São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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ARGENTINA

Decisão ocorre na véspera dos 30 anos do golpe

Após escândalo de espionagem, Argentina abre arquivos militares

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, autorizou ontem o pleno acesso a documentos e bases de dados das Forças Armadas que ajudem as investigações de violações dos direitos humanos cometidas na última ditadura militar.
A decisão, anunciada na véspera de se completarem 30 anos do golpe militar de 24 de março de 1976, é uma reação ao escândalo provocado pela descoberta de que oficias de uma base da Marinha na província de Chubut espionavam funcionários do governo, políticos, sindicalistas e jornalistas.
Após ordenar busca e apreensão de arquivos em todas as unidades de inteligência da Marinha da Argentina, o juiz federal Jorge Pfleger, descobriu que ele próprio era um dos vigiados no esquema de espionagem ilegal da Força, descoberto na semana passada.
Nos papéis coletados em uma base na Província de Chubut (sul argentino), foram encontrados uma foto do juiz, apontamentos de suas aulas na universidade e observações sobre seu perfil ideológico: "liberal", "ambíguo", com "tendência social" e "defensor dos direitos humanos".
O escândalo, que já derrubou dois militares de alta patente da Marinha, começou com a denúncia de uma ONG, com base no depoimento de um oficial. O militar, agora testemunha, informou que na base Almirante Zar espionavam-se políticos, jornalistas e militantes de direitos humanos.
Desde 1992, as Forças Armadas estão proibidas de fazer serviços de inteligência internos. No material, havia dados sobre a ministra Garré e um arquivo extenso sobre um ex-funcionário do gabinete. A pasta abriu investigação.
Ontem foram apreendidos cinco computadores no Comando de Operações Navais de Puerto Belgrano, o maior da Marinha argentina, na Província de Buenos Aires. O governador de Chubut, Mario das Neves, afirmou que os relatórios produzidos na base Almirante Zar eram enviados ao comando. A ordem do juiz é rastrear a extensão da prática na "cadeia hierárquica" da Marinha.
Apesar da crise, o presidente Néstor Kirchner, que também estaria fichado no arquivo ilegal segundo políticos e o jornal argentino "Página 12", não fez declarações sobre o tema. Ontem, voltou a lembrar os desaparecidos na última ditadura. "O povo argentino diz presente pelos que não estão, pelos que deram a vida lutando pela democracia", disse ao lado da presidente do Chile, Michelle Bachelet, que fez sua primeira viagem internacional ao país.
É intenção da Casa Rosada explorar o aniversário do golpe, transformado em feriado a pedido do governo, como um marco da gestão.
Ontem, na Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos, Justiça e Relações Exteriores do Mercosul, o chanceler argentino, Jorge Taiana, propôs a criação de organismos que unifiquem a ação do bloco no tema.


Com agências internacionais

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