmando que "a vida humana é sempre inviolável".
"Toda criatura, até a mais desgraçada, foi criada à imagem e semelhança de Deus", disse o cardeal, de acordo com a agência de notícias italiana Ansa.

Seqüestros
Também ontem, dezenas de homens armados seqüestraram ao menos 80 iraquianos, funcionários de uma fábrica, que viajavam em um comboio de ônibus em Taji, ao norte de Bagdá. Uma testemunha chegou a dizer que era pelo menos cem o número de seqüestrados.
A maioria dos reféns são árabes xiitas, e a fábrica está localizada em uma área de predominância sunita.
A polícia afirmou que cerca de 30 reféns foram libertados mais tarde. O paradeiro dos demais era desconhecido até a noite de ontem.
A Chancelaria russa pediu que os seqüestradores de quatro funcionários da embaixada tomados como reféns há mais de duas semanas em Bagdá poupem suas vidas.
O apelo foi feito depois que um grupo ligado à rede terrorista Al Qaeda disse em nota na internet que decidiu matá-los. Os seqüestradores haviam fixado prazo até a última segunda-feira para que as tropas russas se retirassem da Tchetchênia.
A explosão de um carro-bomba perto de uma sorveteria em Sadr City matou ao menos três pessoas e feriu outras oito.

Indiciamento
O Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos afirmou ontem que sete marines e um marinheiro foram indiciados pelo assassinato de um civil iraquiano em abril passado, no vilarejo de Hamdania.
A acusação é que os militares retiraram o iraquiano desarmado de sua casa e o mataram a tiros, sem ter havido reação. Eles também enfrentam acusações de seqüestro, conspiração e falso testemunho.


Com agências internacionais

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