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GUERRA SEM LIMITES
Terroristas controlam pelo medo e pela religião fronteira de 800 km entre Paquistão e Afeganistão
Bin Laden se protege em terra de ninguém
CARLOTTA GALL
E MOHAMMAD KHAN
DO "NEW YORK TIMES", EM PESHAWAR
O Exército do Paquistão começou a atuar há dois anos em regiões tribais de fronteira com o
objetivo de localizar e combater
membros da Al Qaeda e outros
terroristas estrangeiros. Hoje, porém, autoridades paquistanesas
que conhecem a região dizem que
a campanha militar se encontra
atolada, a administração política
local é impotente e os terroristas
estão mais fortes do que nunca.
Acredita-se que Osama bin Laden, que na semana passada divulgou nova fita com ameaças aos
Estados Unidos, e seu adjunto,
Ayman al Zawahiri, estão vivendo
em algum ponto dos sete distritos
que compõem essas áreas tribais,
que se estendem por mais de 800
quilômetros ao longo da inóspita
fronteira do Paquistão com o Afeganistão e que, nas últimas semanas, foram atingidas por ataques
de mísseis americanos.
Os representantes paquistaneses dizem que possivelmente centenas de estrangeiros vindos de
países árabes, da Ásia Central e do
Cáucaso se juntaram a Bin Laden.
Jornalistas estrangeiros não têm
acesso às áreas tribais, mas os representantes paquistaneses e alguns ex-moradores da região, que
não quiseram se identificar por
medo de represálias, disseram
que os terroristas hoje fazem sua
própria justiça, mantêm suas próprias prisões, assaltam bancos,
lançam morteiros contra complexos militares e do governo civil e
atacam comboios livremente.
Eles estariam recrutando homens das tribos locais e controlando a população através de um
misto de medo e religião.
O general Shaukat Sultan, porta-voz principal das Forças Armadas do Paquistão, estimou o número de extremistas estrangeiros
na área em cerca de cem.
Mas as autoridades e os moradores dizem que eles são em número bem maior e que lançaram
uma campanha de terrorismo
destruidor, especialmente no Uaziristão Norte e Sul: no último
ano, segundo jornalistas locais,
108 líderes tribais favoráveis ao
governo, quatro ou cinco funcionários, informantes e dois jornalistas foram assassinados.
Segundo as autoridades, agentes da Al Qaeda seriam a força que
move os extremistas locais. O grupo conseguiu isso apesar da ação
adotada pelas forças americanas,
que pressionam desde o lado afegão da fronteira. Nas últimas seis
semanas houve três ataques americanos na região, desferidos com
mísseis disparados de aviões Predator, manejados por controle remoto e operados pela CIA. Mas
não está claro se esses ataques foram expressão da frustração americana ou se foram lançados em
função de informações recebidas.
Apesar de o governo negar, informantes dizem que os ataques
podem ter contado com o apoio
tácito do governo paquistanês,
que os criticou apenas pró-forma.
O ataque mais recente foi lançado em Bajaur, em 13 de janeiro. A
ação deixou até 18 civis mortos,
mas pode também ter provocado
a morte de vários membros de alto escalão da Al Qaeda.
A Associated Press informou
que, no sábado, o presidente Pervez Musharraf disse ao subsecretário de Estado dos EUA, Nicholas Burns, que o ataque de 13 de janeiro "não deve se repetir".
Bajaur não está tão fora de controle quanto o Uaziristão Norte e
Sul, mas se transformou em posto
de passagem para combatentes
que entram e saem da província
afegã de Kunar, onde nos últimos
12 meses as forças americanas encontram resistência acirrada.
A unidade de propaganda da Al
Qaeda tem produzido vídeos
mostrando combatentes afegãos
sendo treinados por um comandante árabe e montando emboscadas contra soldados e comboios
americanos em Kunar. De acordo
com o governador de Kunar, Asadullah Wafa, os afegãos sabem de
dois comandantes árabes que
combateram as forças soviéticas e
que permaneceram em Bajaur.
A polícia afegã de fronteira disse
que tomou conhecimento de uma
reunião realizada numa mesquita
de Bajaur, seis meses atrás, entre
membros do Taleban afegão, um
grupo liderado pelo comandante
mujahidin renegado Gulbuddin
Hekmatyar, do Afeganistão, e os
árabes, durante a qual eles teriam
feito a partilha da responsabilidade pelas ações insurgentes.
Os militares paquistaneses vêm
agindo com mais cautela quando
emergem de suas bases no Uaziristão Norte e Sul, e a administração civil é tão carente de funcionários que o mais alto representante do governo no Uaziristão
Sul nem sequer vive na região.
Tradução de Clara Allain
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