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SOCIEDADE
Estatísticas e estilo de vida dos descendentes dos nativos se parecem com os do Terceiro Mundo
Aborígine vive pior que a média do país
KATHY MARKS
do "The Independent",
em Sydney
Eles são cidadãos do mesmo
país, mas poderiam estar vivendo
em planetas diferentes, tão diversas são suas condições e expectativas de vida.
A maioria dos australianos
-87% dos homens e 93% das
mulheres- pode prever que irá
viver mais de 50 anos. A não ser, é
claro, que tenham tido o azar de
nascer aborígines.
Menos da metade dos homens
aborígines (47%) e apenas 59%
das mulheres descendentes dos
nativos da região antes da colonização européia ultrapassam os 50
anos de vida.
Uma análise dos índices de
mortalidade dos anos 1995-97,
divulgada este mês pelo Birô Australiano de Estatísticas, oferece
evidências da existência de duas
Austrálias: a comunidade majoritária de origem ocidental ou asiática, cujos padrões de saúde são
típicos do Primeiro Mundo, e a
comunidade minoritária "terceiro-mundista", que se caracteriza
pela saúde deficiente e péssimas
condições de vida.
As desvantagens materiais começam no berço.
Os bebês aborígines têm três
vezes mais chances de morrer antes de completar 1 ano de vida;
em quase todas as outras faixas
etárias, os índices de mortalidade
dos aborígines são maiores do
que os dos outros australianos
-e também do que os de outros
povos indígenas, como os maoris
da vizinha Nova Zelândia ou os
índios norte-americanos.
De acordo com a autora do estudo, Joan Cunningham, as principais causas de morte entre os
aborígines adultos são doenças
circulatórias e respiratórias, diabetes, câncer e contusões ou ferimentos.
Cunningham constatou que a
maioria das mortes precoces pode ser atribuída à situação de desvantagem socioeconômica em
que vivem os aborígines. Para a
pesquisadora, os povos indígenas
sofrem desvantagens não apenas
em vida, mas também na morte.
Entre os aborígines e os habitantes nativos das ilhas do estreito de Torres, que compõem 2%
da população australiana total (19
milhões de pessoas), a maior diferença de expectativa de vida
ocorre na faixa dos 35 aos 54
anos, quando a incidência de
mortes é de seis a sete vezes maior
entre os indígenas australianos
do que nos outros setores da população do país.
Para Cunningham, os adultos
aborígines morrem de doenças
crônicas até 30 anos antes do que
os outros australianos. E muitos
morrem de doenças que podem
ser prevenidas.
O estudo constatou que os aborígines também correm risco
maior de ter uma morte violenta.
Nas comunidades indígenas, os
índices de morte por homicídio,
suicídio e ferimentos também são
substancialmente superiores aos
do resto da Austrália.
Suicídios
O índice de suicídio entre os
aborígines é 70% mais alto do que
no resto do país, no caso dos homens, e 40% entre as mulheres.
Mais de quatro vezes mais aborígines do que outros australianos
morrem em acidentes de carros, e
entre sete e oito vezes mais aborígines são assassinados.
A Associação Médica Australiana pediu ao governo que destine
mais verbas à saúde dos aborígines.
O presidente da associação, David Brand, afirmou que, no prazo
de poucas décadas, países como
Canadá, Estados Unidos e Nova
Zelândia conseguiram promover
grandes melhoras na saúde de
suas populações indígenas, ao
contrário do que ocorre na Austrália.
Um relatório divulgado em 1997
pela comissão de Direitos Humanos e Igualdade de Oportunidades constatou que, para milhares
de aborígines, a vida é feita de decomposição familiar, dependência de drogas e álcool, violência e
angústia mental, tudo isso exacerbado pela política de assimilação
que lhes foi imposta entre os anos
1920 e 1960, sob a qual milhares de
aborígines -a chamada "geração
perdida"- foram afastados de
suas famílias.
Tradução de Clara Allain
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