São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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ORIENTE MÉDIO

200 mil vão ao funeral de xeque Yassin, morto por míssil em Gaza; grupo palestino promete vingança

Israelenses matam o maior líder do Hamas

DA REDAÇÃO

Israel matou ontem, num ataque aéreo, o principal líder do grupo terrorista islâmico Hamas, o xeque Ahmed Yassin. Ele foi atingido ao sair, em sua cadeira de rodas, da mesquita onde havia feito suas orações matinais, em Gaza. Outras sete pessoas morreram e cerca de 20 ficaram feridas, incluindo dois filhos do xeque.
Yassin -que tinha 67 anos, segundo algumas fontes- é o mais proeminente palestino a ser assassinado por Israel nos três anos de Intifada (levante palestino).
O Hamas prometeu se vingar. "Sharon abriu os portões do inferno e nada irá nos impedir de decepar sua cabeça", disse a liderança do grupo em comunicado transmitido por meio de alto-falantes da mesquita. Abdel Aziz Rantisi, um dos principais líderes do Hamas, disse que "Yassin era um homem em uma nação e uma nação em um homem, e a retaliação dessa nação será do tamanho desse homem".
Líderes árabes e europeus condenaram a ação. Para os EUA, Israel tem o direito de se defender, mas deve estar ciente das conseqüências de seus atos.
Mais de 200 mil pessoas foram ao funeral de Yassin. Muitos palestinos carregavam bandeiras do Hamas e entoavam gritos pedindo revanche em um dos maiores protestos da história de Gaza. Milhares de palestinos também saíram às ruas na Cisjordânia. Israel estava em estado de alerta máximo, temendo uma resposta do Hamas. As passagens para a Cisjordânia e para Gaza, ocupadas na guerra de 1967, foram fechadas.
O premiê israelense, Ariel Sharon, que monitorou por telefone toda a operação, disse que o líder do Hamas era "o mentor do terror palestino" e "um assassino em massa que está entre os maiores inimigos de Israel". Segundo Sharon, Israel seguirá adiante na luta contra o terror, e haverá mais "assassinatos seletivos".
Yassin sempre saudou as ações do Hamas contra civis israelenses, porém dizia que não tinha envolvimento com o terrorismo.
O Hamas é responsável por dezenas de atentados que mataram centenas de civis israelenses nos últimos anos e defende a destruição do Estado de Israel e a instalação de um Estado único islâmico.
O chanceler de Israel, Silvan Shalom, que está em Washington, disse que os EUA não tinham conhecimento prévio da operação. O suposto envolvimento americano provocou uma inédita ameaça do Hamas de atacar alvos americanos. Até agora, o grupo insistia que apenas israelenses seriam alvos e que não se envolveria em outras partes do mundo.
A Autoridade Nacional Palestina disse, em nota, que "Israel ultrapassou todos os limites com esse crime sujo" e declarou três dias de luto. O premiê palestino, Ahmed Korei, classificou Yassin como um "grande líder".
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, que via em Yassin um rival, mas sempre evitou confronto, disse que o dirigente do Hamas morreu como "um mártir". Alguns dos assessores de Arafat afirmaram que ele estava com medo de ser o próximo alvo de Israel. O chanceler Shalom, porém, disse que Arafat não será um alvo, por enquanto. Segundo ele, Israel vai se concentrar nos grupos terroristas.
A ação israelense ocorre em meio a uma escalada da violência na região, que começou com um duplo atentado no porto de Ashdod, dia 14, no qual dez israelenses morreram. Em resposta, o governo decidiu lançar uma ampla ofensiva contra o Hamas e outros grupos terroristas palestinos, na qual os principais alvos seriam os líderes das organizações.
Desde a semana passada, autoridades israelenses já diziam que Yassin era um possível alvo. Mas o líder do Hamas não alterou a sua rotina. Em setembro, o xeque já havia escapado por pouco de um ataque de Israel.
Analistas afirmam que o objetivo do governo Sharon é enfraquecer o Hamas antes de implementar o plano de remoção de assentamentos judaicos na faixa de Gaza. Desse modo, o grupo não seria visto como vencedor em uma provável retirada israelense, como o Hizbollah clamou após a saída de Israel do sul do Líbano.


Com agências internacionais


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