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ARGENTINA
Decisão ocorre na véspera dos 30 anos do golpe
Após escândalo de espionagem, Argentina abre arquivos militares
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, autorizou ontem o pleno acesso a documentos
e bases de dados das Forças Armadas que ajudem as investigações de violações dos direitos humanos cometidas na última ditadura militar.
A decisão, anunciada na véspera de se completarem 30 anos do
golpe militar de 24 de março de
1976, é uma reação ao escândalo
provocado pela descoberta de que
oficias de uma base da Marinha
na província de Chubut espionavam funcionários do governo, políticos, sindicalistas e jornalistas.
Após ordenar busca e apreensão de arquivos em todas as unidades de inteligência da Marinha
da Argentina, o juiz federal Jorge
Pfleger, descobriu que ele próprio
era um dos vigiados no esquema
de espionagem ilegal da Força,
descoberto na semana passada.
Nos papéis coletados em uma
base na Província de Chubut (sul
argentino), foram encontrados
uma foto do juiz, apontamentos
de suas aulas na universidade e
observações sobre seu perfil ideológico: "liberal", "ambíguo", com
"tendência social" e "defensor
dos direitos humanos".
O escândalo, que já derrubou
dois militares de alta patente da
Marinha, começou com a denúncia de uma ONG, com base no depoimento de um oficial. O militar,
agora testemunha, informou que
na base Almirante Zar espionavam-se políticos, jornalistas e militantes de direitos humanos.
Desde 1992, as Forças Armadas
estão proibidas de fazer serviços
de inteligência internos. No material, havia dados sobre a ministra
Garré e um arquivo extenso sobre
um ex-funcionário do gabinete. A
pasta abriu investigação.
Ontem foram apreendidos cinco computadores no Comando
de Operações Navais de Puerto
Belgrano, o maior da Marinha argentina, na Província de Buenos
Aires. O governador de Chubut,
Mario das Neves, afirmou que os
relatórios produzidos na base Almirante Zar eram enviados ao comando. A ordem do juiz é rastrear a extensão da prática na "cadeia hierárquica" da Marinha.
Apesar da crise, o presidente
Néstor Kirchner, que também estaria fichado no arquivo ilegal segundo políticos e o jornal argentino "Página 12", não fez declarações sobre o tema. Ontem, voltou
a lembrar os desaparecidos na última ditadura. "O povo argentino
diz presente pelos que não estão,
pelos que deram a vida lutando
pela democracia", disse ao lado da
presidente do Chile, Michelle Bachelet, que fez sua primeira viagem internacional ao país.
É intenção da Casa Rosada explorar o aniversário do golpe,
transformado em feriado a pedido do governo, como um marco
da gestão.
Ontem, na Reunião de Altas
Autoridades em Direitos Humanos, Justiça e Relações Exteriores
do Mercosul, o chanceler argentino, Jorge Taiana, propôs a criação
de organismos que unifiquem a
ação do bloco no tema.
Com agências internacionais
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