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ANÁLISE PALESTINA
Sharon age contra
o Hamas antes de
se retirar de Gaza
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Ao matar o xeque Ahmed Yassin, fundador do grupo terrorista
Hamas e importante líder religioso e político da faixa de Gaza, o
premiê Ariel Sharon quer mostrar
que está agindo contra o terrorismo enquanto, ao mesmo tempo,
prepara a retirada unilateral do
Exército israelense do território
palestino ocupado por Israel.
"Israel teme que, se o Hamas
passar por vencedor e, eventualmente, assumir o controle sobre
Gaza, crescerá a pressão para que
o Exército também abandone a
Cisjordânia", disse o palestino
Said Zeedani, 54, diretor-geral da
Comissão Independente Palestina para os Direitos dos Cidadãos.
Professor licenciado de filosofia
da Universidade Al Quds, em Jerusalém oriental (árabe), Zeedani
prevê mais violência e um enfraquecimento da Autoridade Nacional Palestina frente ao Hamas.
Leia entrevista à Folha, por telefone, de Ramallah (Cisjordânia).
Folha - Há uma relação direta entre o atentado do Hamas no porto
de Ashdod no último dia 14, no
qual morreram dez israelenses, e a
decisão de Israel de matar o xeque
Yassin agora?
Said Zeedani - Temia-se em Israel a ocorrência de um ato terrorista de grandes proporções vindo
da faixa de Gaza. Imediatamente
após o atentado em Ashdod, o governo israelense resolveu fazer
uma série de ações na faixa de Gaza: decidiu atacar o Hamas em todos os lugares e em todos os níveis. A morte do xeque Yassin foi
o clímax. Essa ação está relacionada com a decisão do premiê Ariel
Sharon de retirar o Exército israelense de Gaza.
Folha - Por quê?
Zeedani - Sharon quer dar a impressão de que está saindo de Gaza porque é do interesse de Israel e não de que estaria fugindo diante
da pressão dos militantes palestinos, como uma força ocupante
derrotada. Há muito debate, em
Israel, sobre o precedente da retirada israelense do sul do Líbano,
pois a maneira como foi feita deu
ao Hizbollah a imagem de ter
triunfado. Os israelenses não querem repetir isso. Mas, mais importante, Israel teme que, se o Hamas passar por vencedor e, eventualmente, assumir o controle sobre Gaza, crescerá a pressão para
que o Exército israelense também
abandone a Cisjordânia.
Folha - Quais serão os resultados
dessa ação?
Zeedani - As emoções estão muito intensas, os militantes palestinos já ameaçaram se vingar e terão de fazer algo, pois todos esperam uma resposta. O que farão,
contra quem e quando, é difícil
saber. Isso levará a uma outra resposta por parte de Israel. Ou seja,
o ciclo da violência vai continuar.
Folha - Que conseqüências a morte de Yassin terá para a Autoridade
Nacional Palestina?
Zeedani - A ANP foi muito destruída e está quase sem poder de
fazer alguma coisa, principalmente na faixa de Gaza. A conseqüência direta será o fortalecimento do
Hamas, pois o xeque Yassin era
muito popular. Em tempos de
violência, são os mais radicais que
ganham apoio, porque eles apelam para as emoções e não para a
razão, para os sentimentos de vingança em vez de compromissos
políticos. Pelo menos no curto
prazo, a ANP sairá enfraquecida.
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