São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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ARTIGO

Europa teme mais terrorismo nativo

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A cidadezinha alemã de Neu-Ulm só era lembrada pela sua vizinhança de Ulm, onde nasceu Einstein. Mas de repente Neu-Ulm ganhou espaços nos meios de comunicação da Europa por contar com uma mesquita considerada um ninho de militantes muçulmanos radicais. É de lá um dos dois alemães convertidos e recrutados pela Jihad (guerra santa) Islâmica. Tem registro de nascimento no Uzbequistão e irmandade com a Al Qaeda de Bin Laden, com o Taleban e campos de treinamento e de exportação de militantes no Paquistão. A Alemanha escapou "das mais graves tentativas de atentados já preparados em território alemão", segundo o procurador-geral.

Cabelos louros
As atenções se voltaram sobretudo para a presença dominante entre os terroristas de jovens (22 e 26 anos) de origem alemã pura, cabelos louros, nomes e sobrenomes como atestados de nacionalidade. Como se fosse uma extensão desse fenômeno, um nome inconfundivelmente espanhol, o de José Emilio Suárez, figura entre os muçulmanos condenados na Espanha. Teve papel importante nos atentados. Ajudou a roubar explosivos, sem os quais nada feito.

Linha invisível
Citando especialmente Londres, Madri e Neu-Ulm como focos possivelmente contaminados por germes que se disseminarão, podendo alcançar Berlim, Oxford e Roterdã ou qualquer parte sobretudo da Europa, um conhecido jornalista europeu, Timothy Garton Ash, falou de uma "linha de frente invisível".
Garton Ash previu que a luta contra o terrorismo será decidida na Europa e não nos Estados Unidos. Tampouco o Iraque seria decisivo, em campos islâmicos. O mais provável é um binômio de Europa (18 milhões de muçulmanos) e Paquistão, onde a matança já começou e se têm evidências fortes de que os serviços de inteligência, voltados para a Cachemira, colaboram com o islamismo radical.
Ampla porção desses confrontos, e a mais importante a longo prazo, escreveu Ash, é a batalha por mentes e corações dos jovens muçulmanos europeus, em geral homens. Podem tornar-se bons cidadãos ou manipuladores de bombas. Há uma área cinzenta habitada por muçulmanos europeus que na Alemanha são fichados como "simpatizantes". São os que se recusam, por exemplo, a condenar os homens-bomba.

Núcleo duro
Um especialista calculou que os núcleos duros dos muçulmanos ingleses representam 1% do total. Já os simpatizantes, que podem ir para um lado ou outro, seriam 10%. É ai que deve ser travada a batalha por mentes e corações.
Também na agenda policial e de inteligência jovens europeus. Não esquecer que há 30 anos houve o "outono alemão" de terrorismo e a Itália enfrentou a violência das Brigadas Vermelhas. Agora ao jovem alemão de Neu-Ulm se junta o espanhol dos atentados de Madri.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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