São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA/ DEPOIS DO DIA 4

Obama já articula gabinete "misto"

Embora repise risco do clima de "já ganhou", democrata sonda nomes para postos-chave

Por conta da crise, lista para Secretaria de Tesouro está sendo tão examinada como foi a de vice; do lado de McCain, raros nomes vazam

Emmanuel Dunand/France Presse
Eleitores esperam diante do local da cúpula econômica de Obama

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Mesmo repetindo em comícios e entrevistas que seus eleitores não devem se sentir confiantes demais e apesar de sua vantagem nas pesquisas oscilar, o candidato democrata, Barack Obama, vem preparando silenciosamente sua equipe de governo. Pelos nomes que chegam à imprensa, o que se delineia é um gabinete que mistura o "velho" e o "novo" Partido Democrata e deve contar com republicanos.
Um exemplo é a Secretaria de Estado, o cargo principal da diplomacia norte-americana, ocupado hoje por Condoleezza Rice. Junto dos que foram ventilados ao longos dos últimos meses, como o de Richard Holbrooke, ex-embaixador de Bill Clinton na ONU, começam a ganhar força o nome do senador John Kerry, candidato democrata derrotado nas eleições presidenciais de 2004, e o de seu colega Richard Lugar, republicano mais graduado do Comitê de Relações Exteriores.
Lugar é o principal defensor no Congresso do fim do subsídio aos produtores locais de etanol e da tarifa sobre o produto brasileiro. Foi o único governista citado por Obama no último debate, na semana passada, entre os nomes em política externa das "pessoas, democratas ou republicanas, que moldaram minhas idéias e que terei ao meu redor na Casa Branca."
Outros citados por Obama foram o general James Jones, ex-comandante da Otan, que pode vir a responder pela Defesa, e em política econômica, o bilionário Warren Buffett e o ex-presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA) Paul Volcker (1979-87).
Ambos são cotados para o cargo de secretário do Tesouro, que, por conta da crise econômica atual, ganha importância inédita no processo de escolha, com um comitê informal montado apenas para analisar candidatos ao posto. Em teleconferência recente, Jason Furman, principal assessor econômico do democrata, disse à Folha que o nome "será o melhor possível" e que não havia pré-requisitos de ideologia nem partido para ocupar o cargo.

Certificação
O desafio de Obama em política externa e segurança se assemelha ao de Luiz Inácio Lula da Silva em economia em sua primeira eleição, em 2002: não basta ser conservador, tem de parecer conservador. O democrata lançou sua candidatura com uma plataforma progressista em ambos os campos, cuja base era se sentar com líderes de países considerados inimigos ou não-aliados dos EUA, como Irã e Venezuela.
Agora, tem de retroceder para "acalmar os mercados". É o que Edward Luttwak, analista do conservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), de Washington, chamou de "O Paradoxo de Obama" em entrevista à Folha.
Um jeito seria nomear um republicano para o Estado ou fechar com um nome como o de Chuck Hagel, outro senador republicano cujo nome passa a ser citado, para a Defesa.
Já os detalhes do gabinete de John McCain são escassos, tanto pela personalidade do republicano, pouco afeito ao planejamento a longo prazo, como por sua posição na corrida.
Ainda assim, alguns nomes vazam. Entre eles, o de Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial (chamado de "sub do sub do sub" por Lula), e o do senador independente Joe Lieberman, ambos para o Estado.


Próximo Texto: Democrata reúne governadores na Flórida para discutir emprego
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.