São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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entrevista

Pequim tenta "comprar" falta de autonomia

DE PEQUIM

Para o diretor do Centro de Estudos Tibetanos Modernos da Universidade Columbia (Nova York), o britânico Robbie Barnett, a China tenta compensar com investimentos pesados o que não quer oferecer para as minorias étnicas: mais autonomia. Ele também diz que boa parte do dinheiro que Pequim investe nas Províncias acaba ficando na mão de chineses que foram "assentados" para garantir a influência chinesa. Leia trechos da entrevista que ele deu à Folha, de Londres. (RJL)


DINHEIRO CHINÊS
"A China até permite a participação de locais nos governos das Províncias. Mas o problema é que, como costuma acontecer no país, quem detém o poder para valer é o Partido Comunista. E a direção do partido nessas Províncias é de chineses enviados por Pequim, que normalmente nem conhecem o idioma local. São essas células do PC que acabam decidindo onde são colocados os investimentos, aonde o dinheiro vai, então é comum que os chineses han fiquem com os melhores postos e os melhores negócios públicos."

SHOPPING EM LHASA
"O governo chinês tem investido muito nessas Províncias, há riqueza crescente, com subsídios e incentivos. Acham que vão comprar as Províncias com desenvolvimento econômico e só. Não é assim que funciona. Mesmo tibetanos com boa situação econômica estão descontentes. E não é todo mundo que acha que progresso é ter um shopping center na porta. Certamente não em Lhasa."

ASSENTAMENTOS
"A China promoveu assentamentos de chineses em Províncias onde as minorias são maioria, com incentivos e dando a terra de graça. Na Mongólia Interior, 60% da população de 23 milhões já é formada por chineses, os mongóis viraram minoria em sua província. No Tibete, isso não foi feito, mas ainda assim a chegada de 20 mil chineses em qualquer cidade tibetana automaticamente os transforma em maioria. As minorias com mais problemas são justamente aquelas que tinham maior autonomia antes da Revolução Comunista."

CONTRA RELIGIÃO
"Tem a questão religiosa também. O governo tentou suprimir a religião de qualquer maneira. No Tibete, mesmo antes da Revolução Cultural, 90% dos mosteiros tinham sido fechados pelo regime. Durante a revolução, mosteiros foram destruídos, monges, presos."

EROSÃO CULTURAL
"Não gosto do termo genocídio cultural, é muito forte. Mas é certo dizer que houve uma grande erosão cultural, não só pela China, mas pela globalização, pela modernização e por outros fenômenos mundiais. A China poderia fazer algo para preservar essas culturas, mas não parece ter o menor interesse."


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