|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIREITO DE MORRER
Julgamento de Kevorkian, acusado de assassinato, começou ontem; médico já auxiliou o suicídio de 130 pessoas
"Dr. Morte" assume sua defesa em processo
MARCELO DIEGO
de Nova York
Um juiz de Michigan garantiu
ontem o direito do médico aposentado Jack Kevorkian, 70, o
"Doutor Morte", de fazer a própria
defesa no caso em que é acusado de
assassinato em primeiro grau de
Thomas Youk, 52, há dois anos.
Kevorkian é criador de uma máquina que permite a eutanásia
(prática de abreviar a vida de pacientes com doenças terminais).
Desde 1990, Kevorkian já teria ajudado cerca de 130 pacientes a se
matarem.
Em todas as ocasiões, a decisão
era do paciente -ele apertava um
botão que permitia a injeção de
substâncias letais em seu corpo.
Kevorkian já foi réu em dois processos de assassinato -ambos arquivados pela Justiça. Ele se vale
do argumento legal de que não
mata os pacientes. Todos os casos
acontecem como suicídio.
Com Youk, porém, foi diferente.
O paciente tinha um tipo de esclerose conhecida como mal de Lou
Gehrig. A doença é progressiva,
impedindo a vítima de falar, se alimentar ou se mover. Ela é fatal.
Kevorkian filmou a morte de
Youk, que aparece na fita concordando com os termos do procedimento por duas vezes. É o médico
que faz a aplicação do combinado
químico na veia de Youk. Toda a
cena é gravada em vídeo, até a
morte do paciente.
A fita foi enviada ao programa
jornalístico "60 Minutes", um dos
mais assistidos do país, e transmitida em rede nacional em setembro
do ano passado. Após a exibição,
Kevorkian desafiou os promotores
de Michigan a acharem qualquer
procedimento ilegal no ato.
O promotor do Estado David
Gorcyca aceitou o desafio e acusa o
médico de dois crimes: suicídio assistido e assassinato em primeiro
grau. Ele também afirma que o
porte do combinado químico que
permite a morte dos pacientes é
proibido por lei (sete anos de cadeia seria a pena).
Se condenado, Kevorkian pode
pegar prisão perpétua. Mesmo assim, ele vai se defender. "É o que eu
planejei", disse à juíza Jessica Cooper. Ela o advertiu da complexidade das leis norte-americanas e do
processo. "Eu não pretendo dizer
mais nada senão a verdade", ele
respondeu. "Há certos pontos que
posso explorar melhor do que
qualquer advogado", afirmou.
O julgamento, iniciado ontem,
deve demorar no mínimo seis dias.
A decisão será tomada por um júri
composto por 80 pessoas. Kevorkian responde ao processo em liberdade (pagou fiança de US$ 750
mil). A família de Youk está ao lado do médico. Eles classificaram o
ato de humanitário e uma vontade
declarada do paciente.
Kevorkian disse que eutanásia e
suicídio assistido não deveriam ser
considerados crimes e que, se for
preso, irá deixar de se alimentar
até morrer.
Texto Anterior: Ofensiva prossegue na região Próximo Texto: Caso Pinochet: Militar vê ameaça à transição no Chile Índice
|