São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2000

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ORIENTE MÉDIO

Segundo diplomatas, país cederia a soberania em Jerusalém Oriental; Peres não consegue apoio para candidatura

Israel amplia concessões aos palestinos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O premiê de Israel, Ehud Barak, está disposto a conceder mais de 95% da Cisjordânia e soberania sobre Jerusalém Oriental aos palestinos, disse ontem a agência "Reuters", citando fontes diplomáticas que acompanham as negociações em Washington. Os palestinos, contudo, teriam de abdicar do retorno de milhões de refugiados e garantir o livre acesso de israelenses a áreas sagradas para os judeus em Jerusalém Oriental.
No terceiro dia de negociações entre palestinos e israelenses em Washington, o presidente dos EUA, Bill Clinton, propôs linhas mestras de um possível acordo e expressou o desejo de que ele seja fechado até 10 de janeiro. Clinton deixa o cargo dez dias depois.
Diplomatas ligados às conversações disseram que os israelenses estão dispostos a ceder mais terras da Cisjordânia e que concordaram com o princípio de abdicar da soberania sobre Jerusalém Oriental, onde se concentra a população árabe da cidade.
"Houve um dramático avanço na proposta israelense. Poderá haver uma negociação final em duas semanas", afirmou uma das fontes diplomáticas.
"Estamos perto de atingir o reconhecimento da soberania palestina sobre Jerusalém Oriental, inclusive sobre os locais sagrados", disse o negociador palestino Iasser Abed Rabbo. Afirmou, porém, que detalhes como os limites de Jerusalém, a ligação entre seus bairros árabes e o futuro dos assentamentos judaicos ainda precisam ser discutidos.
Um diplomata declarou que os israelenses estão dispostos a ceder mais de 95% da Cisjordânia, retendo apenas três blocos de colônias para futura anexação.
As fontes indicaram que, num possível acordo final, a Esplanada das Mesquitas (Monte do Templo para os judeus) ficaria sob soberania palestina. Foi uma visita do líder oposicionista israelense Ariel Sharon ao local disputado, em 28 de setembro, que iniciou a onda de violência atual, que já matou ao menos 336 pessoas -a maioria palestinos.
Haveria salvaguardas internacionais para proteger o acesso a ruínas arqueológicas judaicas. Em contrapartida, os palestinos teriam de abandonar a exigência de retorno dos quase 4 milhões de refugiados.
Israel reconheceria responsabilidade pela diáspora palestina e contribuiria para um fundo de compensação.
Segundo o chanceler israelense, Shlomo Ben Ami, "Clinton apresentou os parâmetros de um acordo, a margem de manobra possível sobre os diferentes temas pendentes". "Consideramos a maioria desses parâmetros uma base aceitável de trabalho."
Membros da delegação de Israel disseram que o presidente discutiu termos amplos de consenso, não uma proposta formal.
O chanceler afirmou ter visto boa disposição em seus interlocutores. O palestino Saeb Erekat mostrou-se menos otimista e disse que as conversações ainda enfrentam "grandes dificuldades".
"Estamos tratando das questões mais delicadas, ou seja, os princípios de um acordo definitivo com os palestinos", afirmou uma autoridade israelense em Washington.
Apesar das negociações, a violência continua nos territórios palestinos. Um israelense e dois palestinos morreram ontem.

Eleições

O trabalhista Barak quer usar um plano de paz com os palestinos como sua plataforma política nas eleições para primeiro-ministro, previstas para 6 de fevereiro. Ele irá concorrer com o direitista Sharon, do Likud, que ontem disse que Israel não deve ceder em Jerusalém. Mesmo eleito, Barak pode ter dificuldades para aprovar um acordo amplo no Parlamento, onde não tem maioria.
O também trabalhista Shimon Peres não conseguiu obter ontem o apoio do partido pacifista Meretz para sua candidatura e ficará fora da disputa.



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