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Conflito diplomático também visa público interno, diz analista
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
A escalada da tensão entre
Argentina e Reino Unido acerca da prospecção de petróleo
nas ilhas Malvinas é funcional
às necessidades de ambos os
governos, que enfrentam dificuldades internas. Também se
explica pelo declínio nas reservas do recurso nos dois países.
A avaliação é do ex-secretário de Energia da Argentina Daniel Montamat (1999 a 2000),
crítico da política energética
dos anos Kirchner -governos
Néstor (2003-2007) e Cristina.
Para Montamat, o decreto de
Cristina do último dia 16, que
impôs controles à navegação
com destino às ilhas ou proveniente delas, é puramente político, já que, na prática, não inviabiliza a exploração na região.
"O material para esse trabalho
chega por águas e portos não
argentinos, o que encarece mas
não impede a prospecção", diz.
Com popularidade em baixa,
arrastada por problemas como
inflação e conflitos setoriais,
Cristina, afirma Montamat,
procura agitar uma bandeira
-a da soberania sobre as
ilhas- que é consenso no país.
Para o analista, o discurso
nacionalista também cai bem
ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que ainda
passa faturas pela crise econômica e vê a oposição conservadora a ponto de vencer as eleições deste ano, após 12 anos de
poder do Partido Trabalhista.
Embora não haja confirmação de jazidas de petróleo e gás
nas águas das Malvinas, só a
promessa de novas fontes já alimenta a disputa, dado que as
reservas da Argentina e do Reino Unido estão em declínio -a
produção britânica de petróleo
e gás cai 5% ao ano, e as reservas argentinas estão 34% abaixo do patamar dos anos 90.
Informes sobre o potencial
petrolífero das ilhas falam de 3
bilhões a 60 bilhões de barris.
As reservas comprovadas do
Reino Unido e da Argentina são
de, respectivamente, 3,4 bilhões e 2,6 bilhões de barris.
"Se as reservas chegam ao
mínimo de 3 bilhões de barris,
já é algo apetecível para todos",
diz Montamat. Os cálculos sobre as reservas do pré-sal brasileiro, por exemplo, vão de 15 bilhões a 80 bilhões de barris.
Empresas britânicas prospectaram petróleo na região
em 1998, mas a exploração foi
vista como não lucrativa. Agora, novos estudos e o barril a
US$ 70 levaram a pequena Desire Petroleum a alugar uma
plataforma, que depois será
usada por mais três empresas.
A eventual confirmação de
reservas na região terá consequências geopolíticas, diz o
analista, pois o afluxo de royalties para as ilhas facilitaria a
mudança de seu status colonial
para "Estado livre associado",
confirmando a política britânica de autossuficiência para as
ilhas e complicando a reivindicação argentina por soberania.
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