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20% dos latinos são desnutridos nos EUA
Estudo feito por organização que defende direitos dos imigrantes hispânicos afirma que 1 em cada 20 deles passa fome
Segundo levantamento, pobreza, dificuldade de comunicação e medo de ser detido e repatriado são as
maiores causas do problema
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Estudo divulgado pelo Conselho Nacional La Raza, organização de defesa dos direitos civis de imigrantes hispânicos,
mostra que 20% dos moradores de origem latina dos EUA
(brasileiros, inclusive) são desnutridos, e um em cada 20 passa fome.
O relatório, feito a partir de
dados do Censo, o instituto oficial de estatísticas, atribui o
quadro à pobreza e à falta de informação sobre programas de
transferência de renda do governo americano, como o "food
stamp" (vale-comida). A dificuldade dos imigrantes latinos
com a língua e barreiras culturais também contribuem para
falta de acesso a alimentos.
Segundo o Censo, os habitantes de origem hispânica constituem hoje a mais numerosa minoria étnica e cultural dos EUA.
Uma das autoras do estudo,
Jennifer Ng'andu, avalia que a
comunidade latina é "praticamente invisível quando se trata
de assuntos relativos à fome e à
subnutrição no país".
"Os vizinhos percebem a presença dos latinos, mas não há
uma interação para que haja assistência com comida", afirma.
Entre os brancos, o percentual de malnutridos é de 5%, e o
dos que passam fome é próximo do zero. Entre a população
negra, o índice é ligeiramente
superior ao dos latinos.
"A falta de acesso a recursos
força muitas famílias latinas a
escolhas que ninguém deveria
ter que fazer, como optar entre
ter um teto ou colocar comida
na mesa", diz Janet Marguia,
presidente do Conselho Nacional La Raza.
"A falta de alimentos nutritivos e acessíveis também tem
devastadoras conseqüências à
saúde, como o aumento da fome e da obesidade, que afeta
não só a comunidade latina,
mas também o bem-estar de toda o país", completa.
Desde 1996, uma lei aprovada pelo Congresso proíbe o governo de dar qualquer tipo de
assistência a imigrantes ilegais.
"Muitas famílias estrangeiras não entendem o sistema de
benefícios ou têm medo de serem deportadas por estarem
em situação irregular no país",
afirma Beatriz Otero, diretora
do Centro Nía, em Washington.
Estimativas do Departamento de Agricultura mostram que
cerca de 3 milhões de latinos
podem requerer o benefício do
"food stamp" por terem filhos
nascidos nos EUA, o que garante às crianças cidadania americana. Roberto Salazar, administrador do serviço de nutrição e comida da Agricultura,
disse à Folha que o número de
hispânicos participantes do
"food stamp" cresceu 50% entre 2000 e 2004, e que o governo faz campanhas nas comunidades para aumentar o percentual. Segundo diz, as principais
causas para baixa adesão dos
latinos ao programa são a "falta
de informação, confusão sobre
pré-requisitos e orgulho".
O relatório do Raza recomenda ao governo americano
um aumento do número de
meses de concessão do benefício e do valor máximo pago, hoje de US$ 518 (R$ 1.140). A média paga pelo programa é de
US$ 214 (R$ 470) por pessoa.
Brasileiros
Procurado pela Folha, o
Consulado do Brasil em Nova
York disse não ser possível
conceder benefícios do Bolsa
Família a brasileiros no exterior. As representações diplomáticas podem dar dinheiro
para sobrevivência, em geral
em casos de repatriação.
Estatísticas do próprio consulado, já defasadas, mostram
1,2 milhão de brasileiros nos
EUA. A maioria vive ilegalmente nas regiões de Nova York,
Boston, Miami, Los Angeles e
Chicago, nessa ordem.
Dos 300 milhões de habitantes dos EUA, cerca de 37 milhões nasceram fora do país,
segundo o Censo. Um terço deles (ou 12,3 milhões) é do México. Entre os ilegais, 56% são
mexicanos. Um imigrante ganha hoje, em média, US$ 1.200
(R$ 2.640) por mês por serviço
de limpeza e atendimento (garçom). O valor é 7,5 vezes maior
que o salário mínimo brasileiro, de R$ 350.
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