São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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ELEIÇÕES NOS EUA

Advogado, que tirou votos dos democratas no último pleito, diz que vai combater "governo corporativo"

Decisivo em 2000, Nader lança candidatura

DA REDAÇÃO

Ralph Nader, cuja candidatura às eleições presidenciais de 2000 teria, segundo os democratas, favorecido a eleição do republicano George W. Bush, anunciou ontem que vai tentar novamente chegar à Casa Branca neste ano.
Ignorando os apelos do Partido Democrata para permanecer fora da disputa, Nader, que se lançou como candidato independente, afirmou que deseja desafiar o controle dos dois partidos sobre o processo político e sua dependência dos interesses corporativos.
"Washington é um território ocupado pelas corporações, e os dois lados estão competindo ferozmente para ver quem vai chegar à Casa Branca e receber ordens dos responsáveis pelos pagamentos corporativos", disse Nader no programa "Meet the Press", da rede de TV NBC.
Ele afirmou que as queixas de que sua candidatura dificultaria os esforços para derrotar Bush em novembro foram uma tentativa "desdenhosa" de restringir a democracia e de manter o que chamou de "duopólio de partidos".
Advogado especializado na defesa de consumidores, Nader também disse ser "uma ofensa negar uma oportunidade de voto a milhões de pessoas" que podem querer apoiar sua candidatura. Ele também acrescentou que o "governo corporativo" praticado por ambos os partidos levou a um recuo nos índices econômicos, trabalhistas e ambientais.
"O país tem mais problemas e injustiças do que merece. É hora de mudar a equação e trazer para a arena política milhões de americanos", completou.
O Partido Verde, de Nader, obteve cerca de 2,9 milhões de votos em 2000 e foi acusado pelos democratas de ter subtraído votos de Al Gore -particularmente na Flórida, onde Nader conseguiu 97.488 votos. A derrota de Gore no Estado -por apenas 537 votos- custou-lhe a Presidência.
Nader inaugurou, em 2003, um comitê para levantar dinheiro para uma possível campanha presidencial. Ele havia descartado um outro convite do Partido Verde, que estava dividido em relação à sua candidatura. "Decidi concorrer à Presidência como candidato independente", disse.
Uma pesquisa de opinião realizada em outubro apontava que dois terços dos norte-americanos não desejavam que Nader concorresse novamente. Democratas de todos os espectros ideológicos pediram-lhe que se mantivesse fora da disputa eleitoral e, desse modo, atingisse diretamente a candidatura de Bush.
"Diferentemente do que ocorreu em 2000, agora não há nenhuma necessidade de uma voz progressista alternativa, pois temos candidatos progressistas nas primárias que desafiarão as tendências à direita dentro do próprio Partido Democrata", afirmou Al Sharpton, um dos pré-candidatos democratas.
Estes esperam que a candidatura de Nader tenha um impacto menor neste ano do que teve em 2000. Eles acreditam que o partido e os ativistas de esquerda tenham percebido que Nader estava errado em 2000, quando afirmou que não havia diferença entre os dois grandes partidos.
"Não creio que ele venha a ter um impacto considerável [na disputa], mas será terrível se ele for adiante, pois isso diz respeito a ele, a seu ego, à sua vaidade, não a um movimento", afirmou ontem à rede de TV Fox News o governador do Novo México, Bill Richardson, cotado para ser o vice de John Kerry caso ele seja o candidato democrata.
Kerry havia afirmado, no sábado à noite, que não temia que uma eventual candidatura pudesse afetar seu desempenho diante de Bush. "Penso que a minha campanha está tocando em uma série de questões com as quais Nader também está preocupado."


Com agências internacionais


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