|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
entrevista
Pequim tenta "comprar" falta de autonomia
DE PEQUIM
Para o diretor do Centro
de Estudos Tibetanos Modernos da Universidade Columbia (Nova York), o britânico Robbie Barnett, a China
tenta compensar com investimentos pesados o que não
quer oferecer para as minorias étnicas: mais autonomia.
Ele também diz que boa parte do dinheiro que Pequim
investe nas Províncias acaba
ficando na mão de chineses
que foram "assentados" para
garantir a influência chinesa.
Leia trechos da entrevista
que ele deu à Folha, de Londres.
(RJL)
DINHEIRO CHINÊS
"A China até permite a
participação de locais nos governos das Províncias. Mas o
problema é que, como costuma acontecer no país, quem
detém o poder para valer é o
Partido Comunista. E a direção do partido nessas Províncias é de chineses enviados por Pequim, que normalmente nem conhecem o idioma local. São essas células do
PC que acabam decidindo
onde são colocados os investimentos, aonde o dinheiro
vai, então é comum que os
chineses han fiquem com os
melhores postos e os melhores negócios públicos."
SHOPPING EM LHASA
"O governo chinês tem investido muito nessas Províncias, há riqueza crescente,
com subsídios e incentivos.
Acham que vão comprar as
Províncias com desenvolvimento econômico e só. Não é
assim que funciona. Mesmo
tibetanos com boa situação
econômica estão descontentes. E não é todo mundo que
acha que progresso é ter um
shopping center na porta.
Certamente não em Lhasa."
ASSENTAMENTOS
"A China promoveu assentamentos de chineses em
Províncias onde as minorias
são maioria, com incentivos
e dando a terra de graça. Na
Mongólia Interior, 60% da
população de 23 milhões já é
formada por chineses, os
mongóis viraram minoria
em sua província. No Tibete,
isso não foi feito, mas ainda
assim a chegada de 20 mil
chineses em qualquer cidade
tibetana automaticamente
os transforma em maioria.
As minorias com mais problemas são justamente aquelas que tinham maior autonomia antes da Revolução
Comunista."
CONTRA RELIGIÃO
"Tem a questão religiosa
também. O governo tentou
suprimir a religião de qualquer maneira. No Tibete,
mesmo antes da Revolução
Cultural, 90% dos mosteiros
tinham sido fechados pelo
regime. Durante a revolução,
mosteiros foram destruídos,
monges, presos."
EROSÃO CULTURAL
"Não gosto do termo genocídio cultural, é muito forte.
Mas é certo dizer que houve
uma grande erosão cultural,
não só pela China, mas pela
globalização, pela modernização e por outros fenômenos mundiais. A China poderia fazer algo para preservar
essas culturas, mas não parece ter o menor interesse."
Texto Anterior: Candidato pró-China é eleito em Taiwan Próximo Texto: Religião: Bento 16 batiza jornalista italiano de origem islâmica Índice
|