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35 ANOS DEPOIS
Máfia explodiu avião de empresário em 1962; morte foi tema de filme premiado
Itália admite atentado no caso Mattei
da Redação
A Itália é um país cheio de mistérios, costumam dizer os italianos.
Desde ontem, porém, passou a ter
um mistério a menos. A Justiça
confirmou que foi um atentado a
bomba que matou, em 1962, o empresário Enrico Mattei.
Nascido em uma família pobre,
Mattei fez carreira em empresas do
setor petrolífero e chegou à presidência do ENI, o conglomerado
energético estatal italiano.
Considerado o melhor administrador da Itália à época, ele passou
a denunciar o virtual monopólio
de empresas norte-americanas no
comércio do petróleo com os países do Oriente Médio.
Em 27 de outubro de 1962, ele
voltava de uma viagem a Catania
(na Sicília, sul do país) quando seu
avião caiu. Além dele, morreram o
piloto e um jornalista americano,
que o acompanhava.
No início das investigações, um
agricultor disse ter visto o avião
explodir no ar. Em seu depoimento oficial à Justiça, porém, ele negou essa versão.
A conclusão do inquérito apontou que uma falha mecânica provocara a queda do aparelho.
O incidente se tornou mais um
daqueles que todo italiano afirma
que não ocorreu de acordo com a
versão oficial.
Em 1972, o filme "O Caso Mattei", do italiano Francesco Rosi,
apontava para um grande conluio
entre políticos, militares e serviços
secretos envolvidos nesse mistério. O filme acabou vencendo o
festival de Cannes daquele ano.
Dois anos atrás, uma revelação
levou à reabertura das investigações. O mafioso arrependido
Tommaso Buscetta afirmou que a
Máfia siciliana tinha explodido o
avião de Mattei, a pedido de mafiosos americanos.
Segundo Buscetta, Mattei estaria
prejudicando interesses americanos no Oriente Médio.
A Procuradoria da República de
Pavia, no norte da Itália, perto de
onde caiu o avião, reabriu o inquérito.
O principal passo foi exumar a
ossada de Mattei. Nos ossos, foram
identificados traços de explosivos.
Confirmado o atentado, os procuradores italianos pretendem
agora processar o agricultor que
mudou seu depoimento e saber
porque ele fez isso.
"Enrico incomodava as companhias petrolíferas internacionais,
mas incomodava também porque
criava trabalho, tinha idéias novas
e pensava grande", disse seu irmão Umberto, 84, ao jornal romano "La Repubblica".
Umberto não pretende continuar as investigações do caso para
tentar identificar quem matou seu
irmão e quem abafou as investigações à época. "Depois de 35 anos,
o que esperam descobrir?"
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