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Na OEA, Brasil acusa golpistas de tortura
Ocupantes da embaixada brasileira em Honduras estão sofrendo "assédio desumano e irracional", reporta diplomata
Conselho Permanente da
entidade divulga texto de
repúdio aos fatos relatados
por embaixador brasileiro e
que pede fim do "assédio"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O governo brasileiro acusou
o regime golpista hondurenho
de praticar tortura contra as
pessoas que estão há um mês
na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, entre elas o presidente deposto, Manuel Zelaya.
A denúncia foi feita pelo embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA), Ruy
Casaes, durante reunião do
Conselho Permanente, na manhã de ontem, em Washington.
Segundo o diplomata, os ocupantes da embaixada sofrem
assédio "desumano e irracional", em "flagrante violação das
normas internacionais que cuidam da promoção e proteção
dos direitos humanos", e o regime de Roberto Micheletti vem
"progressivamente sofisticando suas técnicas de tortura".
Entre elas estariam o que chamou de "novas modalidades de
tortura psíquica".
O brasileiro amparou sua denúncia apresentando uma lista
do assédio promovido pelos
golpistas, da qual constam a colocação de holofotes permanentemente apontados para a
casa e a produção de ruídos
com o propósito de atrapalhar
o sono dos ocupantes; policiais
postados em plataformas que
miram a casa com fuzis e vigiam o movimento do interior;
restrição de entrada de alimentos, que são cheirados por cachorros e expostos ao sol por
horas; e falha na coleta de lixo.
Disse ainda haver indícios
inequívocos da presença de
bloqueadores de celular, assim
como grampo nos telefones fixos e abuso nas revistas das
pessoas que entram na embaixada, incluindo o encarregado
de negócios do Brasil, Lineu
Pupo de Paula. Ontem, e-mail
dele a Casaes relata o que chama de pior noite dos 30 dias em
que Zelaya se encontra na representação brasileira.
"Há mais de meia hora uma
caixa de som potente toca marchas militares e uma música
chamada "Golondrinas", aparentemente um pássaro vinculado à morte, no máximo volume", escreveu o encarregado.
"Sem dúvida, isso é tortura",
concluiu Casaes.
O brasileiro citou leis internacionais sobre o tema para
justificar sua denúncia, entre
eles artigo antitortura da Convenção Interamericana segundo o qual "entender-se-á também como tortura a aplicação
em uma pessoa de métodos
tendentes a anular a personalidade da vítima ou a diminuir
sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica".
A denúncia se seguiu a um relato da situação em Honduras
feito por José Miguel Insulza,
em que o secretário-geral da
OEA disse ter "preocupação
importante" quanto à situação
da Embaixada do Brasil.
À noite, o Conselho Permanente divulgou texto de repúdio, em que pede fim do "assédio" à Embaixada do Brasil.
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