São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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CRISE
Noboa diz que manterá dolarização e que tem apoio dos militares; presidente deposto reconhece novo governo
Vice assume Presidência no Equador

France Presse
Gustavo Noboa após assumir o poder em sede militar em Quito


das agências internacionais

O vice-presidente do Equador, Gustavo Noboa, disse ontem em Quito que estava assumindo a Presidência do país com o apoio das Forças Armadas e da polícia.
"Pelas leis da Constituição, me vejo obrigado a assumir a Presidência do Equador", disse Noboa em entrevista coletiva na sede do comando das Forças Armadas.
A base legal para a posse de Noboa era incerta, já que Jamil Mahuad não havia renunciado como presidente no momento do anúncio de seu vice, apesar de ter dito mais tarde que não faria nada para impedir que ele exerça a Presidência (leia texto ao lado).
Noboa disse que continuaria os planos de Mahuad de modernização econômica e manteria a dolarização da economia anunciada em 9 de janeiro para tentar tirar o país de grave crise.
O anúncio de Noboa ocorreu após o general Carlos Mendoza, ministro interino da Defesa até anteontem e chefe do comando militar, ter renunciado de um triunvirato que se declarou a cargo do governo na noite de sexta-feira, após Mahuad ter deixado o palácio presidencial em Quito.
O triunvirato era formado por Mendoza, pelo líder indígena Antonio Vargas e pelo ex-membro da Suprema Corte Carlos Solorzano e foi formalizado no palácio do governo.
Líderes indígenas, que realizaram grandes manifestações pela deposição de Mahuad e tomaram o Congresso com a ajuda de setores do Exército na sexta-feira, disseram que não apoiarão Noboa e prometeram manter seus protestos por direitos indígenas e contra a dolarização. Mas eles concordaram em desocupar o prédio do Parlamento na manhã de ontem.
A posse de Noboa foi ratificada pelo Congresso, em sessão realizada no prédio do Banco Central em Guayaquil, a segunda cidade do país. Os deputados consideraram que Mahuad "abandonou o poder" e que, por isso, a posse de Noboa era legítima.
A rebelião popular aliada aos setores golpistas das Forças Armadas encerraram 17 meses de governo Mahuad marcados por problemas econômicos crônicos, incluindo inflação, recessão, desemprego e aumento da pobreza.
A comunidade internacional reagiu contra tentativas golpistas. Os EUA disseram que um golpe traria "consequências desastrosas". O Brasil e outros países da região pediram que a ordem constitucional fosse mantida. A Argentina divulgou comunicado ontem, em nome do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e dos associados Bolívia e Chile, expressando "grave preocupação por uma eventual alteração da ordem constitucional".
Guayaquil sofreu uma onda de saques e vandalismo anteontem, com cerca de cem estabelecimentos incendiados, disse a polícia. Em Quito, os distúrbios de anteontem deixaram ao menos 13 feridos, segundo a Cruz Vermelha. Não foram registrados distúrbios na manhã de ontem.



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