São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

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20% dos latinos são desnutridos nos EUA

Estudo feito por organização que defende direitos dos imigrantes hispânicos afirma que 1 em cada 20 deles passa fome

Segundo levantamento, pobreza, dificuldade de comunicação e medo de ser detido e repatriado são as maiores causas do problema

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Estudo divulgado pelo Conselho Nacional La Raza, organização de defesa dos direitos civis de imigrantes hispânicos, mostra que 20% dos moradores de origem latina dos EUA (brasileiros, inclusive) são desnutridos, e um em cada 20 passa fome.
O relatório, feito a partir de dados do Censo, o instituto oficial de estatísticas, atribui o quadro à pobreza e à falta de informação sobre programas de transferência de renda do governo americano, como o "food stamp" (vale-comida). A dificuldade dos imigrantes latinos com a língua e barreiras culturais também contribuem para falta de acesso a alimentos.
Segundo o Censo, os habitantes de origem hispânica constituem hoje a mais numerosa minoria étnica e cultural dos EUA. Uma das autoras do estudo, Jennifer Ng'andu, avalia que a comunidade latina é "praticamente invisível quando se trata de assuntos relativos à fome e à subnutrição no país".
"Os vizinhos percebem a presença dos latinos, mas não há uma interação para que haja assistência com comida", afirma.
Entre os brancos, o percentual de malnutridos é de 5%, e o dos que passam fome é próximo do zero. Entre a população negra, o índice é ligeiramente superior ao dos latinos.
"A falta de acesso a recursos força muitas famílias latinas a escolhas que ninguém deveria ter que fazer, como optar entre ter um teto ou colocar comida na mesa", diz Janet Marguia, presidente do Conselho Nacional La Raza.
"A falta de alimentos nutritivos e acessíveis também tem devastadoras conseqüências à saúde, como o aumento da fome e da obesidade, que afeta não só a comunidade latina, mas também o bem-estar de toda o país", completa.
Desde 1996, uma lei aprovada pelo Congresso proíbe o governo de dar qualquer tipo de assistência a imigrantes ilegais.
"Muitas famílias estrangeiras não entendem o sistema de benefícios ou têm medo de serem deportadas por estarem em situação irregular no país", afirma Beatriz Otero, diretora do Centro Nía, em Washington.
Estimativas do Departamento de Agricultura mostram que cerca de 3 milhões de latinos podem requerer o benefício do "food stamp" por terem filhos nascidos nos EUA, o que garante às crianças cidadania americana. Roberto Salazar, administrador do serviço de nutrição e comida da Agricultura, disse à Folha que o número de hispânicos participantes do "food stamp" cresceu 50% entre 2000 e 2004, e que o governo faz campanhas nas comunidades para aumentar o percentual. Segundo diz, as principais causas para baixa adesão dos latinos ao programa são a "falta de informação, confusão sobre pré-requisitos e orgulho".
O relatório do Raza recomenda ao governo americano um aumento do número de meses de concessão do benefício e do valor máximo pago, hoje de US$ 518 (R$ 1.140). A média paga pelo programa é de US$ 214 (R$ 470) por pessoa.

Brasileiros
Procurado pela Folha, o Consulado do Brasil em Nova York disse não ser possível conceder benefícios do Bolsa Família a brasileiros no exterior. As representações diplomáticas podem dar dinheiro para sobrevivência, em geral em casos de repatriação.
Estatísticas do próprio consulado, já defasadas, mostram 1,2 milhão de brasileiros nos EUA. A maioria vive ilegalmente nas regiões de Nova York, Boston, Miami, Los Angeles e Chicago, nessa ordem.
Dos 300 milhões de habitantes dos EUA, cerca de 37 milhões nasceram fora do país, segundo o Censo. Um terço deles (ou 12,3 milhões) é do México. Entre os ilegais, 56% são mexicanos. Um imigrante ganha hoje, em média, US$ 1.200 (R$ 2.640) por mês por serviço de limpeza e atendimento (garçom). O valor é 7,5 vezes maior que o salário mínimo brasileiro, de R$ 350.


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