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UMA VISÃO PRÓ-PINOCHET
Advogado diz que o ex-ditador não pode ser responsabilizado por crimes ocorridos logo após o golpe de 73
Livro culpa "caos" por mortes no Chile
OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local
O ex-ditador chileno Augusto Pinochet, 83, "não é culpado" pelas
violações aos direitos humanos
ocorridas nos primeiros meses
após o golpe militar, em 1973. É o
que diz o chileno Hermógenes Pérez de Arce, autor de um recém-lançado livro sobre o período.
Segundo o advogado e colunista
do jornal chileno "El Mercurio", as
mortes e os desaparecimentos no
período, um dos mais violentos do
regime militar no Chile (1973-90),
ocorreram "espontaneamente"
devido a rivalidades entre grupos
opostos, num momento de divisão
política.
"Pinochet não é santo, mas não é
culpado. Sua responsabilidade foi
a de não ter agido energicamente
na defesa de seus adversários", diz
Pérez de Arce, 63.
Os militares depuseram, em 11 de
setembro de 1973, o então presidente Salvador Allende, eleito em
1970 numa coalizão integrada pelos partidos Socialista e Comunista. Nos anos que se seguiram, houve ações armadas por parte de grupos de esquerda.
O livro "Europa versus Pinochet:
Processo Indevido" (edit. El Roble,
154 págs.) foi lançado no Chile no
final de dezembro. No momento, o
autor negocia sua publicação no
Reino Unido e na Espanha.
Folha - Qual é o objetivo do livro?
Hermógenes Pérez de Arce
-Apresento um relato histórico do
que acontecia no Chile em 1973
(ano do golpe militar), a partir de
testemunhos feitos ao longo dos
anos por pessoas que não fizeram
parte do governo militar. No Chile, houve uma lavagem cerebral,
pois à esquerda não interessa toda
a verdade. Muitos chilenos, ao ler
o livro, se surpreendem. "Eu não
sabia disso", dizem.
Já na Europa, não se sabe praticamente nada. A visão que se tem sobre o Chile é formada pela Anistia
Internacional (entidade pró-direitos humanos sediada em Londres),
que armou todo o esquema que levou à detenção de Pinochet.
Folha - Quais os principais pontos de sua argumentação?
Pérez de Arce - Mostro que existiam, no Chile dos anos 70, grupos
armados de esquerda com grande
poder militar. O que ocorreu na
época do golpe não foi uma perseguição a grupos políticos, mas a
grupos armados. Também analiso
o tema dos desaparecidos políticos, que são cerca de mil. Mostro
que alguns desapareceram na Argentina, sem provas de intervenção chilena. Mas há cerca de 800
que efetivamente desapareceram.
Quase a metade, cerca de 380, desapareceu entre 11 de setembro de
1973 (data do golpe) e o mês de dezembro do mesmo ano, em ações
que não tiveram nenhuma conotação de estratégia de governo.
Folha - Como assim?
Pérez de Arce - O país estava dividido e havia muita rivalidade.
Muitos dos que desapareceram haviam participado de atos de violência durante o governo Salvador
Allende. É o caso, por exemplo, de
camponeses que haviam tomado
terras e acabaram eliminados por
policiais ou fazendeiros.
Folha - No dia do golpe, milhares
de pessoas foram detidas num estádio de Santiago. Os militares
também não estavam a par disso?
Pérez de Arce - É verdade. Mas,
depois, os detidos foram liberados
ou submetidos a processo. Houve
um número de pessoas fuziladas.
Mas as circunstâncias não estão
claras. Havia um caos bastante
grande. Entre setembro e dezembro de 73, 82 militares morreram
nas mãos de elementos armados.
Eles estavam sob ameaça e a resposta pode ter sido excessiva.
Folha - Segundo pesquisa publicada pela revista "Qué Pasa", 55%
dos chilenos consideram que Pinochet tem toda a responsabilidade
ou a maior parte da responsabilidade pelas violações, enquanto
20% dizem que ele tem pouca ou
nenhuma responsabilidade. Qual é
a responsabilidade do general?
Pérez de Arce - Eu diria que ele
foi responsável por não ter sido
mais enérgico na defesa de seus adversários. Mas a mentalidade no
Chile, em 1973, era que os militares
estavam salvando o país do caos e
do comunismo. Pinochet não foi
um santo, mas não podemos julgar
fatos ocorridos há 25 anos com critérios de hoje.
Folha - Como assim?
Pérez de Arce - Há 25 anos, o tema dos direitos humanos quase
não existia. Hoje os critérios e padrões éticos são muito mais claros.
É bom que seja assim, mas não podemos aplicar essa ética a fatos
ocorridos há 25 anos.
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