São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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Washington reinclui Polônia em seu novo sistema antimísseis

Anúncio feito durante visita de vice de Obama ao país europeu ameniza mal-estar causado por cancelamento de plano anterior

Moscou, que contestava localização de interceptores no plano de Bush, não se manifestou ainda sobre decisão da Casa Branca


DE GENEBRA

O governo de Barack Obama incluiu a Polônia de volta em um projeto de defesa antimísseis, que substitui o plano do governo anterior engavetado por conta de dúvidas sobre sua eficácia e por irritar a Rússia exatamente devido ao local onde ficariam seus interceptores, no antigo quintal soviético.
O anúncio foi feito ontem pelo premiê polonês, Donald Tusk, que recebeu o vice-presidente americano, Joe Biden. A visita ameniza o mal-estar com a decisão, em setembro, de pôr fim ao plano de George W. Bush para instalar um radar e interceptores de mísseis na República Tcheca e na Polônia.
Na época, os EUA não anunciaram onde o novo sistema ficaria. Disseram apenas que ele seria menor, mais ágil e focaria mísseis de curto e médio alcance, que poderiam atingir aliados e interesses americanos na Europa -algo mais consonante com a tecnologia de países hostis aos EUA do que os mísseis capazes de chegar ao território americano previstos por Bush.
Mas o "New York Times" afirma que desde o início o governo Obama pretendia incluir a Polônia no plano.
Embora os EUA tenham dito na ocasião que a diplomacia não pesou na decisão, a medida havia sido em larga escala vista como um aceno à Rússia, que reclamava da proximidade do sistema de seu território. O Kremlin não comentou o anúncio ontem.
"O projeto de uma nova configuração para a defesa antimísseis é muito interessante, e nós queremos participar dele", declarou Tusk.
"Apreciamos que a Polônia tenha concordado em receber um dos elementos do plano anterior e apreciamos que o governo polonês concorde que agora há uma forma melhor [para a defesa]", disse Biden.
Não se sabe quanto ainda do novo sistema ficará na Polônia. O plano prevê colocar até 2011 interceptores do tipo SM-3 em navios no Mediterrâneo. Esses navios seriam equipados com o sofisticado sistema Aegis, que combina radares e computação para aumentar a precisão das armas e é usado contra mísseis balísticos.
A partir de 2015, esses interceptores seriam levados à terra, em algum ponto do Leste Europeu, até que em 2018 seriam substituídos por instrumentos mais avançados -é então, segundo fontes no Conselho Nacional de Segurança citadas pelo "Times", que a Polônia os receberia. Em 2020, o aparato seria trocado por uma nova geração, capaz de abater mísseis transcontinentais.
As mesmas fontes do "Times" dizem ser cedo para saber quantos interceptores ficarão na Polônia. O plano anterior previa todos os interceptores estacionados no país e um radar na República Tcheca.
"Para colocar de uma forma simples, nosso sistema representa mais segurança para a Otan, mais segurança para a Polônia e, em última instância, para os EUA", declarou Biden.
A citação à Otan reforça a análise de especialistas ouvidos pela Folha de que a troca de planos foi também um aceno para a aliança militar ocidental, já que o novo projeto, por focar a Europa, se alinha mais com os interesses da aliança.
Biden, figura respeitada na região, também insistiu em reafirmar a importância de Varsóvia como aliada dos EUA. Os poloneses haviam se queixado dos novos planos de Obama, sentindo-se abandonados.
Embora as populações tcheca e polonesa fossem majoritariamente contra o escudo de Bush, os governos apreciavam o plano, que lhes dava dividendos políticos e até financeiros, além de salvaguarda contra a Rússia. (LUCIANA COELHO)


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