São Paulo, sábado, 22 de novembro de 1997.




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35 ANOS DEPOIS
Máfia explodiu avião de empresário em 1962; morte foi tema de filme premiado
Itália admite atentado no caso Mattei

da Redação

A Itália é um país cheio de mistérios, costumam dizer os italianos. Desde ontem, porém, passou a ter um mistério a menos. A Justiça confirmou que foi um atentado a bomba que matou, em 1962, o empresário Enrico Mattei.
Nascido em uma família pobre, Mattei fez carreira em empresas do setor petrolífero e chegou à presidência do ENI, o conglomerado energético estatal italiano.
Considerado o melhor administrador da Itália à época, ele passou a denunciar o virtual monopólio de empresas norte-americanas no comércio do petróleo com os países do Oriente Médio.
Em 27 de outubro de 1962, ele voltava de uma viagem a Catania (na Sicília, sul do país) quando seu avião caiu. Além dele, morreram o piloto e um jornalista americano, que o acompanhava.
No início das investigações, um agricultor disse ter visto o avião explodir no ar. Em seu depoimento oficial à Justiça, porém, ele negou essa versão.
A conclusão do inquérito apontou que uma falha mecânica provocara a queda do aparelho.
O incidente se tornou mais um daqueles que todo italiano afirma que não ocorreu de acordo com a versão oficial.
Em 1972, o filme "O Caso Mattei", do italiano Francesco Rosi, apontava para um grande conluio entre políticos, militares e serviços secretos envolvidos nesse mistério. O filme acabou vencendo o festival de Cannes daquele ano.
Dois anos atrás, uma revelação levou à reabertura das investigações. O mafioso arrependido Tommaso Buscetta afirmou que a Máfia siciliana tinha explodido o avião de Mattei, a pedido de mafiosos americanos.
Segundo Buscetta, Mattei estaria prejudicando interesses americanos no Oriente Médio.
A Procuradoria da República de Pavia, no norte da Itália, perto de onde caiu o avião, reabriu o inquérito.
O principal passo foi exumar a ossada de Mattei. Nos ossos, foram identificados traços de explosivos.
Confirmado o atentado, os procuradores italianos pretendem agora processar o agricultor que mudou seu depoimento e saber porque ele fez isso.
"Enrico incomodava as companhias petrolíferas internacionais, mas incomodava também porque criava trabalho, tinha idéias novas e pensava grande", disse seu irmão Umberto, 84, ao jornal romano "La Repubblica".
Umberto não pretende continuar as investigações do caso para tentar identificar quem matou seu irmão e quem abafou as investigações à época. "Depois de 35 anos, o que esperam descobrir?"



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