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Super-herói do islã
Série árabe que virou hit entre crianças islâmicas promove agora um "encontro de civilizações"
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Se no mundo real a convivência entre Ocidente e islã
não anda muito amigável
-como mostram a polêmica
em torno do centro islâmico
em Nova York e as restrições
ao uso do véu na França-, é
hora de invocar os poderes dos super-heróis.
No próximo mês, personagens consagrados dos quadrinhos americanos, como
Super-Homem e Mulher Maravilha, unirão forças com
heróis da série árabe "The
99", cujos superpoderes são
inspirados na tradição islâmica. A ideia do encontro
partiu do psicólogo kuaitiano Naif Abdulrahman al Mutawa, criador do "The 99".
Surgida em 2006, a série
tornou-se febre entre as
crianças do mundo islâmico,
com mais de 1 milhão de cópias vendidas por ano. E começa a dar origem a um império que inclui uma versão para TV e até um parque temático no Kuait.
Inspirado no discurso proferido no ano passado por
Barack Obama no Cairo, em
que o presidente dos EUA estendeu a mão ao mundo islâmico, Mutawa propôs uma
reunião à editora DC Comics,
que tem os direitos dos principais heróis dos quadrinhos americanos.
O resultado da parceria estreia em 27 de outubro, quando a primeira revista da série
chega às bancas nos EUA.
"As palavras do presidente
Obama serviram de empurrão", contou Mutawa à Folha, sem revelar muito sobre
a história, guardada a sete chaves pela DC Comics.
"O que posso dizer é que tudo começa com desconfiança entre os dois lados,
que mais tarde é superada para salvar o mundo."
A iniciativa recebeu elogios calorosos de Obama,
que a considerou "o resultado mais inovador" de seu discurso no Cairo.
Sua fórmula foi combinar arquétipos do islã com o visual das HQs americanas.
No enredo, 99 pedras sagradas que se espalharam
pelo mundo após a invasão
de Bagdá pelos mongóis, em
1258, são achadas em diferentes países, conferindo superpoderes baseados nos
atributos de Alá.
Entre os 20 personagens
estão Jabbar, um saudita fortão estilo Hulk; Mumita, nascida em Portugal e imune à
dor; Sami, um francês-sudanês com superaudição, e
agora um brasileiro, Hafiz, que ainda fará sua estreia.
Das 50 mulheres que formarão a galeria de heróis do
"The 99", somente cinco terão as cabeças cobertas pelo
véu, uma forma de mostrar a diversidade muçulmana.
Especializado no tratamento de vítimas de tortura
política, Mutawa diz que ainda há muito trabalho para
mudar a imagem de sua religião no Ocidente.
"É como um provérbio que
temos no Kuait: quem é picado por cobra tem medo de
corda. Pena que a verdadeira
lição do 11 de Setembro não
foi aprendida: os vilões são
os extremistas, de qualquer
religião ou nacionalidade.
Não o islã."
Veja o trailer, em inglês, da versão para a TV do "The 99"
folha.com.br/mu802601
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