|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Presidente afegão e opositor cantam vitória
Resultados oficiais da eleição só saem em 17 de setembro; denúncias de fraudes podem desencadear conflito político no país
Alta abstenção em áreas onde Taleban tem atuação mais forte em tese reduzem
as chances de vitória no 1º turno de atual mandatário
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A CABUL
Com dois candidatos cantando vitória e uma enxurrada de
denúncias de fraudes, o clima
político no dia seguinte à eleição presidencial do Afeganistão
aproximou-se um pouco do cenário mais temido pelo Ocidente: o de um conflito político que
possa sair de controle.
A reação veio da Comissão
Eleitoral Independente, que
tentou esfriar os ânimos, dizendo que nenhum dado até
aqui é confiável, já que os votos
apurados em 30 das 34 Províncias afegãs terão de ser checados para detecção eventual de
fraudes em Cabul.
"Apenas no dia 25 teremos
dados primários, que serão
atualizados até o dia 3 de setembro. Enquanto isso, todas
as queixas serão apuradas, e o
resultado final sairá em 17 de
setembro, se tudo der certo",
afirmou o número dois da comissão, Daud Ali Najafi.
Numa confusa entrevista,
Najafi negou os dados que a
própria comissão havia divulgado, de que o comparecimento havia ficado na casa dos 40%
a 50% dos 15,6 milhões de eleitores registrados.
Enquanto isso, os comitês do
presidente-candidato Hamid
Karzai e de seu principal opositor na disputa, Abdullah Abdullah, afirmaram que tinham ganho a eleição.
"Posso dizer que ganhamos
no primeiro turno, mas vamos
esperar os dados", disse à Folha Walid Umar, porta-voz do
comitê de Karzai. O mesmo foi
ouvido de Fazel Sangcharaki,
do time de Abdullah: "Tivemos
mais de 60% dos votos".
Ambos se baseiam em dados
recolhidos pelos seus observadores, e é impossível saber se
alguém fala a verdade. O que a
ONU e a Comissão Eleitoral
afirmam é que houve, sim, uma
alta abstenção em vários locais,
em especial no sul e no leste do
país -as áreas de maior atuação do Taleban, que tentou
abortar o pleito.
O Taleban foi bem-sucedido,
se os dados até aqui comentados forem verdadeiros, em
afastar eleitores. Em 2004, sem
oposição do grupo, houve 70%
de comparecimento. Mas os extremistas fracassaram em
transformar o pleito em um banho de sangue, inviabilizado
devido à violência, embora às
26 pessoas mortas anunciadas
anteontem tenham sido somados 11 trabalhadores da eleição.
Em Helmand, Província do
sul em que ocorrem os principais combates no país, oficiais
eleitorais disseram à imprensa
local que apenas 50 mil dos 650
mil eleitores compareceram.
Em princípio isso pode afetar
mais Karzai, que é da etnia majoritária nessas áreas, a pashtun. Mas, segundo seus adversários, a principal modalidade
de fraude pró-governo ocorreu
nesses locais menos vigiados
por observadores: votos falsos
enchendo urnas.
Em outras áreas consideradas mais seguras, contudo,
também houve problemas.
"Aqui as pessoas simplesmente não quiseram sair de casa", disse por telefone Mohammad, o responsável pelo pleito
em Nataban, na Província de
Parwan (norte de Cabul). Lá,
dos 1.800 registrados, apenas
150 votaram.
Os verdadeiros patrocinadores do pleito, os EUA, também
desqualificaram especulações.
"Eu não ficaria surpreso se visse candidatos reinvidicando vitória e apontando fraudes", disse o enviado americano à região, Richard Holbrooke, segundo a agência Reuters.
Ele esteve em Cabul e disse
que o governo americano é "agnóstico" sobre resultados extraoficiais. Também reiterou os
pedidos da ONU para que eventuais rivais de segundo turno
não transformem a disputa
num embate étnico -Abdullah,
ainda que tenha pai pashtun, é
um expoente da etnia tadjique.
Esse conflito, adicionado ao
fato de que Karzai tem ao seu
lado violentos senhores da
guerra, como o uzbeque Abdul
Rashid Dostum, dá tintas de
pesadelo ao cenário de conflito.
A Comissão Eleitoral convidou
os candidatos para discutir o
processo de apuração e de queixas hoje, numa reunião que visa
acalmar a situação.
Texto Anterior: Desaprovação a americano vai a inéditos 40% Próximo Texto: Longo processo de apuração depende de burros Índice
|