São Paulo, domingo, 22 de novembro de 1998

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MULTIMÍDIA
Le Monde
de Paris


Filme causa polêmica entre árabes

PATRICK SABATIER
em Washington

Um grupo terrorista árabe comete uma série de atentados a bomba que provocam um banho de sangue em Nova York. O presidente entra em pânico e declara lei marcial. O Exército ocupa a cidade. Todos os habitantes de origem árabe são aprisionados em campos de concentração no Brooklyn. É instaurada uma ditadura fascista.
Segundo a 20th Century Fox, que produziu "The Siege" (O Cerco), do diretor Edward Zwick, o filme "trata com seriedade temas importantes como os preconceitos e a perseguição racial, o valor das liberdades fundamentais e o preço que se paga para protegê-las".
Mas, desde o lançamento do filme nos EUA, na sexta-feira passada, os cinemas que o mostram vêm sendo assediados por grupos de manifestantes árabe-americanos. Eles denunciam o filme como sendo "insidioso, perigoso e provocador, que certamente terá impacto negativo" sobre os árabes que vivem nos EUA
"A mensagem fundamental do filme é que a própria presença de dezenas de milhares de pessoas de origem árabe e religião muçulmana vivendo nas metrópoles representa uma ameaça existencial à sociedade americana", explica o porta-voz do CAD (Comitê Árabe-americano Contra a Discriminação), Hussein Ibish.
Se "The Siege" explodiu como um carro-bomba nos cinemas, é porque os EUA estão obcecados com a "guerra ao terrorismo" declarada pelo presidente Clinton após os atentados contra as embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia. Na véspera do lançamento do filme, um tribunal indiciou Osama bin Laden, o milionário saudita acusado de haver orquestrado os atentados.
Realidade e ficção se misturam, mas, tanto num caso quanto no outro, o inimigo é a "ameaça verde" do fundamentalismo islâmico, que, na cultura popular, assume o lugar antes ocupado pela "ameaça vermelha" do comunismo e pela Guerra Fria. Zwick nega qualquer preconceito contra os árabes.
Cada vez mais, Hollywood está substituindo os inimigos do passado -índios, nazistas, japoneses, comunistas, extraterrestres e forças da natureza (catástrofes, vírus, etc.) por homens morenos, barbudos e cruéis, que, como em "The Siege", fazem suas orações em mesquitas antes de sair para massacrar inocentes em nome de Alá.
Mas Hollywood, segundo Hussein Ibish, não faz mais do que ilustrar uma tendência mais geral. "Cada vez mais o Exército e os serviços secretos estão adotando a tese do "choque de civilizações', o inevitável conflito entre o Ocidente e o mundo muçulmano", diz ele.
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Tradução de Clara Allain



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