São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

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Raúl diz que não imitará estilo de Fidel

General afirma que irmão é "insubstituível", defende decisões colegiadas e declara a universitários que eles não devem temer debate

Dirigente cubano diz que cúpula do governo "está concluindo seu dever" e que é preciso abrir espaço aos poucos às novas gerações

"Science"
Raúl no encontro de estudantes, quando falou pela primeira vez sobre seu estilo de gestão


DA REDAÇÃO

Cinco meses depois de assumir interinamente o poder em Cuba, o general Raúl Castro afirmou que não pretende imitar o estilo de governo de seu irmão Fidel e delineou seu próprio estilo de liderança como baseado em decisões descentralizadas e colegiadas.
As afirmações foram feitas em discurso durante congresso da Federação Estudantil Universitária, na noite de anteontem, em Havana, e reproduzidas ontem pelo diário estatal cubano "Granma".
As declarações ocorrem ainda às vésperas da reunião da Assembléia Nacional, que começa hoje e na qual será definido o programa de governo de 2007. A sessão deve ser presidida por Raúl.
"Quando alguém tenta imitar, fracassa", disse Raúl. "Fidel é insubstituível, a menos que o substituamos todos nós juntos, cada um em seu lugar." E acrescentou: "O substituto [de Fidel] só pode ser o Partido Comunista de Cuba."
Raúl afirmou que, desde que assumiu o poder, estabeleceu que "não tinha de fazer todos os informes nem falar em todos os atos". "Essa é a linha que devemos seguir. Os discursos se discutem com os quadros mais envolvidos com o tema."
"Quanto mais se discute, quanto mais discrepâncias, sempre sairão as melhores decisões", acrescentou, explicando a seguir seu modo de atuação como comandante das Forças Armadas.
"O primeiro princípio na construção de quaisquer Forças Armadas é um comando único. Mas isso não significa que não podemos discutir", afirmou. "Comigo participam uma bateria de 12 generais de uma ou mais estrelas. Todos opinam, todos discutem e no final, se vejo que não há um consenso verdadeiramente majoritário, não se chega a nenhuma conclusão, se não for urgente."
Segundo o "Granma", ele pediu aos universitários "que desenvolvam sem medo o exercício do debate, da análise e da divergência".
Raúl assumiu o poder interinamente em 31 de julho, quando o ditador Fidel Castro, no poder desde 1959, foi afastado após sofrer uma cirurgia no intestino.
Não se conhecem detalhes sobre o problema de saúde de Fidel. Há informações de que sua doença é terminal e de que ele está à beira da morte.
A última vez em que foram divulgadas imagens de Fidel foi em outubro. Ele tampouco participou do desfile militar em Havana que comemorou ao mesmo tempo seus 80 anos e o 50º aniversário do desembarque do grupo de guerrilheiros que conquistaria o poder.
O ditador fez aniversário em 13 de agosto, mas as comemorações foram postergadas, na esperança de que a melhora de seu estado permitisse sua participação.

Renovação
No discurso de anteontem, Raúl também falou da necessidade de renovação da cúpula cubana. "Queiramos ou não, estamos concluindo o cumprimento do nosso dever, e é preciso abrir passo paulatinamente às novas gerações", disse Raúl, 75.
Segundo um diplomata europeu ouvido pela agência Efe, o discurso confirma as indicações de que Raúl "está tomando as rédeas do governo".
"Este é apenas mais um sinal de que Raúl tem um estilo diferente e poderia dar uma direção diferente", disse o analista Phil Peters, do Lexington Institute, de Washington, que acompanhou uma delegação de dez congressistas a Cuba na semana passada.
"Já se sabe que ele não é alérgico à reforma econômica. Ele parece estar dizendo que, sob sua liderança, ninguém será penalizado por uma opinião diferente. Acho que muitos cubanos reagiriam a isso cautelosa, mas positivamente", afirmou.
Em discurso nas comemorações de 2 de dezembro, Raúl propôs a abertura de um diálogo com os EUA para "normalizar as relações".
"Está claro que isso [o diálogo] ocorrerá se eles [os EUA] aceitarem nossa condição de país que não tolera dúvidas quanto a sua independência, e que as negociações tenham como base os princípios de igualdade, reciprocidade, não-ingerência e respeito mútuo."
Washington e Havana não mantêm relações diplomáticas, e há 45 anos Cuba está submetida a um embargo comercial.


Com agências internacionais

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