São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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Desinteresse do eleitor "americaniza" a campanha

DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O crescente desinteresse dos eleitores alemães pela política e a convergência dos grandes partidos de esquerda e de direita em direção ao centro em busca dos votos dos eleitores indecisos provocaram uma forte personalização da campanha eleitoral em torno dos dois principais candidatos, o chanceler (premiê) social-democrata Gerhard Schröder e o conservador Edmund Stoiber, segundo especialistas consultados pela Folha, causando certa "americanização" da disputa.
Segundo Richard Koch, responsável por pesquisas de opinião do Escritório Federal de Imprensa da Alemanha, numa pesquisa recente, 50% dos entrevistados afirmaram interessar-se muito pouco ou nada pela vida política do país, fenômeno que "abriu caminho para que os marqueteiros dos principais candidatos apostassem mais no carisma e no talento comunicacional de seus clientes do que nos programas dos partidos".
"É irrefutável que isso vem ocorrendo na campanha atual. Aliás, Schröder deve muito de seus bons resultados nas últimas pesquisas ao modo como pareceu, na TV, cuidar da catástrofe gerada pelas graves inundações que atingiram a Alemanha. Trata-se de algo relativamente novo na cena política alemã, mas é uma tendência internacional", analisou Gerhard Göhler, professor na Universidade Livre de Berlim.
Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch, instituto de pesquisas franco-alemão situado em Berlim, citou o exemplo francês para ilustrar o fenômeno. "A "uniformização" dos partidos tradicionais [Reunião pela República e Partido Socialista" proporcionou a um líder de extrema direita [Jean-Marie Le Pen" a chance de chegar ao segundo turno da última eleição presidencial, pois muito simpatizantes do PS simplesmente não foram votar."
De fato, na era da informação -em que campanhas eleitorais dos quatro cantos do planeta são apresentadas nas TVs de boa parte dos países-, o espetáculo midiático das eleições americanas acabou impregnando outros Estados. "Isso não significa que os alemães sejam mais americanizados hoje do que há oito anos. No entanto seu modo de fazer política tem sido fortemente influenciado pelos EUA. Trata-se somente de mais um efeito da globalização", analisou Göhler.
Prova disso foi o salto que os social-democratas deram nas pesquisas após o segundo debate na TV, há poucas semanas. "Jamais tivéramos debates, e Schröder soube tirar vantagem de sua desenvoltura diante das câmeras. Pouco foi dito sobre os programas dos candidatos, e Stoiber pagou o preço de apenas tentar não cometer erros. Ele não é muito descontraído e acabou sendo visto como perdedor do segundo debate", disse Martin Süskind, redator-chefe do "Berliner Zeitung".
"Na verdade, a discussão de plataformas partidárias ficou restrita a reuniões dos partidos ou a raros programas de TV. Estes, aliás, na maior parte do tempo, não contaram com a presença dos dois principais candidatos à Chancelaria. Só podemos esperar que essa tendência não se repita em outras eleições, pois, tradicionalmente, a política alemã é bem mais austera", acrescentou.
A Alemanha jamais tivera um debate na TV entre os candidatos a chanceler. De acordo com pesquisas recentes, perto de 70% dos eleitores consideram Schröder "mais simpático" do que Stoiber, o que pode custar caro para o candidato conservador na era da televisão e da internet. (MSM)


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