São Paulo, terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

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Cristina alfineta Londres em cúpula regional

Presidente argentina diz que questão das Malvinas é exemplo de distorção do direito internacional no âmbito da ONU

Os que, como o Reino Unido, têm vaga fixa no Conselho de Segurança podem violar as disposições da ONU, que outros têm de cumprir, diz ela

Eduardo Verdugo/Associated Press
A presidente argentina, Cristina Kirchner, e seu colega mexicano, Felipe Calderón, que acena antes de reunião na cúpula de Cancún

FABIANO MAISONNAVE
SIMONE IGLESIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A CANCÚN (MÉXICO)

A presidente Cristina Kirchner aproveitou o primeiro dia da cúpula da Calc (Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe) para capitalizar o apoio regional na crise diplomática com o Reino Unido em torno da prospecção de petróleo nas ilhas Malvinas, cuja soberania é reclamada historicamente pela Argentina.
"Agradeço profundamente em nome do meu país o apoio que temos recebido neste fórum, no que diz respeito a nossos direitos legítimos sobre as ilhas Malvinas", disse, na abertura da cúpula. O discurso não foi transmitido, mas uma cópia impressa foi distribuída em seguida por sua assessoria.
"A questão Malvinas pode ser vista como um exemplo claro do que ocorre, em matéria de direito internacional, onde os que têm um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU podem violar uma e mil vezes, sistematicamente, as disposições das Nações Unidas, enquanto o resto dos países se vê obrigado a cumpri-las", declarou ela.
Anteontem, representantes diplomáticos dos 32 países que participam do encontro aprovaram preliminarmente duas resoluções de apoio à Argentina. Uma delas exorta o Reino Unido a respeitar a resolução 3.149 da Assembleia Geral da ONU, que recomenda aos dois países não "adotarem decisões que envolvam a introdução de modificações na situação" das Malvinas enquanto a disputa não for resolvida.
A resolução ainda deve ser aprovada pela cúpula, que termina hoje e deve anunciar a criação de uma entidade -até ontem sem nome definido- reunindo os países da América Latina e do Caribe.
Cristina descartou um novo conflito bélico com o Reino Unido e chamou de um "exercício de cinismo" declarações recentes do governo britânico de que há um temor de uma nova guerra em torno das Malvinas, como a ocorrida em 1982.
Apesar dos protestos argentinos, a empresa petroleira britânica Desire anunciou ontem que já começou a prospecção de petróleo a cerca de 100 km ao norte das Malvinas. A operação deve durar cerca de 30 dias.
A organização da cúpula tem restringido o acesso da imprensa. Apenas o discurso de abertura do presidente mexicano, Felipe Calderón, foi transmitido. Até o fechamento desta edição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não havia falado no encontro.
Para evitar acesso dos repórteres ao resort Grand Velas, onde ocorre a cúpula, há um muro e foi colocada uma grade que avança para dentro do mar caribenho. A 100 metros do muro, há reforço policial com metralhadoras.
Estão em Cancún 25 presidentes dos 33 que integram a Calc, hospedados em suítes localizadas à beira da praia, com spa e campo de golfe.
Ontem à noite seria o único momento da cúpula em que os presidentes deixariam o hotel.
Foi agendado um jantar no Parque Ecológico Xcaret, espécie de Disney World mexicana. Eles serão levados em ônibus blindado. Trata-se de um parque com tubarões e golfinhos, caverna de morcegos e até uma fazenda onde é permitido colher cogumelos.


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