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MULTIMÍDIA
Le Monde
de Paris
Filme causa polêmica entre árabes
PATRICK SABATIER
em Washington
Um grupo terrorista árabe comete uma série de atentados a bomba
que provocam um banho de sangue em Nova York. O presidente
entra em pânico e declara lei marcial. O Exército ocupa a cidade. Todos os habitantes de origem árabe
são aprisionados em campos de
concentração no Brooklyn. É instaurada uma ditadura fascista.
Segundo a 20th Century Fox, que
produziu "The Siege" (O Cerco),
do diretor Edward Zwick, o filme
"trata com seriedade temas importantes como os preconceitos e a
perseguição racial, o valor das liberdades fundamentais e o preço
que se paga para protegê-las".
Mas, desde o lançamento do filme nos EUA, na sexta-feira passada, os cinemas que o mostram vêm
sendo assediados por grupos de
manifestantes árabe-americanos.
Eles denunciam o filme como sendo "insidioso, perigoso e provocador, que certamente terá impacto
negativo" sobre os árabes que vivem nos EUA
"A mensagem fundamental do
filme é que a própria presença de
dezenas de milhares de pessoas de
origem árabe e religião muçulmana vivendo nas metrópoles representa uma ameaça existencial à sociedade americana", explica o porta-voz do CAD (Comitê Árabe-americano Contra a Discriminação), Hussein Ibish.
Se "The Siege" explodiu como
um carro-bomba nos cinemas, é
porque os EUA estão obcecados
com a "guerra ao terrorismo" declarada pelo presidente Clinton
após os atentados contra as embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia. Na véspera do
lançamento do filme, um tribunal
indiciou Osama bin Laden, o milionário saudita acusado de haver
orquestrado os atentados.
Realidade e ficção se misturam,
mas, tanto num caso quanto no
outro, o inimigo é a "ameaça verde" do fundamentalismo islâmico,
que, na cultura popular, assume o
lugar antes ocupado pela "ameaça
vermelha" do comunismo e pela
Guerra Fria. Zwick nega qualquer
preconceito contra os árabes.
Cada vez mais, Hollywood está
substituindo os inimigos do passado -índios, nazistas, japoneses,
comunistas, extraterrestres e forças da natureza (catástrofes, vírus,
etc.) por homens morenos, barbudos e cruéis, que, como em "The
Siege", fazem suas orações em
mesquitas antes de sair para massacrar inocentes em nome de Alá.
Mas Hollywood, segundo Hussein Ibish, não faz mais do que
ilustrar uma tendência mais geral.
"Cada vez mais o Exército e os serviços secretos estão adotando a tese do "choque de civilizações', o
inevitável conflito entre o Ocidente e o mundo muçulmano", diz ele.
²
Tradução de
Clara Allain
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